Entrar em um hospital é algo que traz um amontoado de sentimentos. Seja
como paciente, seja como acompanhante, lidar com enfermidades requer apoio e
empatia das pessoas. Pensando nisso, o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde
do Distrito Federal (Iges-DF) disponibiliza, nas recepções dos Hospitais de
Base e de Santa Maria e das unidades de pronto atendimento (UPAs),
profissionais do projeto Humanizar. Eles são capacitados para acolher e
orientar todos os recém-chegados em busca de atendimento.
Na prática, esses colaboradores prestam muito mais que apoio. Eles
tornam o ambiente hospitalar leve e receptivo. E presenciam histórias alheias,
que também marcam suas trajetórias. Estar de prontidão nas portas das unidades,
ajudar na comunicação de familiares com internados e escutar um paciente
angustiado e com dor. Essas são algumas das funções dos auxiliares desde 19 de
novembro de 2019, quando o projeto Humanizar foi implementado no Iges-DF.
Conheça o trabalho de alguns dos profissionais do
Humanizar. “Humanizar é ser alguém que se importe com a dor do outro”
(Edízia Maria Santos – Hospital de Base)
Foi no início da pandemia, no ano passado, que Edízia Maria Santos, 38
anos, começou a transformar em realidade o sonho de fazer parte da equipe do
Humanizar. Ela foi admitida no Hospital de Base (HB) como auxiliar de
atendimento. Fluente em Libras, Edízia tem a missão de trabalhar para a
inclusão de pacientes.
“Eu sei como é o preconceito e a falta de assistência para as pessoas
com deficiência auditiva. É algo que só quem está ali sente”, afirma Edizia,
mãe de um menino surdo. “Por isso, tenho muito orgulho de trabalhar em uma rede
que oferece apoio a esse público.”
Para Edízia, atendimento humanizado significa se colocar no lugar do
outro, entendendo suas dores físicas e psicológicas. Com essa certeza, a
auxiliar carrega na memória a história de quando conseguiu entender a dor de um
homem em situação de rua, que chegou desnorteado e aborrecido à portaria do HB.
“No início, o paciente foi muito rude, mas, à medida que eu o acalmava, ele ia
me revelando sua história”, relembra.
O paciente havia sido picado por uma cobra e estava com a bolsa de
colostomia (que coleta excrementos) rasgada. No Pronto-Socorro, quando a
enfermeira pediu para que o homem aguardasse, ele achou que não seria atendido.
“Foi apenas uma confusão, mas a pessoa com dor está tão desesperada que não
consegue entender direito”, explica Edízia.
Os dois retornaram ao Pronto-Socorro. O paciente, então, compreendeu que
já seria chamado. “Levá-lo de volta para lá e ter a confiança dele significou
muito para mim”, conta a auxiliar de atendimento. Para Edizia, a missão de ter
paciência para escutar e entender o outro foi cumprida. “Isso é o Humanizar, é
ser apoio onde aquela pessoa está. É alguém que se importe com a dor do outro.”
“A gratidão das pessoas e o trabalho que fazemos são nossos presentes”
(Arthur Ferreira Assunção – Hospital de Santa Maria)
Arthur Ferreira Assunção, 30 anos, atua no Hospital Regional de Santa
Maria (HRSM) há um ano e três meses, quando começou o projeto Humanizar nas
unidades do Iges-DF. Ao longo desse tempo, ele se deparou com histórias
emocionantes, como a de um trabalhador que precisava fazer uma cirurgia urgente
no joelho.
“Lembro-me dele bastante angustiado, sentindo muita dor e com medo de
demorar para voltar a trabalhar, pois era arrimo de família”, conta Arthur, que
procurou ouvir o paciente com atenção para entender o caso. “Dei todas as
orientações para que ele conseguisse o atendimento na ortopedia e fosse
internado no mesmo dia”, relata.
Depois que o homem foi operado, Arthur acompanhou pessoalmente a esposa
do paciente para que lhe fizesse uma visita. “Ela ficou extremamente grata.
Queria me dar presentes, mas eu não aceitei”, lembra. “A gratidão das pessoas e
o próprio trabalho que fazemos são nossos principais presentes.”
