Era mais uma segunda-feira de
muito calor para o marinheiro Antônio Sampaio, de 52 anos. Ceará, como é
conhecido pelos amigos, havia acabado de finalizar os preparativos de algumas
embarcações no Clube da Aeronáutica, onde trabalha, quando decidiu se refrescar
no Lago Paranoá. O mergulho o transformou em notícia. Quando submergiu, uma
capivara subiu em suas costas e desferiu dentadas sobre o homem. (Vídeo....)
O morador de São Sebastião foi
socorrido por um motorista do clube que o levou até o Hospital Regional da Asa
Norte (Hran). Lá, ele foi medicado, recebeu pontos e curativos. “Passaram
antibióticos, e estou em casa, me sentindo bem e sem dores”, afirma.
Passado o susto, o episódio
protagonizado pelo roedor ganhou versões bem-humoradas nas redes sociais sobre
o suposto “dia de fúria” da capivara. A espécie, residente do lago, na maioria
das vezes, não se aproxima ou ataca humanos, mas, ontem, no Dia Internacional
da Capivara, abriu uma infeliz exceção.
Pacíficos: De acordo com o especialista em zoologia e
professor no Departamento de Ecologia da Universidade de Brasília (UnB) André
Mendonça, o caso foi isolado. “No vídeo, o que me parece é que foi um ataque
eventual. A capivara simplesmente se assustou com o senhor e, como é um animal
selvagem, se defendeu. Mas você nota que ela não vai atrás do banhista. Ela
morde e vai para o outro lado”, ressalta.
Ele explica que é comum ver as
capivaras andando em grupo. Em áreas urbanas, o bando pode chegar a ter 40
indivíduos, sendo formado por um macho dominante, as fêmeas, outros machos e
filhotes. “Como elas vivem em bando e são roedores, se reproduzem muito e é
comum estarem com filhotes. O que tende a ser mais agressivo é o macho
dominante, mas é em casos extremos. Normalmente, ele é mais agressivo com
outros machos de capivaras do que com pessoas mesmo”, explica.
Para quem admira a espécie, a dica
é observar de longe. “Se você chegar perto, ela vai tentar se distanciar. Se a
pessoa insistir em se aproximar, a capivara pode reagir”, pontua André,
garantindo que as capivaras são tímidas. “Quando encontram alguma pessoa, elas
fazem um barulho parecido com um latido e fogem para a água ou para a mata.
Elas só reagem quando se sentem acuadas”, esclarece o zoologista.
Alerta: O Batalhão da Polícia Militar Ambiental (BPMA)
destaca que os nadadores da Orla do Lago Paranoá devem ficar atentos aos
animais. “Se o banhista estiver dentro d’água e vir um animal desses é
recomendado não se aproximar ou mesmo sair da água”, alerta.
Os militares esclarecem que se a
capivara não atacou ninguém e está em vida livre, no seu habitat natural, não
há necessidade de chamar nenhum órgão estatal. No entanto, caso já tenha havido
um ataque, a primeira coisa a se fazer é socorrer a vítima, podendo acionar o
Corpo de Bombeiros pelo telefone 193 ou a Polícia Militar para o resgate pelo
telefone 190. Caso a pessoa seja mordida, é necessário procurar o mais rápido
possível um hospital para que a vítima seja medicada e tratada. (Antônio
Sampaio foi surpreendido pelo ataque de uma capivara)
Procurada pela reportagem, a Sema
destaca que o projeto está em andamento desde agosto. A professora de zoologia
da Universidade Católica de Brasília Helga Wiederhecker, que coordena as
pesquisas, destaca que o trabalho permitirá identificar onde há prevalência dos
grupos, tamanho das espécies e relacionar estas informações com outros estudos
sobre o lago. “Com isso, conseguiremos descobrir as melhores formas de evitar
acidentes como ocorrido esta semana”, acredita.
Helga ressalta que fatos como o de
Antônio são incomuns. “Estas situações recentes são intrigantes e despertam
hipóteses sobre o que está favorecendo esses conflitos. Neste sentido, o
levantamento que já está em curso poderá responder se estes eventos ocorrem em
áreas que estão sempre ocupadas ou se estas capivaras se sentem mais ameaçadas
na água”, conclui.
Caso recente: Em fevereiro, um morador do condomínio Life Resort,
localizado no Setor de Hotéis de Turismo Norte (SHTN), foi mordido por capivara
enquanto fazia exercícios na orla do Lago Paranoá. Após o ocorrido, ele foi
encaminhado para o hospital com ferimentos na perna, na mão, nádegas e
virilha.
Segundo outro residente do
condomínio, a vítima estava encostada no píer com as pernas dentro d’água
quando houve o incidente. Uma placa de advertência sobre a presença dos animais
foi colocada na entrada de acesso ao deck para os moradores.