Com a ampliação da campanha de
vacinação contra a covid-19 para pessoas a partir de 69 anos, o Governo do
Distrito Federal (GDF) espera concluir, até o fim de abril, o atendimento a
todos os idosos e demais grupos prioritários. Está nos planos do Executivo
local começar, no segundo semestre, a vacinar a população com mais de 18 anos.
Além disso, o governador Ibaneis Rocha (MDB) afirmou, ontem, que considera
comprar imunizantes diretamente, sem intervenção do Ministério da Saúde, para
reforçar os estoques. Ainda esta semana, está previsto o início da aplicação de
doses em profissionais da saúde da rede particular.
Ibaneis anunciou por meio das
redes sociais que está em tratativas com farmacêuticas e produtoras de
imunizantes para negociar a compra direta. Apesar disso, o secretário de Saúde,
Osnei Okumoto, afirmou, em coletiva, ontem, no Palácio do Buriti, que não há
uma previsão de data nem da quantidade de doses que seriam adquiridas pelo
governo local. “Nenhum laboratório procurou ou ofertou diretamente ao DF. Enquanto
eles não têm um quantitativo para oferecer, eles só falam de valores para o
governo federal”, declarou. “Desde a primeira reunião com o ministro (da Saúde,
Eduardo) Pazuello, ele citou que grande parte, mais de 200 milhões, chegariam
no segundo semestre. Creio que a disponibilização no mercado fará com que
vacinemos a população no segundo semestre”, completou Okumoto.
Na quarta-feira, o Distrito
Federal deve contar com mais doses e, assim, incluir novas faixas etárias nos
grupos prioritários. “O ministério (da Saúde) ainda não indicou um
quantitativo, mas as entregas costumam acontecer entre terça e quarta-feira”,
reforçou o secretário. O plano do GDF é que, após alcançados todos os idosos
com mais de 60 anos, pessoas com comorbidades sejam as próximas da fila. Na
quinta, os profissionais de saúde da rede privada poderão agendar a vacinação
contra a covid-19 pelo site vacina.saude.df.gov.br. A imunização terá início no
dia seguinte. Estão incluídas pessoas que trabalham em consultórios, clínicas,
laboratórios, farmácias, funerárias e no Instituto de Medicina Legal (IML).
Presente à coletiva, o secretário
da Casa Civil, Gustavo Rocha, afirmou que conselheiros tutelares, agentes
funerários e agentes socioeducativos estarão entre as prioridades em breve.
Essas eram algumas das categorias que reivindicavam vacinação imediata.
“Priorizar esses grupos é mostrar respeito pela vida humana”, comentou. Ontem,
equipes das forças de segurança, como policiais civis, promoveram atos para
pedir a inclusão da categoria na campanha. “O governador determinou que as
forças de segurança serão incluídas nas próximas fases”, reforçou Gustavo
Rocha. Também não há data para o início da imunização desses grupos.
Longa espera: O primeiro dia de vacinação de idosos com 69 anos
ou mais foi marcado por aglomerações e filas de espera. Segundo a Secretaria de
Saúde (SES-DF), a ampliação do público causou a alta demanda. A aposentada
Maribel Cardoso Farias, 69 anos, moradora da Asa Norte, chegou ao drive-thru do
Shopping Iguatemi às 13h25, mas, às 16h30, não havia sido vacinada. “Ficamos
ansiosos pela vacinação, mas a espera é um pouco demorada. Estamos há mais de
três horas aqui (na fila). E ninguém avisou nada sobre o motivo da demora, mas
fazer o quê? Esperamos a vacina”, comentou.
Na Unidade Básica de Saúde 1 (UBS)
do Lago Norte, alguns idosos que chegaram atrasados para a vacinação voltaram
para casa sem atendimento. Ao todo, 18.665 pessoas foram vacinadas ontem com a
primeira dose da vacina, e 708 pessoas com a segunda. O total de pessoas que
receberam uma aplicação do imunizante desde o começo da campanha é de 213.284;
desse grupo, 69.710 pessoas tomaram o reforço.
