“O surgimento de
novas cepas, como a variante de Manaus, mostra uma maior velocidade de
contaminação, maior comprometimento do organismo, recuperação mais lenta e a
mudança do perfil etário atingido pelo vírus, agora a população mais jovem”
Como está a vacinação
entre os profissionais de saúde? Só foram
vacinados profissionais da rede pública e empregados dos hospitais privados que
estão no enfrentamento da covid-19. Três em cada quatro médicos da cidade não
foram vacinados. Essa desproporção é ainda mais grave quando se estende aos
demais trabalhadores da saúde.
Quem não conseguiu
ainda ser imunizado? Quem atua em
clínica privada, consultórios e ambulatórios particulares não foi vacinado,
médicos da Subsaúde, da Secretaria de Economia e de outros órgãos públicos. Aí
você tem uma multidão de médicos, enfermeiros, técnicos, dentistas,
fisoterapeutas, enfim, profissionais das 14 profissões da saúde e ainda os
trabalhadores que atuam nesses serviços em atendimento aos pacientes — todos
previstos para a vacinação na primeira fase, de acordo com o Plano Nacional de
Vacinação contra a covid-19 do Ministério da Saúde.
Acredita que o
lockdown e o toque de recolher são medidas eficientes? Quando as políticas públicas adotadas são eficientes, as medidas
restritivas são desnecessárias. Quando não são eficazes, não se faz a
necessária conscientização da população para respeito ao distanciamento social
e outras medidas sanitárias que precisam ser seguidas e quando se observam os
exemplos do comportamento da pandemia ao redor do mundo, chega-se à situação em
que as medidas restritivas tornam-se necessárias. O ideal é não deixarmos
chegar a esse ponto novamente. Em setembro passado, quando a imprensa mostrava
a segunda onda na Europa, eu já apontava que era precoce o fechamento de leitos
de covid-19 e a desmobilização do hospital de campanha.
Qual na sua opinião
deve ser a ordem de prioridades? A prioridade
número um é acelerar a aquisição e a aplicação das vacinas. Depois, garantir os
insumos, como equipamentos de proteção individual para os profissionais de
saúde, leitos hospitalares, oxigênio e insumos em quantidade adequada para
assistência aos pacientes. Além disso, fazer campanha permanente de
esclarecimento para a população respeitar o distanciamento social e as demais
medidas sanitárias indicadas e ser mais rígido na fiscalização das
aglomerações.
Por que a segunda
onda veio tão forte? Já era
esperado que a segunda onda fosse tão severa ou pior que a primeira. O
noticiário mostrava isso na Europa, enquanto estavam desmobilizando o hospital
de campanha e os leitos covid aqui. A insuficiência de leitos torna tudo mais
grave. Também ocorreu um relaxamento exagerado das medidas de distanciamento
social.
Há elementos para
confirmar que o vírus está mais letal? O surgimento de novas cepas, como a variante de Manaus, mostra uma maior
velocidade de contaminação, maior comprometimento do organismo, recuperação
mais lenta e a mudança do perfil etário atingido pelo vírus, agora a população
mais jovem. Quanto maior a velocidade de contaminação, maior a demanda por
leitos, oxigênio, EPIs e outros insumos necessários à assistência.
Preocupam-nos especulações sobre eventual falta de oxigênio.
Ana Maria Campos – Coluna “Eixo Capital” – Fotos/Ilustração: Blog-Google - Correio Braziliense.