Casa do Cantador
foi inaugurada em 1986, a partir da reivindicação de representantes da cultura
nordestina em Ceilândia, e recentemente passou por reforma que custou mais de
R$ 282 mil
Foi declarado
patrimônio imaterial em 11 de novembro. Para celebrar o feito, a Casa do
Cantador, em Ceilândia, promove um show neste sábado (27), às 20h. O evento é
também uma comemoração aos 35 anos do espaço cultural, completados no último
dia 9 de novembro. Sobem ao palco, além de Fenelon, Geraldo Amâncio (CE) e dois
artistas nordestinos radicados em São Paulo – Pardal da Saudade e Azulão da
Mata. A entrada é franca para 250 pessoas, por ordem de chegada e com exigência
do cartão de vacinação completo, com transmissão também pelo canal da Casa do
Cantador no YouTube. ~( https://www.youtube.com/user/casadocantador )
“A Casa do Cantador é
uma joia que une mundos. Os cantos do Nordeste com os desse sertão profundo,
cravado no meio do Brasil” (Bartolomeu Rodrigues, secretário de Cultura e
Economia Criativa)
Inaugurada em 9 de novembro de 1986, a partir da reivindicação de representantes da cultura nordestina em Ceilândia, a Casa do Cantador exibe na entrada a estátua Cantador Anônimo, do escultor cearense Alberto Porfírio. O espaço conta com a “cordelteca” João Melchiades Ferreira, dotada de acervo de 1.200 cordéis e livros, e disponibiliza para a comunidade salas multiuso e anfiteatro.
Frequentador típico da
Casa do Cantador e “apoiador” do repente (contribui para pagar os artistas),
Rafael Pereira do Amaral é do Piauí. Pôs os pés em Brasília quando a poeira mal
tinha baixado, em 1963, com 23 anos. “Cheguei sozinho e estou aqui até agora.
Tenho uma família com oito filhos. Graças a Deus, todos casados”, apresenta-se.
“Estamos fazendo a
cantoria voltar para o lugar de onde ela veio. Se já teve muito mais aceitação
no passado, andava um pouco esquecida” (Geraldo Amâncio, cordelista)
É sobrinho de Firmino
Teixeira do Amaral (1896-1926), autor da estória de cordel Peleja de
Cego Aderaldo com Zé Pretinho do Tucum (1916), um dos principais
autores da outrora famosa Editora Guajarina, líder em sua época na região
Norte. Rafael é uma pessoa que exemplifica o repente como prática que remonta
ao passado distante e renova forças para seguir adiante com o registro pelo
Iphan.
Repente é
patrimônio: A inserção do repente pelo Instituto do Patrimônio Histórico e
Artístico Nacional (Iphan) no Livro de Registro das Formas de Expressão de Bens
Imateriais eleva essa arte ao nível de outras expressões populares – como
cordel, capoeira e maracatu, por exemplo – que se tornam elegíveis para
políticas públicas afirmativas.
“Estamos fazendo a
cantoria voltar para o lugar de onde ela veio. Se já teve muito mais aceitação
no passado, andava um pouco esquecida”, pontua Geraldo Amâncio, com 12 livros
publicados e dezenas de cordéis e CDs.
João Santana, presidente da Acrespo: “Somos um povo que tem uma diversidade muito rica de manifestações artísticas populares, e o repente é uma delas”
Presidente da
Associação dos Cantadores Repentistas e Escritores Populares do DF e Entorno
(Acrespo), João Santana afirma que o registro “fortalece a nossa identidade
cultural. Somos um povo que tem uma diversidade muito rica de manifestações
artísticas populares, e o repente é uma delas”.
Sobre as oportunidades
de trabalho acenadas pelo impulso de políticas públicas, ele espera que “os
mecanismos de fomento cultural olhem com mais atenção para a gente”. João,
repentista e músico há mais de 20 anos, entende que o repente historicamente
tem sido ofuscado por manifestações culturais de maior apelo mercadológico, o
que lhe reduz a visibilidade midiática.
“A gente precisa de um
sindicato forte para que, no futuro, o repentista possa se aposentar na sua
arte. Não sei se vou me beneficiar disso, mas se meus futuros colegas
conseguirem, a luta terá valido” (Zé do Cerrado, gerente da Casa do Cantador)
Chico de Assis
(Francisco de Assis Silva), ex-presidente da Acrespo e parceiro de João
Santana, acredita que as políticas públicas vão ajudar na qualificação dos
artistas do repente. “As oportunidades surgem mais para aqueles que se
qualificam, que buscam cantoria com qualidade, que estudam”, acredita.
O gerente da Casa do
Cantador, o artista Zé do Cerrado, comemora a notícia do registro com uma rima:
“O repentista é o único artista no mundo que faz uma música num
segundo”. “Muito bem-vinda essa novidade para o repente. [O registro] do
forró também tá chegando. A gente precisa de um sindicato forte para que, no
futuro, o repentista possa se aposentar na sua arte. Não sei se vou me
beneficiar disso, mas se meus futuros colegas conseguirem, a luta terá valido”,
afirma.
Pesquisa: Foi o
professor do Departamento de Antropologia da Universidade de Brasília (UnB)
João Miguel Manzolillo Sautchuk que coordenou a construção do dossiê para obter
no Iphan o reconhecimento documentado da arte.
“Em 2009, cantadores
reunidos aqui em Brasília, do Nordeste, de São Paulo, de vários lugares,
começaram a conversar sobre isso. Houve um encontro com o pessoal do Iphan. O
pedido foi feito, em 2013, pela Acrespo”, relata.
Ele explica que, na
fundamentação do documento, foi importante mostrar a abrangência da arte, a
antiguidade histórica, seus significados, os locais onde existe, suas
principais práticas, a perspectiva de trabalho para quem vive dela.
Em 2020, houve a
entrega do dossiê, incluindo sugestões de políticas de salvaguarda. O dossiê,
além de textos e fotos, inclui o curta Canta, Poeta (nove
minutos) e o longa De Repente, Cantoria (70 minutos).
Aniversário de 35 anos da Casa do Cantador~Sábado, 27 de novembro, a partir das 20h~Entrada por ordem de chegada, limitada a 250 lugares~Endereço: QNN 32, área especial, Ceilândia Sul~Contatos: (61) 98473-7709 (Whatsapp) e (61) 3378-5067