Antes de entrar para o Humanizar, Arthur sempre atuou em áreas
administrativas de hospitais. Ao trocar de posto, a vida dele também mudou. “Eu
nunca tinha estado em uma função em que eu pudesse agir diretamente para
melhorar a vida das pessoas”, conta, sem disfarçar o orgulho de participar do
projeto.
“O objetivo é sempre melhorar o dia da pessoa” (Hismaley Victor de Silva – UPA de Ceilândia)
Abrandar sentimentos com um simples gesto de solidariedade foi o que
Hismaley Victor de Silva, 28 anos, aprendeu já no primeiro dia de trabalho na
UPA de Ceilândia, onde entrou há um ano na equipe do Humanizar.
“Eu vi uma senhora esperando e fui até ela saber se poderia ajudar”,
relata. “A paciente contou que aguardava havia mais de duas horas. Quando fui
checar a posição dela na fila de espera, percebi que o seu nome não estava
registrado. Comentei do erro com o médico, e ele a chamou logo em seguida.”
Ao fim da consulta, a gratidão estampada nos olhos da paciente foi a
prova de que Hismaley fez a diferença. “Ela agradeceu e me disse para continuar
fazendo esse lindo trabalho”, recorda-se. “Desde então, o auxiliar atende
prontamente qualquer pessoa que precise de ajuda. O objetivo é sempre melhorar
o dia da pessoa.”
“Enfrentamos um momento de muitas perdas e desespero” (Walis Lopes – UPA do Núcleo Bandeirante)
Aos 22 anos de idade, Walis Lopes atuava havia poucas semanas na UPA do
Núcleo Bandeirante quando começou a atender os primeiros pacientes contaminados
com covid-19 no Distrito Federal, em março do ano passado. A missão dele e de
outros integrantes do Humanizar era tranquilizar e orientar pacientes e
acompanhantes assustados com a pandemia. “A nossa demanda cresceu”, relata.
“Enfrentamos um momento de muitas perdas e desespero. Foi difícil.”
O distanciamento social, exigido pela crise sanitária, fez Walis
perceber a importância do trabalho dele. “Pude ajudar uma senhora a se
comunicar com o marido, internado por covid-19. Ela me pediu para escrever uma
carta para enviar ao companheiro.”
Na declaração, a senhora dizia que ela e as filhas estavam com saudades
e que não viam a hora de ele voltar para casa. “Fui escrevendo, já emocionado.
Depois, eu encaminhei ao médico do setor. Foi uma troca de carinho e respeito
pela história deles”, define Walis.
“O reconhecimento ao nosso trabalho faz tudo valer a pena” (Elaine Araújo – UPA do Recanto das Emas)
A qualidade do atendimento em hospitais públicos deve ser igual – ou até
melhor – do que o das unidades da rede privada. É esta convicção que motiva o
trabalho de Elaine Araújo, 26 anos. Depois de trabalhar em hospitais
particulares, há um ano ela é auxiliar de atendimento do projeto Humanizar na
UPA do Recanto das Emas. Sua luta diária é para que todos os que buscam a
unidade sejam bem atendidos.
Das muitas experiências vividas na UPA, uma não sai de sua memória.
“Lembro-me de um paciente que chegou sentindo uma dor muito forte”, relata.
“Era notório que ele estava sofrendo demais. Eu consegui que ele fosse
priorizado no atendimento e internado logo. Passaram-se dois dias. Eu já não me
lembrava mais dele, mas ele se lembrava de mim.” Ao receber alta, o paciente
agradeceu. Segundo Elaine, ele disse, emocionado: “Moça, muito obrigado pelo
seu atendimento. Você salvou a minha vida!”
Para ela, o reconhecimento dos pacientes ao atendimento prestado é o
melhor atestado à qualidade dos serviços prestados em unidades da rede pública.
“O reconhecimento ao nosso trabalho faz tudo valer a pena”, orgulha-se Elaine.
“Os filhos do paciente vieram à UPA para me agradecer pela ajuda”
(Adriana da Mota Borges – UPA de Samambaia)
Em novembro de 2019, o projeto Humanizar foi implementado na UPA de Samambaia. Adriana da Mota Borges, 31 anos, faz parte da equipe pioneira. Seu trabalho é ajudar no atendimento aos pacientes. Dos casos mais simples aos mais complexos, Adriana não poupa energia para resolvê-los. E assim vai acumulando experiência e histórias de superação.
