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Cresce o número crimes digitais durante a pandemia no DF

Mais crimes digitais durante a pandemia. DF registrou, nos primeiros semestres de 2020 e 2021, um aumento de mais de 200% nessas ocorrências, quando comparado ao mesmo período de 2019. Para especialista, crise sanitária acelerou transações e fraudes no ambiente virtual

 

O Distrito Federal registrou aumento de mais de 200% nos crimes praticados pela internet durante a pandemia da covid-19. No primeiro semestre de 2021, foram 6.545 ocorrências, contra 1.827 no mesmo período de 2019. Em 2020, os números foram ainda maiores: 8.169 registros de golpes digitais nos seis primeiros meses do ano. Os dados são da Secretaria de Segurança Pública do DF (SSP-DF). Para especialistas, a crise sanitária acelerou transações no ambiente virtual e, consequentemente, os golpes.

 

Segundo a Polícia Civil do DF (PCDF), os criminosos costumam utilizar redes sociais ou plataformas de venda para aplicarem os golpes, seja se passando por alguém, seja prometendo falsas promoções. Vítimas relatam que a forma de contato é aprimorada. Especialistas alertam para a necessidade de estar sempre desconfiado de situações inusitadas e de denunciar os crimes a fim de apoiar o combate. 

 

A servidora pública Maria Angélica Nunes, 50 anos, conta que, apesar de perceber o aumento dos crimes digitais entre amigos, não esperava que fosse se tornar vítima. “Eu comecei a receber mensagens de um homem dizendo ser representante de um restaurante que frequento. Ele dizia que eu tinha ganhado uma promoção e iria receber um voucher de R$ 199 para usar no local”, diz.

 

Seguindo os passos indicados nas mensagens, ela recebeu um link por e-mail, que, supostamente, daria acesso ao voucher. “Quando cliquei, meu WhatsApp foi aberto imediatamente e começaram a aparecer mensagens na tela. Quando me dei conta, fui para outras redes sociais avisar que havia sido clonada”, lembra. Maria afirma que o golpista mandou mensagem para familiares e amigos pedindo dinheiro via PIX. “Meu irmão me ligou perguntando por que eu precisava de R$1 mil”, diz. Por sorte, nenhum contato de Maria chegou a transferir o dinheiro. “Foi um estresse, tive de trocar de número e registrei boletim de ocorrência. Agora, fico mais atenta e esperta a essas promoções ou coisas parecidas”, complementa.

 

Segurança: O presidente da Comissão Nacional de Cibercrimes, da Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas (Abracrim), Luiz Augusto D’Urso, cita que as pessoas precisam ficar atentas para não caírem em golpes. “A primeira coisa é ativar a autenticação de dois fatores nas redes. Assim, a conta terá mais segurança contra eventuais golpes e evitará invasão. Além disso, as pessoas devem checar pelas ligações telefônicas se é o conhecido ou familiar solicitando o empréstimo por mensagem”, ressalta.

 

D’Urso pontua que é válido verificar as mudanças de comportamento da pessoa que está falando por mensagem. “O criminoso, normalmente, altera a forma da escrita e comete erros de português em razão da escolaridade, em regra, e da necessária escrita rápida. Como precisa acelerar o convencimento, não pode deixar a vítima repensar”, analisa. Para o especialista, a pandemia da covid-19 acelerou a evolução do ambiente virtual e fez com que as pessoas realizassem mais transferências, negócios e compras pela internet. “Os crimes tendem a migrar para a internet também”, explica. 

 

A médica Marília Evangelista, 29, conta que, apenas com familiares, a tentativa de golpe por WhatsApp ocorreu duas vezes em 2021. “Mandaram mensagem para o meu irmão, em junho, e para a minha mãe, em setembro, fingindo ser eu e pedindo um PIX. Por sorte, os dois perceberam que era golpe e não realizaram a transferência”, relata. Ela diz que fica impressionada com a capacidade dos criminosos de conseguir contatos. “Não sei como fazem isso. Como não perdemos dinheiro, não cheguei a denunciar, mas fico impressionada”, comenta. 

 

Denúncias: O delegado da Delegacia Especial de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCC), Giancarlos Zuliani, afirma que a denúncia é importante no combate aos crimes cibernéticos. “O estelionato foi o que mais disparou pela internet. Se a pessoa perceber que caiu em um golpe, ela precisa registrar um boletim de ocorrência, e é importante que tenha a maior quantidade de dados sobre o crime como: número ou nome de usuário que aplicou o golpe, dinâmica, dia, entre outros”, diz. 

 

Zuliani explica que, após receber uma denúncia, a Polícia Civil começa a rastrear o suspeito. “A gente faz rastreamento para saber de onde veio o golpe. Geralmente, são pessoas de outros estados, e só as vítimas são do DF. A maioria (dos golpistas) é de São Paulo, Goiânia, Mato Grosso e do Norte do país”, comenta. O delegado ressalta a necessidade de se verificar com quem está falando. “Ligue e, se possível, por vídeo, para confirmar que realmente é a pessoa que está falando com você”, complementa o delegado.


Como denunciar: Telefone: 197 ou (61) 3207-4892WhatsApp: (61) 9 8626-1197Registrar ocorrência on-line: ~~~~ delegaciaeletronica.pcdf.df.gov.br


Palavra de especialista: Responsabilidade das empresas “Por mais que a empresa não esteja causando o golpe em si, ela tem uma parcela de culpa pela representatividade que tem no mercado. Ou seja, as pessoas têm confiança nela. O que pode ser feito pelas corporações é a adoção de medidas para ajudar a combater esse tipo de fraude. Criar mecanismos para que o usuário consiga distinguir o que é real e o que é fraude.  

 

No caso do WhatsApp, é muito improvável que a plataforma consiga impedir por completo um golpe. Ela pode implementar mecanismos de denúncia para facilitar o atendimento às vítimas. Além disso, seria interessante criar um mecanismo de barreira para se começar a usar o aplicativo e, assim, dificultar os golpistas a entrarem na plataforma. 

 

No âmbito judiciário pode ser constatada uma omissão da empresa em casos de golpes e crimes digitais e ela pode ser prejudicada. Mas isso deve ser avaliado caso a caso. Além disso, ainda é complicada a comunicação entre as plataformas e a polícia. Então, chegar à localização do golpista é algo difícil. Se essas plataformas pudessem facilitar a identificação de quem está por trás do golpe seria interessante. (Leonardo Miranda, especialista em tecnologia e e-commerce) 



Samara Schwingel - Pedro Marra – Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press – Correio Braziliense


 


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