Compartilhar um objetivo comum que
ajude o próximo é fundamental em momentos como este, de isolamento e
preocupação com o futuro. Desde a chegada da pandemia da covid-19, com a
necessidade de a população se manter em casa, muitas pessoas enfrentam
dificuldades que envolvem o relacionamento com a vizinhança. Os motivos são
diversos: vão desde barulho excessivo a descumprimento das orientações de saúde
estabelecidas pelas autoridades. Com isso, é normal que, em algum momento, as
desavenças sobressaiam nas comunidades.
Porém, para criar um ambiente de
tolerância, algumas vizinhanças buscam maneiras de se unir e praticar o bem,
por meio de ações coletivas. É o caso do bairro do líder comunitário Cristiano
Soares da Silva, 32 anos. Ele e os vizinhos criaram a Rede do Bem Paranoá, que
consiste na arrecadação de ingredientes para fazer sopas e entregar a pessoas
carentes. O grupo tem 10 integrantes que, antes, não se conheciam tão bem, mas
acabaram estreitando laços com o início do projeto.
Três dos participantes cuidam da distribuição
da sopa, para evitar aglomerações. Eles atuam a distância e com uso de máscara
e álcool em gel. Cristiano conta que a iniciativa foi fundamental para ajudá-lo
a lidar com a depressão e a ansiedade. “Este projeto me ajudou muito no
tratamento que faço contra essas doenças. É bom porque permite distrair a
mente. Ajudar o próximo é gratificante, faz bem para nós e para eles. Ver
sorrisos, reconhecimento e ouvir palavras de gratidão me fazem muito bem. Uma
pena não podermos abraçar, mas, se pudesse, eu o faria”, diz o líder
comunitário.
O músico brasiliense Allan Massay usa a arte como meio de se reinventar
e conectar a comunidade
Segurança: A convivência e a cooperação entre indivíduos, especialmente em situações de crise, têm efeitos benéficos para o bem-estar. O psiquiatra Anibal Okamoto Júnior confirma que as duas práticas podem gerar sensações melhores em quem dedica um tempo a elas — mas de maneira responsável. “A manutenção de alguma forma de convívio comunitário seguro é importante para diminuir os efeitos negativos do isolamento social na saúde física e mental. É uma maneira de evitar o aumento do estresse, bem como o agravamento de sintomas depressivos e ansiosos”, ressalta o médico.
Quanto aos comportamentos
fundamentais para garantir uma boa relação com os vizinhos no momento da
pandemia, Anibal defende que o respeito às medidas de segurança sanitária é
crucial para a criação de um ambiente harmônico. “(Isso inclui o) uso adequado
de máscara, de preferência as do tipo PFF2 ou N95, vedando completamente o
nariz. Nada de usar a máscara no queixo”, alerta. Para completar, higienização
frequente das mãos, distanciamento físico, preferência por áreas abertas ou com
ventilação natural, além de princípios básicos que regem qualquer convivência,
como cortesia e respeito, não podem faltar.
Como ajudar: Quem tiver
interesse em colaborar com o trabalho voluntário da Rede do Bem no Paranoá pode
entrar em contato com o grupo, pelo telefone 61 994-035-843.
Para saber mais: Problemas na vizinhança - - Com
a pandemia, muitas pessoas buscaram formas de se entreter dentro de casa, mas,
a depender do contexto, isso pode gerar problemas na vizinhança. Nos dois
primeiros meses deste ano, a Polícia Militar do Distrito Federal registrou
aumento de 48% nas ocorrências de perturbação do sossego alheio, na comparação
com o mesmo período do ano passado. Esse delito configura contravenção penal, e
o autor deve assinar um Termo Circunstanciado de Ocorrência para ser liberado
da delegacia. No entanto o registro está sujeito à presença do reclamante na
unidade policial, por se tratar de parte envolvida.
O advogado Leonardo Memória,
especialista em direito do consumidor, lembra que a Lei do Silêncio prevê
horário e intensidade sonora limitados em domicílios. O máximo é de 40
decibéis, das 7h às 22h. Variações nessa tolerância ficam a critério do síndico
ou da comunidade. “Cada condomínio tem a própria regra. Havendo incômodo,
deve-se procurar o síndico, para ele ser notificado, e o morador, multado, caso
o problema persista. A situação pode ser levada à polícia ou ao Judiciário,
para ressarcimento por danos morais”, explica o especialista.
Gabriela Chabalgoity - Fotos: Cezar Zulian – Carlos Vieira/CB/D.A.Press –
Correio Braziliense