Mesmo na pandemia, o setor teve resultados muito expressivos. Quais
foram os fatores que mais contribuíram? O
mercado imobiliário do Distrito Federal demonstrou muita solidez e resiliência
em 2020, ano em que a pandemia pelo novo coronavírus quebrou diversos
paradigmas no mundo todo e também no Brasil. Nós vínhamos, em 2019, iniciando
um processo de recuperação das perdas impostas pela crise iniciada em 2014, com
resultado positivo. E fechamos 2020 superando todas as expectativas, tanto no
volume de vendas quanto no de lançamentos. Quando a pandemia se instalou,
enfrentamos um trimestre de grande incerteza até maio, em que a prioridade foi
manter nossas atividades garantindo segurança e proteção aos nossos
trabalhadores. Esse é um dos fatores que explicam o resultado de 2020: o
governo do DF entendeu a importância de manter as obras em andamento e nossas
entidades e empresas entenderam a importância de dar ao trabalhador da
construção civil as melhores condições para seguir trabalhando. Nos mobilizamos
de forma ágil e eficaz na revisão dos protocolos de segurança e saúde, o que
nos deu condição de trabalhar com o mínimo de contágio no setor. Além disso,
merecem menção dois outros fatores. Um deles é o ambiente econômico, em que a
combinação de juros baixos e medidas de estímulo ao setor pelos bancos tornou
possível não apenas que a prestação de um financiamento imobiliário coubesse no
bolso de mais pessoas, mas, também, que os financiamentos em curso fossem
preservados com o adiamento das parcelas. O acesso ao crédito alcançou
condições inéditas na história brasileira, tanto pelo volume quanto pelas
taxas, trazendo para o mercado compradores que ainda viam sua casa própria
apenas como um sonho distante e também o investidor interessado em maior
segurança e rentabilidade. O outro fator foi a ressignificação da moradia, um
dos efeitos mais emblemáticos da pandemia. A necessidade de isolamento social
tornou a casa um espaço de trabalho, de estudo e de cuidado com a saúde. Quem
ainda não tinha imóvel, decidiu comprar; quem já tinha buscou um imóvel maior
para atravessar a crise com mais conforto.
Foi uma surpresa conseguir um crescimento forte num momento como
esse Foi, sim, mas muito mais pelos números. A partir de
junho, quando o mercado começou a reagir, nós avaliamos que poderíamos alcançar
ou, quem sabe repetir, o desempenho de 2019. Não imaginávamos que seria
possível ter crescimento real e acima do observado no ano anterior diante de
tantas incertezas. Foi um ano em que o incorporador do DF lutou muito, se reinventou
por intermédio da tecnologia, lidando sempre com o imponderável. É muito
difícil avaliar e fazer previsões em meio a uma crise sanitária dessa
magnitude. Nunca vivemos isso no Brasil. O desempenho do setor no ano passado
foi uma surpresa muito positiva.
Quais as expectativas para este ano? A tendência é
continuar crescendo? Nós estamos otimistas
com 2021, especialmente pela possibilidade da vacina e da manutenção de um
ambiente econômico favorável. Apesar dos desafios que estão colocados, nós
acreditamos que tanto o Executivo quanto o Legislativo federais estarão
mobilizados para aprovar as reformas e outras medidas que darão condições de
retomada da economia de uma forma geral. Também percebemos que tanto a Câmara
Legislativa quanto o governo do DF têm trabalhado uma agenda orientada para o
reaquecimento da economia e a geração de emprego, com redução da burocracia e
estímulos ao investimento. Em 2021, o mercado imobiliário vai manter o ritmo e
apostar em novos lançamentos.
