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Viagem no tempo ~~~ os “zebrinhas” vão voltar!

(Crédito: Secretaria de Transporte e Mobilidade)

Viagem no tempo

 

Li no site do Correio que o GDF vai reativar o transporte de vizinhança. Sim, os “zebrinhas” vão voltar! Sucesso nos anos 1980, os ônibus no estilo caixote marcaram uma geração de brasilienses, com suas cores vermelha e branca. A versão 2022 dos simpáticos veículos — eles começam a circular no ano que vem — é bem mais moderna, como deve ser, mas as cores estão mantidas. Bateu certo saudosismo.

 

Os zebrinhas fazem parte de uma época romântica de Brasília, onde tudo parecia funcionar bem. Achávamos que a dupla policial Cosme e Damião, a Rocan (Ronda Ostensiva Candanga) e a Onda Verde dos semáforos na W3 eram um sucesso. Muita coisa dava certo, sim. Até a saúde e a educação, de certa maneira. Mas a capital era muito diferente da cidade que hoje conhecemos. 

 

Nessa viagem tipo “túnel do tempo”, quero focar no transporte. Tenho a percepção de que a volta do transporte de vizinhança e seus zebrinhas pouco vai contribuir para a solução de problemas de mobilidade em Brasília, em especial os do Plano Piloto, que tem engarrafamentos cada vez mais constantes e a crônica falta de vagas.

 

Mas acho válido o teste. A ideia inicial para o zebrinhas sempre foi interessante: ligar áreas residenciais a setores centrais e comerciais, encurtando caminhos e fugindo das vias principais, como L2, W3, Eixão e Eixinhos. Mas, há 10 anos, esses ônibus estão fora do sistema e, muito antes, já não empolgavam os passageiros. Restritos à área central de Brasília, às asas Sul e Norte, ao Cruzeiro e à Octogonal, eram para um público limitado. Temo que o retorno despeje maior quantidade de veículos nas ruas sem contrapartida de passageiros.

 

Patinamos em propostas para a mobilidade urbana. São ideias sem consenso e que dificilmente saem do papel. Os estacionamentos pagos têm projetos governo após governo, mas sofrem resistência titânica. As tais vagas subterrâneas viraram lenda. E o VLT morreu antes mesmo de nascer...

 

A conta nas principais cidades do Distrito Federal continua a não fechar. Há carros demais, com ruas e vagas de menos. A saída, por mais óbvio que possa parecer, é reduzir o número de automóveis nas vias e focar no transporte público. Mas como convencer alguém que investiu tanto num veículo novo a desistir de andar com ele, mesmo com a gasolina a R$ 7? E os motoristas de aplicativo? Mais do que para transporte de passageiros, os muitos apps são a tábua de salvação para a falta de emprego.

 

Planeja-se a expansão do metrô e a implementação de novos corredores de ônibus. Algumas obras viárias, como o túnel de Taguatinga e o complexo da Epig, são extremamente necessárias há tempos e amenizam problemas, mas não os resolvem integralmente.

 

Apesar do meu ceticismo sobre a eficácia do novo sistema em tempos tão diferentes — posto que foi idealizado há 40 anos —, escolhi ter uma visão romântica sobre os zebrinhas. Afinal, eles se transformaram num símbolo de Brasília. E uma cidade precisa preservar sua memória.



Marcelo Agner - Correio Braziliense


 


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