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É a democracia, estúpido!

É a democracia, estúpido!

*Por Ana Dubeux


Muita calma nesta hora foi o mantra da última semana nas eleições americanas. A poucas horas de conquistar o número de delegados suficiente para ser declarado presidente dos Estados Unidos, Joe Biden ainda represava o grito da vitória. E Donald Trump soltava o brado insistente, denunciando supostas fraudes, sem apresentar provas. Era preciso esfriar o sangue e acompanhar o voto a voto.


Um dos maiores escritores americanos, Truman Capote, autor de A sangue frio, tem uma frase que cai bem neste momento: fácil ignorar a chuva quando estamos de capa. Desnudar-se da vontade de ser maior do que é e colocar o pijama não está nos planos de Trump. Agora, a avalanche de ações judiciais será um capítulo à parte, embora os fatos (no caso, os votos) indiquem que não há muita margem para questionamentos. O chororô pode ser tão ruidoso quanto irrelevante.

Há quatro dias, mal durmo. O olhar congelado nas telas atualizando a disputa acirradíssima. A escolha do novo presidente americano coloca o mundo em suspense. Porque refletirá na onda que ganha volume mundo afora: a conquista, pelo voto, de um espaço com eco para o pensamento ultraconservador.

Rompimentos de acordos internacionais e pandemia em descontrole nos EUA são apenas dois itens do legado funesto de Trump, que, ao que parece agora, não faz jus à vontade da maioria americana. 
O desespero de Trump não convida seus apoiadores a tirar o chapéu e reconhecer a derrota. Ao contrário, chama ao enfrentamento dos números, com cartazes, protestos e, quiçá, armas em punho. Folgo em pensar que a democracia americana é mais forte, tem história e peso suficientes para aceitar a vitória de Biden.


Um mundo sem Trump, como será? É o que já se perguntam analistas mundo afora. Imagino, no entanto, que esse mundo é utópico. Trump fora da Casa Branca dá sobrevida à luta contra a ultradireita, mas não aquiesce o pensamento de uma camada importante da população mundial: aquela que pensa e age igual a ele.

É e será assim nos Estados Unidos e em qualquer outro lugar onde essa chama atingiu o poder e legitimou os discursos de ódio e ignorância. É preciso estar atento e forte para o bom combate porque ele não tem data para terminar.

Biden não é o presidente sonhado pelas esquerdas. Mas, ao que parece, é a alternativa possível. O planeta inteiro está cheio de alternativas possíveis à queda de regimes totalitários, mesmo os disfarçados. Transformar o possível em viável e provável é outra história. Ao que parece, os EUA estão conseguindo. Biden aconselha: Coloquem a raiva e a demonização pra trás.

Flertar com um mundo mais tolerante e menos sujeito às intempéries de líderes infantis e autoritários é, por enquanto, o que temos para hoje. Na verdade, temos um pouco mais. Temos, por exemplo, um dado maravilhoso: 93% das eleitoras negras americanas votaram em Biden. Isso é um bom indício da força de uma população marginalizada, discriminada e esquecida. Unidas, mulheres negras entenderam o que importa.

O voto, livre e responsável, é o único caminho para desfazer as bobagens que fazemos na política. O voto nos redime, sempre, em algum momento. Também nos anima e enche de esperança. O voto manda recado: o mundo não tem dono.

(*) Ana Dubeux – Editora-Chefe do Correio Braziliense – Fotos/Ilustração: Blog/Google

 

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