Sem medo dos 50
De repente,
percebi que envelheci. A pele não apresenta mais o mesmo viço; os fios brancos
insistem em se multiplicar; a visão, antes motivo de orgulho, só funciona com a
ajuda de óculos; e os movimentos do corpo já não são tão rápidos. O processo é
natural, quase imperceptível. Foi assim, do dia pra noite, que me dei conta de
que tinha completado 50 voltas em torno do Sol.
Posto dessa
forma, pode até parecer que a chegada da nova idade tem sido melancólica ou
negativa. Mas não é bem assim. A duras penas, tenho aprendido que mais vale ter
o tempo como aliado do que como inimigo. E essa percepção, com certeza, não
tinha aos 20 ou até aos 40 anos. Até porque o tempo tem essa vantagem: traz
sabedoria.
Não que
exatamente, como em um toque de mágica, tenha me tornado uma pessoa sábia. Mas
o tempo, mais uma vez ele, tem me ensinado muita coisa. Hoje, sei em quais
brigas vale a pena entrar e que preciso me preocupar menos com o que as outras
pessoas pensam — ou falam — de mim. Serenidade não seria a palavra mais
apropriada para definir este momento. Afinal, em meio a uma pandemia, manter a
ansiedade sob controle é tarefa para os fortes, independentemente de idade.
A mudança de
década também tem me feito refletir mais sobre uma palavra que, há até bem
pouco tempo, não fazia parte do meu vocabulário: etarismo. Criada pelo
gerontologista Robert Butler, em 1969, para definir uma forma de preconceito
relacionado com a idade e direcionada aos idosos, a expressão ganhou força em
países como os Estados Unidos e, há pouco, tem começado a se ouvir falar no
Brasil. Não tanto quanto deveria.
A sociedade
precisa encarar que estamos envelhecendo. Se, antes, esse era um processo
natural, com a pandemia, acelerou-se — pela primeira vez, no país, há mais
mortes que nascimentos. Precisamos construir uma comunidade mais inclusiva, em
que todos os “ismos” sejam abolidos: sexismo, racismo e, por que não, etarismo.
E, nessa
equação, infelizmente, as mulheres andam em desvantagem. Em uma sociedade que
enaltece padrões estéticos em que a juventude costuma ser o centro de tudo,
somos nós as maiores vítimas de etarismo. Nem a diva pop Madonna se livrou dos
preconceitos. Depois de propagar uma fake news em suas redes sociais, ela
sofreu ataques terríveis. Foi chamada pejorativamente de “velha” e “gagá”. O
fato de ter divulgado uma informação falsa ficou em segundo plano e deu vez a
uma discriminação latente.
Não é fácil
envelhecer. A nova idade, recém-completada, me deixou mais reflexiva. Tenho
muito orgulho dos meus 50 anos, e o fato de estar envelhecendo não tolherá os
meus sonhos, mas muda a perspectiva de como realizá-los.
Sibele Negromonte – Correio Braziliense