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Mais de mil palhaços no salão

 

Mais de mil palhaços no salão

 

O bloco dos políticos canalhas está na rua há mais tempo que os cortejos pelas ladeiras de Olinda ou os desfiles na Sapucaí. Tão antigo quanto a própria política, o grupo que se alinha apenas às próprias causas acostumou-se, ao longo do tempo, a escorregar de um lado para o outro para escapar de denúncias, do ostracismo, da própria incompetência. Faz o que tiver de ser feito para garantir a sobrevivência política de sua espécie e, assim, evitar a extinção. 

 

O que se viu na recente eleição no Congresso e a posterior reforma – que agora começa a ser empreendida pelo governo Bolsonaro em seu ministério para pagar os acordos feitos – é um filme repetido, a gente sabe. Nenhuma grande surpresa em se fazer conchavos, troca de cargos, liberação de dinheiro de emendas, entre outros artifícios, para garantir um gado domesticado que atende ao primeiro berrante (e não, necessariamente, ao último). 

 

E, talvez, até todo esse movimento passasse como aquele velho “mais do mesmo” se não estivéssemos em plena pandemia. Incrível a energia gasta pelos políticos no próprio jogo político, enquanto continuamos com uma absurda média diária de mortes, um imenso contingente de doentes, hospitais lotados, vacinação lenta, crianças fora da escola e uma série de outras barbaridades que parecem insignificantes aos olhos das autoridades.

 

Sim, vivemos um eterno carnaval. Sempre fantasiados, líderes partidários costuram acordos, lançam nomes, pensam em reeleição, traem à luz do dia os próprios aliados. Não há, sequer, ressaca. Enquanto isso, mal falam em pandemia. Bando de zumbis vagando num baile de máscaras. Estão cegos aos apelos da população, que virou a penetra da festa, aquele incômodo que vez por outra aparece na porta para lembrar que existe.

 

Sinto que o Brasil mergulhou na bebedeira e nunca saiu do porre. Porque, de fato, não acredito em qualquer ato político lúcido, neste momento, que não seja a defesa inconteste da vida, a batalha para vencer o vírus, para equipar os hospitais, para educar a população com as medidas preventivas, para vacinar todos os brasileiros, para ajudar os desempregados, os famintos e os falidos. 

 

Se há alguma justiça nisso tudo é que a quarta de cinzas chega para todo mundo. De uma hora para outra, a alegria pode virar agonia – até para quem é destaque de carro alegórico. Os espertos descem antes de cair. Até a próxima eleição, vamos ver quem para em pé. 


Ana Dubeux – Editora-Chefe do Correio Braziliense – Fotos-Charge/Ilustração: Blog-Gooo.



 

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