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Sindoval Eneias: "Uma lembrança na memória e na pele...."

Uma lembrança na memória e na pele. Sindoval Eneias, homem presente em imagem histórica do início de Brasília, vai se encontrar com a filha de Jankiel Gonczarowska, fotógrafo responsável pelo registro há mais de 60 anos

Uma fotografia é ponto de intersecção de histórias de duas famílias distintas. A imagem mostra um ônibus chegando para trazer trabalhadores para construção da nova capital. O fotógrafo, Jankiel Gonczarowska, um apaixonado por Brasília, publicou em uma matéria da revista Manchete em 1957. Contudo, ele não imaginava que também estava mostrando na foto o início da trajetória de um pioneiro.

Gonczarowska, foi um importante fotojornalista que atuou em alguns dos principais jornais do país. Ele tem um extenso trabalho de cobertura política, tendo acompanhado diversos presidentes. A partir de 1956, acompanhou de perto a campanha e a eleição de Juscelino Kubitschek. No ano seguinte, foi designado para fotografar o início das obras de Brasília. Na época, morando no Rio de Janeiro, ficou em uma ponte-aérea entre a antiga e a nova capital. Em uma dessas viagens, registrou um ônibus chegando com trabalhadores.


Essa foto ficou muito famosa, foi pendurada em museus como parte da história de Brasília e esteve em tamanho grande nas paredes do Bar Brasília e Bar da Brahma. Porém é mais importante ainda para uma pessoa, o homem que pode ser visto de pé na porta do ônibus. Sindoval Eneias, na época cobrador da Expresso Planalto e morador de Anápolis, largou tudo para participar da epopeia brasileira. Ao se ver na foto da revista, ficou muito orgulhoso e carregou essa história durante toda vida, se tornando uma imagem muito importante para toda família dele.

“Essa foto nos lembra do por quê de estarmos aqui e como viemos parar na cidade”, conta Lidi Satier, cantora de 40 anos e filha de Sindoval. Ela fala que o pai, atualmente com 80 anos, contou a vida inteira que esteve em uma edição especial da revista Manchete. “Eu fico sempre impressionada com o poder da arte. 64 anos depois da foto ser tirada, minha família sente orgulho de olhar para um fragmento da obra deste fotógrafo e se sente íntima dele”, acrescenta.

A fotografia tem tanta história que, em 2018, ficou marcada para sempre na pele de Lidi. A cantora tatuou o ônibus como homenagem ao pai. “Eu queria dar um presente a ele, e estava sem ideia. Resolvi tatuar a foto. Ele ficou super emocionado! A filha dele carregando a história dele no ombro”, conta.


No entanto, Lidi e Sindoval não sabiam quem era o autor da foto. Até que, um dia, o artista plástico Marcelo Jorge postou nas redes sociais a imagem. Após ser indagado por Lidi, contou que era uma fotografia de Jankiel Gonczarowska e que estaria no livro Brasil - duas décadas, duas capitais, da filha do fotógrafo Sandra Gonczarowska Mussi, que será lançado dia 11 de novembro.


Marcelo colocou as duas em contato. Sandra mora no Canadá desde os anos 1990, mas foi criada em Brasília e resolveu que lançaria o livro na cidade e, junto com o lançamento, aproveitou para marcar um encontro com Lidi e Sindoval. “Eu acho que por essa meu pai não esperava”, brinca Sandra sobre esse encontro inusitado “Fico muito feliz em saber que a fotografia é tão importante para a família dela, tão importante que ela tatuou no corpo próprio corpo”, pontua a filha do fotógrafo falecido em 1988.


“Meu pai é um candango anônimo, apenas mais um que entregou muito suor à construção de Brasília. Muitos veem esta foto e nem têm ideia que o menino mineiro na porta hoje tem 80 anos, teve três filhos, dois netos, e nunca mais saiu da cidade”, destaca Lidi. “Eu me sinto muito feliz, pois , com o lançamento do livro, finalmente vou poder dar ao meu pai uma cópia da foto em boa resolução”, brinca a filha do candango.


Coletânea Inédita: O trabalho apresenta registro fotojornalístico e pessoal de Jankiel Gonczarowska durante a mudança da capital do Rio de Janeiro para Brasília, com fotos da construção da nova capital e desse grande processo de transição na história do Brasil. A primeira parte da obra foca nas imagens da década de 1950 no Rio de Janeiro, enquanto a segunda é da década de 1960 em Brasília. O livro é uma coletânea inédita de fotos tiradas por Jankiel e conta com 171 imagens do acervo do fotógrafo.


Porém a ideia do livro partiu de um agrado para a família. Sandra fez uma edição dos trabalhos do pai para presentear os irmãos. Jankiel teve 13 filhos, porém como morreu no final dos anos 1980, não tendo conhecido boa parte dos netos e bisnetos. O livro era, portanto, para mostrar um pouco mais das imagens feitas por Jankiel para a própria família. Contudo, um dono de editora teve contato com o livro e afirmou que a obra deveria estar nas livrarias.


O livro Brasil- duas décadas, duas capitais terá lançamento 11 de novembro. “Eu vi a importância e orgulho que eu tenho do meu pai, foi lá que eu vi o sentido que meu pai dava para as reportagens”, conta Sandra.


“Estou muito feliz de poder compartilhar não só esse livro, mas a memória e o olhar lindo que ele tinha pelo Rio de Janeiro, por Brasília, pela fotografia e pela arte”, afirma Sandra. Ela aponta que é importante que mais pessoas tenham acesso ao material. “Ele tinha um olhar humano para todas as pessoas que ele fotografava, desde os mais simples nas favelas, até celebridades, grandes políticos, presidentes”, analisa.

Monumento baleado: Moradores da região de Planaltina divulgaram, nas redes sociais, imagens da Pedra Fundamental — Patrimônio Histórico do Distrito Federal — danificada e com marcas de tiros, ontem. Distante 46,5km do centro de Brasília, a estrutura foi erguida em 1922, no Morro do Centenário, em comemoração ao centenário da Independência. Para Djacyr Ferreira, moradora da região, encontrar o patrimônio deteriorado causa tristeza. “É uma pena que as pessoas estejam destruindo a benfeitoria. Se houvesse fiscalização e uma divulgação desse espaço, acho que seria algo bom para os moradores de Planaltina e turistas. Tem gente que mora por aqui há anos e não sabe que essa pedra existe”, relatou. Ela estava com a amiga Antônia da Silva, 30 anos, que não conhecia o obelisco. Procurado pela reportagem, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) não havia se pronunciado sobre o caso até o fechamento desta edição.


Pedro Ibarra – Correio Braziliense



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