Brasília: urbanização polinucleada
*Por Aldo Paviani
Ao se referir à urbanização, em
Brasília, como “polinucleada”, ressalta-se que ela não se constituiu em uma
capital fechada, isto é, em um núcleo central com emendamento de bairros, sem
descontinuidade. A capital federal, antes mesmo da inauguração, em 1960, contou
com a cidade-satélite de Taguatinga, fundada em 1958. Após a implementação
dela, outros núcleos urbanos surgiram — Guará, Gama, Sobradinho e outros.
Acresça-se os anexos nas preexistentes Brazlândia e Planaltina. Todavia,
nota-se que os núcleos se distanciam uns dos outros e do próprio centro — Plano
Piloto de Brasília — com espaços de cerrado dando qualidade ambiental ao
aglomerado urbano.
Quanto aos rumos da urbanização: a
previsão e as possibilidades são de relativa estabilidade no quadro urbano. Há
leve conurbação no trio de RAs – Taguatinga/Ceilândia/Samambaia, pois não cabe
espraiar ainda mais a capital. Há, também, notícias sobre novo bairro por
detrás da rodoferroviária, pertencente à força militar, já com projeto para ser
desenvolvido. Cabendo, porém, saber se a meta é ter imóveis funcionais apenas
para militares ou se é contar igualmente com atividades e serviços básicos de
atendimento dos respectivos habitantes.
Para conter a continuidade da
dispersão dos bairros, a sugestão que se oferece é utilizar equipamentos e
infraestruturas existentes nos locais consolidados e neles permitir a
edificação vertical, estabelecendo o teto de, no máximo, 12 andares para
edifícios de moradia e de três andares para os prédios para serviços, comércio,
pequenas oficinas, sem prejuízo da qualidade socioambiental.
Além de levantar os aspectos
demográficos e ambientais para atender à demanda por novas habitações, um
aspecto deve ser atendido para o bem-estar de uma camada especial da população,
a dos idosos. Nas metrópoles nacionais, a pirâmide etária está se estreitando
na base (os jovens) e alargando-se nas faixas etárias acima de 60 anos
(população idosa). Consideramos assim que as metrópoles, em especial a Brasília
metropolitana, devem ser amigas dos idosos. Desse modo, contextualizamos que as
cidades devem atender às demandas dos habitantes de terceira idade, evitando a
destruição da identidade e cultura dos núcleos urbanos. Ver discussão sobre a
questão no artigo de nossa autoria: Cidades amigas dos idosos: metas a atingir,
publicado no caderno Opinião do Correio Braziliense (11/4/2018, pág. 9).
Enfatizando-se essas questões,
pode-se afirmar que a cidade é amiga dos idosos e demais necessitados de
adequação urbana, quando oferece as condições de mobilidade e de qualidade de
vida a eles. Não só aumenta a quantidade de idosos, como há redução do volume
da população jovem. A base das pirâmides etárias se estreita enquanto a parte
superior mostra ampliação, como referido. Em outras palavras, em algum momento
no futuro, o Brasil, cuja população idosa aumenta e a de jovens diminui, terá
uma redução da população economicamente ativa. A Fundação Seade (Sistema
Estadual de Análise de Dados), com base em relatório da Organização das Nações
Unidas (ONU)0, destaca que o número de pessoas, no mundo, com mais de 60 anos
em 2010, era de aproximadamente 600 milhões, devendo alcançar dois bilhões em
2050. A mesma Seade, em 2015, realizou projeções em que o envelhecimento é um
“processo progressivo na capital paulista”, pelo qual constatou que, em 2010,
havia “seis idosos para cada 10 jovens. Já, em 2030, chegaremos a 12 idosos
para cada 10 jovens e chegando a 21 idosos para cada 10 jovens em 2050”, isto
significará a inversão da pirâmide etária. Esse é um problema a ser equacionado
por políticas demográficas, nas quais o Estado brasileiro pouco interfere,
ficando a cargo das famílias (quiçá apenas das mulheres) a decisão de continuar
ou descontinuar sua informação genética.
(*) Aldo Paviani - Geógrafo, professor emérito da Universidade de Brasília, pesquisador do Neur/Ceam e do Núcleo do Futuro/Ceam/UnB – Fotos/Ilustração: Blog-Google
Discordo, se fosse um núcleo polinucleado, não teríamos o movimento pendular entre o Plano Piloto aos bairros. Como núcleo polínucleado, seria se tivesse vários núcleos desempenhando a mesma função do núcleo central, e não é o que ocorre em Brasília, aonde o núcleo central provem 80% de todo o emprego dos demais núcleos e pior, ainda tem gente afirmando que Taguatinga é independente...
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