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A CHINA E O TERROR DOS MONOPOLISTAS (Couna Victor Dornas)

 
Por Victor Dornas 


O brasileiro acompanhou com afinco as lambanças das eleições americanas e um discurso muito comum entoado nos perfis simpáticos ao candidato republicano Trump era de que a sua eleição livraria o mundo de um “domínio chinês”. O primeiro incômodo trazido nesse tipo de argumentação é que, convenientemente, este inimigo do governo protecionista Trumpista é justamente o único país no mundo capaz de lhe oferecer alguma oposição, ou concorrência.

Nos ditos movimentos de mercado, sabe-se que há uma lei universal e imutável: Todos que adquirem o monopólio não admitem concorrência. É uma verdade extrapolada do egoísmo humano que se materializa no sucesso de um empreendimento. Nenhum monopólio aceita concorrência. No caso, ironicamente, os Estados Unidos foram superados pelo PIB chinês.

Há quanto tempo na geopolítica a maior economia do mundo não é ameaçada?

Por isso, ainda que a China tenha de fato questões controvertidas que não coadunam com os nossos valores ocidentais, faz-se necessário pontuar que toda crítica motivada por americanos deve ser encarada dessa forma, antes de tudo, ou seja, da fala de duas partes que compõe um litígio, ou o maior dos litígios da guerra econômica na geopolítica contemporânea.

Não se deve acreditar em tudo que é vendido neste fluxo de informações, uma vez que estamos muito mais antenados com as versões americanas das coisas do que com as orientais ou asiáticas. A maior parte dos “achismos”, ou modelos espectrais de ideologias políticas ideais (liberalismo, libertarianismo, social democracia) tudo isso é cria do próprio mundo ocidental.

Da mesma forma que a China sustenta setores cruciais da economia americana, como, por exemplo, o fornecimento de metais raros para a fabricação de tecnologia, nós aqui temos a China como o nosso principal cliente comprador de matéria-prima e outros tipos de produtos exportados. 

Aliás, outro discurso infeliz da manada Trumpista é que a eleição do republicano seria benévola ao Brasil, quando em verdade o protecionismo, nesses quatro anos, feriu ao menos uma dúvida de países e nós inclusos nisso. Isto é, não foi a China que sobretaxou nosso alumínio e sim os Estados Unidos. Não foi a China que sobretaxou o nosso aço e sim os Estados Unidos. Não foi a China que nos proibiu de vender aviões militares e sim os Estados Unidos.

A fragilização de uma economia “barreirista” e hostil, caso se concretize mesmo no governo Biden, provocará, de imediato, uma queda no dólar. Sendo o real, em parte, uma moeda lastreada no dólar isso talvez amenize um pouco o tombo do nosso recorde de desvalorização monetária, embora em termos de economia real, nada disso resolverá nossos problemas.

Outro fato controverso na lida da matilha Trumpista é que o republicano é vendido como um inimigo dos chineses, quando na prática, em seu governo, a China nunca cresceu tanto, uma vez que Trump fechou-se como um caramujo, preocupado com suas posses, contudo cessou o ritmo de sua própria economia em termos de exportação. Muito fechado em si mesmo, criou para a China um cenário ideal. Nada disso, entretanto, foi determinante nas eleições, uma vez que palavras como “lockdown” é que influenciaram mais os votos dos americanos.

A política imperialista americana, aquela que se intromete na soberania de outros países, sempre se defendeu argumentando que essa polícia global tinha por escopo maior o desenvolvimento e a modernização de países que muitas vezes massacram seus povos com a barbárie fundamentalista. Pois bem, a China, nos anos 90, experimentou o chamado socialismo de mercado e gostou. Modernizou-se e, num ritmo cada vez mais acelerado está limpando a sua sujeira. A ideia não era essa? Depende, pois a China foi além e está incomodando. 

Não era para crescer tanto assim, imagina o burocrata americano...

O Brasil, amargando números de desemprego cada vez mais graves, um local inóspito a ambientes de negócio, uma ignorância ímpar nas questões da quarta revolução industrial, a tecnologia da informação, se acha no direito de tecer críticas sobre a China. Por mais atraente que seja o discurso aos incautos, a prática, no entanto, nos coloca na situação de um dos países que mais decaiu em muitos aspectos que acusamos o governo chinês de falhar.

 Na questão do 5G, por exemplo, a despeito da interferência de figuras americanas no nosso mercado, a China exige apenas uma coisa: Ela quer participar das licitações. Isso não é uma questão determinante para a economia chinesa, com o maior PIB mundial, mas a contratação de um serviço como este, por razões ideológicas, atestaria que o Brasil de fato não entendeu nada do que está acontecendo no mundo. Um país perdido na fantasia e no caudilhismo.

Na geopolítica, pensa-se antes de tudo no próprio povo. Um governo ideologizado e subserviente não terá nenhuma chance de figurar num cenário competitivo.



(*) Victor Dornas - Colunista do Blog Chiquinho Dornas, fotos ilustração: Blog-Google. 

 

 

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