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Lázaro e a percepção coletiva

Lázaro e a percepção coletiva

 

A situação de busca por Lázaro, devido a todos os crimes que cometeu, mexe com o medo das pessoas, mesmo daquelas que não moram perto de onde ele está foragido. Esse caso poderia se passar em qualquer lugar, tendo em vista a peculiaridade do Brasil: um país com muitas áreas de mata próximas às cidades. É fácil se identificar com esse contexto. O caso mostra, também, a fragilidade do ser humano. Temos a falsa ideia de segurança, o que implica muito no sentimento das pessoas, que questionam como tantos profissionais treinados, de diversas forças de segurança federais e de dois entes da Federação, não conseguem pegar um homem.

 

A noção de segurança abalada pode gerar todo tipo de resposta nas pessoas. Algumas, inclusive, violentas, como forma de defesa. É difícil prever o que exatamente poderia ser feito por esses cidadãos. Não há uma forma ideal de buscar proteção. E, de maneira geral, trata-se de um caso que desperta o interesse coletivo.

 

O termo “serial killer” (assassino em série) não é o mais adequado para definir Lázaro, pois as histórias por trás dos crimes que ele cometeu até agora são diferentes entre si. Ele se assemelha a um psicopata do modelo padrão: uma pessoa com transtorno de personalidade. Em alguns casos de psicopatia, infelizmente, a única solução é retirar completamente a pessoa do convívio em sociedade, porque, se for presa, continuará a cometer crimes depois da eventual soltura. Na medicina, é complicado atestar isso com certeza, mas, considerados os casos clássicos, não é possível ensinar ou reeducar psicopatas.

 

O transtorno de personalidade faz parte da pessoa. É um traço do genótipo do indivíduo. É extremamente difícil alterar a personalidade de alguém, porque a origem está na genética, e essas características de distúrbio serão carregadas pela pessoa até o fim da vida. Alguém com transtorno de personalidade pode ter traços mais afetivos — o que não quer dizer que, obrigatoriamente, apresentará tais características. Muitos aparentam levar uma vida normal, sem exclusão de traços afetivos. E isso é possível se as pessoas por quem esses indivíduos sentem afeto não estiverem no caminho deles. Caso contrário, esse sentimento é deixado de lado.

 

Quanto mais dimensão é dada ao caso, tanto pelas forças de segurança quanto pela imprensa, mais a sociedade se sente indefesa. Faz parte do raciocínio básico questionar a capacidade e efetividade da proteção policial à população, dada a demora em capturar uma pessoa. Caso saiba da repercussão nacional que tem tido, Lázaro pode se alimentar dessa projeção. Ele é um sujeito que dificilmente se entregaria à polícia, porque não tem medo. Esse é um traço do transtorno de personalidade: a pessoa determina um objetivo e vai até o fim para cumpri-lo.

 

Se Lázaro realmente teve ajuda de outras pessoas, é quase improvável que tenha sido de outros com o mesmo transtorno. É raro dois psicopatas agirem em conjunto, porque cada um se comporta de acordo com as próprias regras. É muito incomum que as normas de um se encaixem nas do outro. Pessoas assim podem ser parecidas, mas são muito diferentes umas das outras e têm diferentes planos traçados. Esses supostos comparsas devem ter algum outro interesse em ajudá-lo — e isso deve ser respondido pelas investigações do caso.



Raphael Boechat Barros, professor de psiquiatria da Universidade de Brasília (UnB). Fotos/Ilustração: Blog-Google.



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