Força e Beleza sem
medo. No Outubro Rosa, ONG Recomeçar promove mostra fotográfica com pacientes
que enfrentam o câncer para dar visibilidade ao tema e alertar a população para
a importância dos exames preventivos
Em diferentes tons e formas, as silhuetas femininas
se apresentam fortes e audazes, postura digna de guerreiras vitoriosas.
Impressas em totens, as imagens de oito mulheres brasilienses que enfrentam o
câncer estão em exposição durante o mês de outubro em importantes espaços
públicos para lembrar aos visitantes que o diagnóstico de câncer de mama é,
acima de tudo, um irrenunciável convite à batalha. A partir de hoje, como parte
das ações do Outubro Rosa, Senado Federal, Palácio do Buriti e Câmara
Legislativa do DF recebem a exposição fotográfica Simplesmente Amor, uma
iniciativa da ong Recomeçar — Associação de Mulheres Mastectomizadas de
Brasília para sensibilizar sobre a doença e dar visibilidade a algumas das
protagonistas por trás das estatísticas. A exposição também alerta que, com o
diagnóstico precoce e o tratamento adequado, o câncer de mama não é,
necessariamente, uma sentença de morte.
A força e beleza dessas mulheres foram captadas
pelas lentes da fotógrafa Luciana Ferry com intuito de levar uma mensagem de
esperança para outras pessoas doentes. Joana Jeker, 45 anos, presidente da ong
e uma das personagens da exposição, fala sobre a importância desse tipo de
abordagem. “Fazemos essa ação desde 2013 e temos repetido por impactar muito as
pessoas em geral, não só as mulheres, que estão passando pelo tratamento. A
partir da visualização das imagens de mulheres que estão vencendo a doença e
tratando de uma forma positiva, isso passa a motivar outras queviven o mesmo
processo”, afirma.
Joana destaca que muitas vezes o diagnóstico
fragiliza a paciente e que ao ter a mama afetada muitas ficam inseguras sobre a
própria beleza. “O tema dessa exposição será o autoabraço, o autocuidado, o
amor-próprio. São mulheres que se amam, se cuidam e são empoderadas a partir da
informação sobre a doença e o tratamento que realizaram”, explica. Um amparo
que a ong oferece a muitas pacientes, tanto por meio da escuta e projetos como
a exposição, como por meio da doação de próteses. “O maior projeto da
instituição é a doação de próteses e sutiãs adaptados para mulheres que foram
mastectomizadas. Desde 2014, temos uma sala no HRAN para realizar esse
atendimento”, complementa.
A diarista Joelma Carlos da Silva, 42 anos, está
entre as atendidas pela iniciativa. Ela conta que descobriu a doença
recentemente e ainda está passando pelo tratamento. Mãe de dois filhos, o
convite para participar da exposição trouxe alegria e ânimo para ela. “Às vezes
eu me olho no espelho e me sinto feia, triste, vendo como eu era antes e como
estou agora. Por isso, quando eu fui convidada para participar da exposição eu
fiquei muito feliz e emocionada. Fazia tempo que eu não me via tão bonita do
jeito que eu fiquei. Aquela sexta-feira, para mim, foi muito importante, minha
autoestima melhorou”, emociona-se.
Prevenção: O câncer de mama é o segundo mais
frequente no mundo e o primeiro entre mulheres. No Brasil, é a principal causa
de mortes de mulheres. Se por um lado as estatísticas assustam, os exames
preventivos para um diagnóstico precoce podem fazer toda a diferença. De acordo
com a oncologista Rosângela Andrade, a identificação do câncer precocemente
aumenta as chances de cura e da melhora da qualidade de vida das pacientes.
“Identificar o câncer de mama nas fases iniciais ou o diagnóstico precoce — que
trata da abordagem de pessoas com sinais e/ou sintomas iniciais da doença — é
umas das grandes estratégias para um tratamento eficaz e aumenta muito as
chances de cura. Com perspectivas melhores, muitas vezes os impactos da doença
são minimizados”, constata.
Ela explica que para que exista a intervenção
prematura, a prevenção é fundamental. “Nessa estratégia, destacam-se a
importância da orientação de mulheres para o autoexame nas mamas, o
reconhecimento dos sinais e sintomas suspeitos por parte dos profissionais de
saúde, bem como o acesso rápido e facilitado aos serviços de saúde de
referência para investigação diagnóstica”, esclarece. Além disso, a oncologista
alerta para que as pessoas mantenham hábitos saudáveis.
Autoamor: A artesã Cíntia Cerqueira, 45
anos, descobriu a doença a partir de uma campanha do Outubro Rosa. Ela ressalta
que a exposição é necessária para as mulheres que estão enfrentando essa luta.
“Elas estão passando por isso, mas não estão sozinhas. A doença é difícil, mas
há um outro lado, a gente consegue se sobressair, além de passarmos a mensagem
de que é preciso fazer os exames regularmente”, frisa.
A artesã tem procurado retirar importantes lições
desse processo e afirma que é preciso se amar, independente do tipo de corpo.
“Eu não tenho mais a mama e me amo. Amo meu corpo, hoje, do jeito que ele é.
Não tenho vergonha. Vejo minhas cicatrizes e sinto orgulho, de tudo que eu já
passei e venci, eu me amo dessa forma. Mesmo com as marcas, as assimetrias da
mama, eu vejo como um ponto positivo para todas que estão passando por isso”,
enfatiza orgulhosa.
Segundo a psicóloga Letícia Rosa, o sistema
imunológico tem ligação direta com o emocional. “Estão diretamente
interligados. Quadros depressivos costumam prolongar a internação e dificultar
a resposta do corpo ao tratamento adotado. O desânimo, associado a tristeza, em
alguns casos é encarado pelo próprio corpo do paciente como desistência.
Desistência de si e da própria vida. Entretanto, em outros casos pode ser
apenas um período de descanso diante de uma doença tão assustadora”, esclarece.
Ela afirma que o apoio psicológico, em muitos
casos, é necessário. “O empoderamento desta mulher é fundamental para sua
autoestima e auxilia muito no tratamento médico em curso”, explica.
Exposição fotográfica Simplesmente Amor: De
30 de setembro até 29 de outubro: Locais: Senado
Federal, Palácio do Buriti e Câmara Legislativa do DF
No Dia Internacional de Combate ao Câncer de Mama, 19, das 19h às 22h, serão projetadas no prédio principal do Congresso Nacional frases de conscientização sobre a doença, dados da incidência no país e fotos da exposição. Mais informações em: ( https://www.recomecar.org/ )