Quem acompanha o noticiário nacional, mesmo superficialmente, observa
que o Brasil, ao contrário do resto do mundo, parece congelado no tempo, como
embalsamado numa espécie de cápsula à espera de um futuro que teima em não
chegar. Chama a atenção nesse caso a foto, um tanto oportunista, mostrando os
ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e Lula com o já tradicional
cumprimento, trazido pela pandemia, que antepõe punho contra punho.
Fôssemos analisar com mais
acuidade a foto, como fazem os investigadores, em busca, quem sabe, de algumas
evidências que estariam postas naquela reunião, por detrás das lentes e nos
bastidores desse encontro estratégico, muitas pistas saltariam aos olhos.
De cara, é possível notar que,
nesse cumprimento, FHC aparece usando o braço direito e Lula o esquerdo. Mostra
ainda que FHC usa um suéter na cor vermelha e sugestiva de algum gosto,
ideológico, por esse matiz, enquanto Lula parece metido num velho paletó na cor
cinza azulado, indefinível como uma esfinge.
Na foto, FHC, a despeito da
diferença de idade com Lula, aparenta ser mais novo e conservado, enquanto o
cacique, do que ainda resta do Partido dos Trabalhadores, se mostra envelhecido
e corroído pelo tempo e pelos excessos, que não foram poucos.
No olhar de ambos, também se nota
uma diferença básica. Enquanto FHC parece exibir um olhar mais risonho, talvez
de deboche, Lula tem nos olhos aquela expressão de desconfiança, próprio
daqueles que não confiam em ninguém, talvez já nem em si próprio.
O tempo passado na prisão, deu a
Lula aquele ar assustado próprio de ex-prisioneiros temerosos de que algum dia
possam voltar à cela. O fato é que o tempo passou para ambos, mas apenas Lula
não viu.
Em sua época, enquanto os
holofotes ainda iluminavam sua figura, FHC teve a chance de ouro de fazer, como
todo o presidente, seu sucessor, abrindo caminho para a consolidação de uma
economia do tipo liberal, como proposta por sua equipe econômica. Preferiu
seguir como um tipo de ativista universitário, dando passagem para Lula e para
tudo o que ocorreu em seguida.
Nesse sentido, FHC é um dos
artífices do Lulopetismo, embora tenha sido perseguido e renegado pela turma
que o ajudou a colocar no poder. Há quem diga que, hoje, Lula mais se parece
com um Maluf de esquerda, embora o que lhe falte em capacidade de trabalho,
sobre em perspicácia e malabarismos políticos. Nesse caso, é preciso
notar que Lula, em sua época, também foi cumprimentar Maluf, dentro do que se
pode conceber como um falso jogo de cintura política, já que ambos são cara e
coroa da mesma moeda fundida em São Paulo.
No almoço, em que foram seladas
possíveis estratégias para derrotar Bolsonaro em 2022, patrocinado pelo
onipresente e ex-ministro Nelson Jobim, um sucessor de Márcio Thomás Bastos,
nas táticas de livrar Lula de enrascadas com a lei, o cardápio servido foi,
como não podia deixar de ser, a pavimentação para um possível retorno de Lula
ao Palácio do Planalto, quem sabe, levando a tiracolo José Dirceu, Jean Willis,
filiado ao PT, Gleisi e toda trupe, numa espécie de revival do inferno zodiacal
do Brasil, a aprisionar o país num passado que não passa e num futuro que não
chega.