O Brasil agoniza
Não foi por
falta de aviso, alerta, apelo. Enquanto todas as vozes lúcidas da ciência e dos
médicos repetiam, reiteradas vezes, que, sem as medidas de distanciamento, sem
as devidas campanhas nacionais de esclarecimento da população e sem agilidade
na compra de vacinas e insumos, o Brasil viveria uma segunda onda ainda pior de
contágio do novo coronavírus, a ignorância de muitos levou o país a perder o
ar.
Não, não falta apenas oxigênio; faltam empatia, humanidade, respeito e,
sobretudo, responsabilidade da parte que nos governa. Manaus agonizante é o
Brasil agonizante de amanhã. O desespero dos familiares e dos profissionais de
saúde, que estão na linha de frente do combate ao coronavírus, reflete um
estado de abandono completo do Estado, que não fez o dever de casa. Um retrato
desolador que tende a se repetir pelo país.
Chorar os mortos, sem ao menos uma chance de socorro, é de uma crueldade ímpar.
O povo se solidariza, faz campanha pela doação de cilindros de oxigênio, ajuda
como pode. E os políticos, fazem o quê? Os negacionistas, radicais da morte,
usam o ar já tão rarefeito para ventilar mentiras sobre tratamentos preventivos
inócuos e para lançar desconfianças contra o único antídoto que pode nos livrar
desse imenso mal: as vacinas.
Politizar a pandemia e as soluções para combatê-la é um genocídio e, com imensa
tristeza, concluo que foi essa a escolha do Brasil. O que estamos presenciando
neste momento no país é um crime contra a humanidade. Qualquer outra
interpretação dessa crise é associação criminosa, com vistas a encobrir a única
verdade: as pessoas estão adoecendo e morrendo às pencas. A cumplicidade de uma
parcela da população, com o rito de mentiras em séries, ajuda a cavar ainda
fundo o buraco em que nos enfiamos. Podemos até sair dele, mas as feridas já
estão expostas e deixarão marcas profundas.
Não há saída fácil para uma crise do tamanho desta pandemia. Trata-se de um
desafio enorme, mas, para enfrentá-lo, seria preciso antes de tudo eleger uma
prioridade: salvar vidas. É para isso que elegemos governantes. Para que eles
tragam soluções, promovam o bem-estar coletivo, reconstruam o presente e nos
levem a um futuro melhor. Espera-se deles competência e trabalho. Quem não tem
competência, seriedade e equilíbrio para exercer a função pública, deve pedir
pra sair. Brincar com a vida alheia tem um preço altíssimo. E a população não
pode e não vai pagar sozinha.
Ana Dubeux – Editora -Chefe do Correio Braziliense – Fotos/Ilustração: Blog-Google.