Morte na fila: Enquanto aguardava para ser vacinado contra a
covid-19, ontem, um homem de 69 anos morreu em frente ao Shopping
Iguatemi, no Lago Norte. Ele teria sofrido um infarto enquanto esperava na fila
de carros. A vítima chegou a ser socorrida pela Polícia Militar, que tentaram
ressuscitar o idoso, mas ele não resistiu.
Outro fato dramático tomou as
redes sociais, ontem: imagens gravadas por servidores de unidades de saúde
mostravam corpos de pacientes que não resistiram à covid-19 deixados no chão,
em hospitais públicos do DF. O secretário da Casa Civil, Gustavo Rocha,
reconheceu a existência de um caso semelhante, mas disse ser algo “pontual”.
“Um senhor veio a óbito por covid-19 e pesava mais de 200kg. A funerária não
tinha um invólucro grande o suficiente para colocá-lo. Por isso, ele ficou mais
tempo lá (no hospital) até que chegasse esse material”, afirmou, referindo-se a
um paciente do Hospital Regional de Ceilândia.
Variante agrava estado dos
pacientes: Mesmo com as medidas restritivas
adotadas no Distrito Federal, a pandemia da covid-19 segue em avanço, mas com
um novo perfil. Das 369 pessoas internadas com a doença ontem, 14% tinham até
39 anos. Entre janeiro e março, houve aumento de 2.800% nas internações de
jovens com até 24 anos infectados pelo coronavírus. Segundo o secretário de
Saúde, Osnei Okumoto, a variante de Manaus (P1) pode ser um dos principais fatores
para o agravamento desse quadro entre a população mais nova. Enquanto isso,
mais de 90% das unidades de terapia intensiva (UTIs) da rede pública voltadas
para o tratamento da doença estão ocupadas. Para tentar desafogar o sistema, o
Executivo local abrirá três novos hospitais de campanha até 14 de abril e
convocará servidores aposentados para atuar no combate à pandemia.
Por volta das 20h de ontem, a rede
pública do DF atuava com 96% dos leitos de UTI para covid-19 ocupados. Dos 429,
apenas 15 estavam vagos, e 45, bloqueados, aguardando liberação. O Hospital
Regional da Asa Norte (Hran), referência no tratamento da doença, suspendeu
todos os atendimentos de menor gravidade. A Secretaria de Saúde (SES-DF)
comunicou que a unidade operou em bandeira vermelha, atendendo apenas pacientes
com quadro muito grave.
Osnei Okumoto ressaltou que a P1,
variante que teve a circulação confirmada no DF em 9 de março, pode ser um dos
principais motivos para a lotação dessas unidades e para a maior
transmissibilidade do vírus. “Percebemos que os pacientes que estão ficando
mais tempo internados são (aqueles infectados pela) P1. O vírus que tínhamos
anteriormente era completamente diferente. E isso nos preocupa, pois queríamos
girar mais os leitos e que os pacientes saíssem do quadro grave em menos
tempo”, declarou o secretário.
Além disso, segundo uma das
empresas que fornecem oxigênio para o DF, a demanda diária aumentou 97% na
semana passada, na comparação com o mesmo período de janeiro. O Executivo vai
publicar, até sexta-feira, um edital para a compra de cinco usinas de oxigênio,
que serão instaladas em unidades hospitalares públicas. “A ideia é transformar
os hospitais em autossuficientes. As usinas irão para os três hospitais de
campanha e mais dois acoplados”, comentou Osnei. Apesar da gravidade do
cenário, o secretário da Casa Civil, Gustavo Rocha, afirmou que não há falta de
insumos no DF.
367: Pacientes com covid-19 internados na rede pública,
ontem; 427: Pacientes internados na rede
particular; 51: Leitos livres nas redes pública e privada; 335: Pessoas na fila com suspeita ou confirmação de
infecção pelo coronavírus; 20: Leitos abertos
ontem.
Samara Schwingel » Edis Henrique Pares - ~~~~ Colaborou Pedro Marra - Correio
Braziliense.