Basta olhar para uma das mãos para
se ter ideia da tragédia cada vez mais frequente na vida dos nossos
adolescentes. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
revelam que uma em cada cinco estudantes brasileiras, de 13 a 17 anos, sofreu
violência sexual. A Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) 2019
entrevistou mais de 160 mil estudantes na faixa etária. Meninos também
revelaram abuso — 9% disseram ter sido importunados sexualmente e 3,6%
obrigados a fazer sexo.
É possível que eu conheça uma
delas ou um deles. É possível que você também conheça. Para além do crime
odioso — geralmente praticado por pessoas próximas dos jovens como namorados,
vizinhos ou familiares, a crueldade do abuso está na manipulação da vítima,
que, em muitos casos, é ameaçada, chantageada, desacreditada, de forma que não
vê a denúncia como uma opção. Precisamos mudar esse quadro. E isso se faz com
informação e diálogo.
Esse tipo de crime não pode ser
visto como casos particulares, problemas familiares. É uma violência
contra todos nós enquanto sociedade. E pode estar muito perto, escondido num
olhar triste, numa atitude de isolamento, na agressividade, no mau desempenho
escolar e, mais abertamente, em marcas físicas não explicadas. Se queremos criar
crianças e jovens para um futuro melhor, mais feliz, precisamos estar atentos.
Pais devem conversar abertamente
sobre o assunto, de forma tranquila, demonstrando que estão e estarão sempre ao
lado dos filhos. Precisam explicar que o toque não consentido, o beijo
“roubado”, a exposição, a relação forçada, ainda que seja com uma pessoa
próxima, são abusos. Que, sendo abusos, devem ser punido, e não silenciados. E
devem ser denunciado à polícia.
Também os professores são de vital
importância nesse processo de esclarecimento, o que ressalta a urgência da
educação sexual nas escolas, onde o tema deve ser estudado, debatido sem
preconceitos. Os mestres, particularmente, em suas salas de aula, podem
identificar mudanças comportamentais que indiquem casos de abuso e tornarem-se
elos para, com as famílias, formarem uma corrente de proteção aos nossos
estudantes. É preciso olhar mais atentamente para os nossos alunos e não só
ensinar. Precisamos aprender a ler os sinais.
Quem sabe, dessa forma, possamos
zerar o índice de meninas (29%) e meninos (13%) entre 13 e 17 anos que, de
acordo com a PeNSE, acham que a vida não vale a pena? Está nas nossas mãos
mudar essa realidade.