Um caso memorável para ela foi o de um senhor de 78 anos que descobriu
estar infectado com a covid-19. “Os familiares estavam muito aflitos. Eu fiz
tudo o que estava ao meu alcance para ajudá-los”, lembra.
Para minimizar a aflição do idoso e dos parentes dele, Adriana tomou a
iniciativa de criar uma forma de interação entre todos. Periodicamente, ela
procurava pessoalmente o médico do paciente para saber sobre o estado de saúde
do idoso. Assim que recebia o relato do médico, ela solicitava à assistente social
da unidade para que o paciente conversasse com os filhos por meio de
videochamada. Assim foi feito até o idoso se curar.
“Eu já estava feliz por saber que aquele idoso conseguiu vencer a
covid-19 e voltar para casa”, relata. “Fiquei mais orgulhosa ainda quando os
filhos dele vieram até a UPA para me agradecer pela ajuda. Fiquei muito
impactada.”
A auxiliar de atendimento acredita que se tornou uma pessoa melhor
depois que ingressou no projeto Humanizar. “Hoje, eu me sinto mais humana. Sou
outra pessoa dentro e fora do meu local de trabalho.”
“Nosso objetivo é amenizar, ao máximo, a dor do outro” (Fabyo Bezerra –
UPA de São Sebastião)
Rotina puxada e correria. É assim que o auxiliar de atendimento Fabyo
Bezerra, 32 anos, define o dia a dia na UPA de São Sebastião. A chegada ao
projeto Humanizar em abril do ano passado trouxe a ele uma nova realidade. “Já
tinha trabalhado na área de atendimento, mas a vivência na saúde é
completamente diferente. Como em São Sebastião não tem hospital, todos os tipos
de fatalidades chegam à UPA”, explica.
O compromisso de Fabyo é prestar atendimento de qualidade a todos os
pacientes, independentemente da gravidade do caso. “Eu vejo como posso ajudar
qualquer pessoa que entra na unidade”, conta. Foi assim que o auxiliar agiu
quando viu chegar um rapaz que havia caído de um telhado.
“Ele estava dentro do carro, e eu corri para socorrê-lo. Quando me
aproximei, vi que estava jorrando muito sangue. Foi uma cena difícil”, conta
Fabyo. “Mesmo assim, tive forças para levá-lo direto à sala vermelha (para
casos mais graves). De lá, o encaminharam de ambulância para um hospital da
rede”, completa.
Apesar de desconhecer o desfecho da história do paciente, o auxiliar
garante que a prontidão no atendimento fez a diferença. “A gente cria vínculo e
amor ao próximo sem nem conhecer a história das pessoas”, afirma. “Nosso
objetivo é amenizar, ao máximo, a dor do outro.”
“Ajudar outras pessoas faz parte dos valores que carrego” (Francijane Almeida – UPA de Sobradinho)
Formada em biologia e estudante de enfermagem,
Francijane Almeida, 33 anos, identificou-se com o Humanizar desde o início do
projeto na UPA de Sobradinho, no fim de 2019. De lá pra cá, ela vestiu a camisa
da iniciativa — literal e simbolicamente. “Ajudar outras pessoas,
principalmente pacientes tão fragilizados, faz parte dos valores que carrego”,
diz.
Recentemente, Francijane viveu uma
experiência marcante na UPA. “O neto de um paciente veio me pedir para que o
avô dele fizesse com urgência o exame da covid-19, já que a saúde dele estava
piorando a cada dia”, conta.
Segundo a atendente, o rapaz temia que
o avô partisse sem ter velório e enterro dignos, com direito a reunir a
família, já que, por questões de segurança, pacientes que morrem por
complicações do coronavírus têm restrições no momento da despedida. “Não medi
esforços para agilizar os trâmites do exame, que deu negativo. Mas,
infelizmente, o idoso veio a falecer no dia seguinte”, relata Francijane.
Como consolo, a família pôde enterrar o
idoso da forma tradicional, com os parentes dando o último adeus. “Vou guardar
isso na minha memória para sempre”, afirma Francijane.
Texto: Thaís Umbelino e Thays Rosário - Davidyson Damasceno/Ascom IGESDF.









