Em contrapartida, a quantidade de internações e
mortes entre o grupo com 60 anos ou mais diminuiu — o que demonstra a eficácia
da vacina na prevenção dos casos graves da doença. “Os dados indicam que quem
vacinou não está se cuidando. As pessoas estão confiantes de que estão imunes
ao vírus e ignoram o fato da possibilidade de pegar e transmitir a covid-19.
Antes, havia um medo, uma preocupação em relação à gravidade da doença. Agora,
com a imunização, houve um relaxamento das medidas de prevenção, e os idosos
estão se contaminando mais. Porém, como a vacina funciona, estão se internando
menos e morrendo menos”, analisa o doutor em administração e pós-doutor pela
Universidade de Brasília (UnB) em ciência do comportamento.
Segundo levantamento feito por Aidad, em novembro
de 2020, 80% dos óbitos registrados no Distrito Federal eram de pessoas acima
dos 60 anos. A faixa etária entre 0 a 59 anos representava 20%. Entre fevereiro
e março deste ano, houve uma mudança de cenário, com a queda de mortes entre os
idosos e o aumento de pessoas mais jovens morrendo por complicações do vírus.
Em abril, 60% do total de óbitos registrados eram de pessoas acima dos 60 anos.
Para a infectologista Ana Helena Germóglio, esse
cenário reforça a utilização da vacina como um protetor da forma grave da
doença. “A gente vê essa mudança após a segunda semana da 2ª dose, quando se
tem uma maior resposta imunológica do indivíduo com a vacina. É de se esperar
que, a partir de agora, se tenha — progressivamente — essa redução não só
em idosos, mas nas faixas etárias seguintes e depois nas pessoas com comorbidades.
Isso mostra que, realmente, a vacina é eficaz, segura e necessária para
que a gente consiga combater a pandemia”, ressalta a especialista. Porém, ela
alerta: “É importante frisar que a vacina foi desenvolvida para evitar os casos
graves da doença. Se as pessoas não seguirem as medidas de prevenção, a
circulação viral vai continuar. Mesmo os vacinados precisam se proteger, até
porque eles podem ter formas leves da doença e continuar perpetuando o ciclo da
covid-19”, pontua.
Conscientização: O epidemiologista e professor
de epidemiologia da UnB Walter Ramalho reforça a fala da Ana Helena. “A
vacinação é um ótimo recurso para combater a pandemia. Estamos vendo na prática
o efeito dela, mas é preciso uma conscientização de todos, pois, mesmo
vacinado, esse grupo pode transmitir o vírus e ter casos leves e também graves.
Nada impede o agravamento do vírus em quem está imunizado”, afirma Walter. “É
preciso manter os mesmos cuidados de antes, com o distanciamento social, uso de
máscara, evitar aglomeração. Muita gente ainda não foi vacinada, e a circulação
do vírus está alta”, reforça o epidemiologista.
Palavra de especialista: Cuidados
pós-vacinação - Quando se observa um aumento de casos entre a população
idosa, na faixa etária do grupo imunizado, é preciso se atentar a alguns
fatores. A alta pode ser um reflexo no aumento de testagem deste grupo, por
exemplo. Ou se trata do comportamento delas. Como foram vacinadas,
equivocadamente, estão encarando que estão liberadas para sair. Há uma falsa
sensação de que a vacina acabou com o problema. A vacina é excelente, mas não
resolve a pandemia desse jeito, só ajuda no controle da pandemia. É como se
você tivesse com uma máscara melhor. O que está ocorrendo no Brasil está tudo
errado. É necessária uma campanha de comunicação do governo para orientar a
população sobre os cuidados que se deve ter depois da vacinação. Tem de
continuar com o uso da máscara o tempo inteiro, manter o distanciamento. Quando
receber visita em casa, evitar ficar sem máscara. Felizmente, os idosos estão
protegidos da forma grave, mas ainda podem ter a infecção. E outro ponto
importante: é preciso utilizar máscara de boa qualidade. No momento atual,
quando há uma maior circulação do vírus da covid-19, a máscara de pano sozinha
não protege. O recomendado é que se utilize uma máscara cirúrgica por baixo da
de pano, principalmente em ambientes fechados ou de maior circulação de
pessoas. As máscaras N95 e PFF2 também são recomendas e protegem
bem. (José David Urbaez, diretor científico da Sociedade de
Infectologia do DF e infectologista do Laboratório Exame)