Uma das curiosidades com relação à recente decisão
do ministro do STF Edson Fachin é que, observando-se com maior acuidade, a
maioria daqueles que saudaram a restituição da ficha limpa ao ex-presidente
Lula e, por tabela, uma iminente condenação do ex-juiz Sérgio Moro, o que se
constata é que essa parcela é formada, majoritariamente, por indivíduos ou
grupos com sérios problemas com a Justiça. Isso para não dizer que estão
enrolados até ao pescoço com a lei.
Trata-se aqui de uma gente que passou a crer, não se sabe como, que esse
veredito exótico trará consigo uma espécie de anistia geral e irrestrita,
varrendo, para debaixo do tapete da mais alta Corte, operações conjuntas do
Ministério Público e da Polícia Federal, com as dezenas de operações que miraram
os mais escabrosos casos de corrupção já vistos neste país. Assim, o que
parecia ser uma miragem distante ou um pesadelo, vai sendo perdoado e remetido
ao arquivo morto dos tribunais.
Obviamente, estão nesse grupo também todos aqueles que foram condenados ou
tornados réus nessas investigações. Não é um grupo pequeno. Pelo contrário. São
muitos e variados. Além da grande quantidade de políticos que foram arrolados
nesses casos criminosos e que juram de pés juntos de que tudo não passa de uma
trama armada por forças conservadoras e de oposição, é possível encontrar ainda
empresários dos mais variados calibres e que sempre tiveram no Estado uma mina
abarrotada de ouro. Unidos em favor do ex-presidente, estão, logicamente, todos
os ministros que por ele e por sua sucessora foram guindados às altas cortes.
Com uma retaguarda dessa magnitude jurídica, qualquer possibilidade de
condenação, pelos crimes que for, passa a ser estranha e até inaceitável.
Compõem esse bloco de entusiastas, também, os mais caros escritórios de
advocacia do país, sabedores, desde o início, que todo esse volumoso e rumoroso
processo acabaria sendo atalhado por forças superiores, bem alojadas nos altos
postos da República. À essa multidão de torcedores da impunidade ao patrono dos
butins, vem se juntar, outras forças políticas internas, como o Centrão e
externas, na figura de tiranos como Maduro, Ortega ou os herdeiros dos irmãos
Castro, além do ditador da Coreia do Norte.
Juntam-se na confraternização desse descalabro uma parte significativa da
imprensa nacional e internacional, para os quais Lula é um perseguido político,
maltratado pelo seu próprio povo. O mais inquietante é constatar que será com
essa multidão de malfeitores e afins, que o ex-presidente marchará para as
eleições de 2022, num verdadeiro revival da volta ao inferno. Bem sabemos que
observado de perto, ninguém é normal. Mas com essas companhias, o que se
presume é que vale o ditado repetido pelo filósofo de Mondubim: “diz-me com
quem andas e eu ti direi quem és”.