Quais são os principais gargalos hoje? O que precisa ser resolvido? O
incorporador do DF ainda tem de enfrentar muita burocracia para trabalhar. Há
um cipoal de legislações, cujo entendimento e aplicação muitas vezes geram
conflitos e tomam muito tempo, atrasando a aprovação de projetos e a liberação
de licenças. Esse é um gargalo que a Ademi tem procurado enfrentar com muito
diálogo, levando aos órgãos do GDF esclarecimentos técnicos para fomentar uma
revisão e aperfeiçoamento de procedimentos, assim como à CLDF, em busca de
marcos regulatórios que deem agilidade ao investimento, respeitando a
legislação em vigor. Nesse momento, por exemplo, estamos discutindo uma
modernização de procedimentos para a liberação de alvarás e Habite-se,
ferramentas essenciais para o nosso setor. Temos encontrado uma grande
disposição para o diálogo e para melhorar o que for possível, atendendo não
apenas o incorporador, mas também o pequeno construtor. Também temos defendido
uma atuação mais firme do GDF contra a ilegalidade tanto nas ocupações, quanto
na construção e comercialização de imóveis no DF. Temos levado esse assunto ao
governo do DF e a instâncias do judiciário. Essa é uma mazela que precisamos
extirpar da nossa realidade.
Como o setor imobiliário pode contribuir para a retomada da economia do
DF neste ano? Nossa contribuição mais importante é a geração de
emprego e renda para a população. O setor da construção, e notadamente o
imobiliário, é um empregador intensivo de mão de obra, desde o profissional de
menor qualificação até aquele mais especializado. Cada empreendimento lançado
significa centenas de novos postos de trabalho formais, com carteira assinada,
e por um ciclo de anos, movimentando também toda a cadeia produtiva da
construção. A entrega de um prédio novo exige ao menos três anos de trabalho,
mantendo a empregabilidade no setor. Os lançamentos de 2019 alimentaram o
mercado de trabalho em 2020 e os novos empreendimentos do ano passado manterão
o mercado de trabalho aquecido em 2021. Isso é comida na mesa das pessoas e
tributo nos cofres públicos.
Como tem sido tratada a questão da segurança dos trabalhadores da área
durante a pandemia? Com
muito zelo e responsabilidade. A Ademi-DF, em parceria com o Seconci-DF, o
Sinduscon-DF e a Asbraco, tem mantido os empresários do setor mobilizados e
atualizados em torno das melhores práticas de prevenção ao coronavírus. Fizemos
isso já no início da pandemia, revendo a organização dos canteiros, o manejo
das equipes, os turnos e o transporte dos funcionários. Fizemos um trabalho
consistente e continuado de esclarecimento e estímulo às medidas de prevenção,
distribuímos kits com máscaras e álcool em gel para os nossos trabalhadores e
seus familiares. Atuamos em parceria e proximidade também com o sindicato dos
trabalhadores do nosso setor, com quem fazemos reuniões periódicas, e temos
atravessado esse período com todos os cuidados.
Como foi o diálogo com o governo local nesse
período? O diálogo do setor imobiliário com o GDF tem
sido franco, transparente e contínuo.
Desde o começo dessa crise sanitária, o governador
Ibaneis Rocha demonstrou clareza de que a inclusão do nosso setor entre os
essenciais teria um impacto positivo sobre a economia, ajudando na preservação
e geração de empregos. Essa sempre foi a maior preocupação, evitar a demissão
em massa de trabalhadores no DF. Temos conduzido uma agenda para melhorar o ambiente
de negócios e o governo tem feito o que é possível para atender as demandas do
mercado imobiliário. O GDF também acompanhou de perto as iniciativas que
tomamos para melhorar os protocolos de segurança e saúde e nossas entidades
colaboraram doando equipamentos de proteção e álcool em gel.
O BRB priorizou o financiamento imobiliário e fez alguns acenos também
para empresas. Isso contribuiu? A atuação dos bancos
públicos foi muito importante nesse período. O BRB, assim como a Caixa
Econômica Federal, elegeu o mercado imobiliário como prioridade e demonstrou
grande sensibilidade para o potencial e importância do nosso setor. As medidas
de estímulo adotadas nessa pandemia, como a redução das taxas de juros para o
financiamento imobiliário, o adiamento das parcelas e outras vantagens para o
comprador assim como para o incorporador, tiveram grande importância para que
as empresas pudessem manter suas atividades e reaquecer o mercado. O BRB foi um
parceiro estratégico da Ademi-DF, participou do nosso salão imobiliário virtual
e de outras iniciativas que tornaram possível conquistar um desempenho positivo
no ano que passou. Penso que o comprador, aquela família que sonhava com a casa
própria, foi o grande beneficiado por esse esforço.
Alexandre de Paula – Coluna “Eixo Capital” – Foto: Ana Rayssa/CB/D.A.Press – Correio Braziliense