Mais um soco no estômago, mais uma facada na alma, mais dias tentando sobreviver às histórias cruéis e às frias estatísticas. O feminicídio não é um crime que pune apenas assassinos em série — quando pune.
É uma chaga que expõe o tamanho do flagelo do
machismo na sociedade. É uma pena que sujeita a parcela feminina que trabalha,
luta, sustenta e cuida de famílias, grita por liberdade, apela por ajuda — e
ainda assim permanece frágil e indefesa diante do homem agressor e assassino.
Uma moça de 20 anos, Giovanna Peters, foi degolada
pelo sujeito — nem consigo chamar de namorado. Tanta vida pela frente, tantos
sonhos interrompidos, mais uma família mutilada, mais uma ferida exposta. Só
neste ano, 24 mulheres foram assassinadas no DF. Nos arredores, outro assassino
matou a mulher grávida e sua filha no Entorno. Depois, ainda tirou a vida de um
homem e tentou estuprar a mulher dele.
A dimensão dessas tragédias não pode e nem deve ser
medida apenas pela régua dos números. Com tantas mulheres cruelmente
assassinadas, morrem filhas e mães. Morrem a alegria, a força de trabalho, o
futuro, a esperança. Com Giovanna e tantas outras, morre um tanto de nós mesmas
e morre um bocado do Brasil que sonhamos.
É preciso ter consciência que cada um desses crimes
foi precedido por sinais, muitas vezes visíveis. Mulheres que não foram
ouvidas, protegidas, socorridas. Mulheres que, em algum momento, perderam a
percepção de que eram prisioneiras de uma relação calcada no machismo. As leis
existem, mas elas não são suficientes para evitar as mortes.
Segundo o painel de monitoramento dos feminicídios
no DF, 43% dos assassinatos foram cometidos com uso de arma branca, 26% com
arma de fogo e 13% por asfixia. Em 73% dos casos, as mulheres foram mortas
dentro de casa e, em 21%, as mortes aconteceram na rua, em praças e
estacionamentos. Em relação à motivação, 47,8% das vítimas foram assassinadas
por causa de ciúmes; 21%, devido ao término do relacionamento; e, em 30%, a
causa não foi informada.
São números frios e tristes de uma tragédia sem
trégua. É preciso uma rede consistente de prevenção e apoio, liderada pelo
Estado e pela Justiça. Aos demais, cabe a escuta atenta, a mão firme para
apoiar uma amiga ou parente que passe por alguma situação de risco.
Sozinhas, as famílias e as mulheres não têm condições de lidar com as ameaças de assassinos que, na maioria das vezes, estão dentro de casa. Se você assistir a cenas de violência, se perceber ou desconfiar que uma mulher está em perigo, interceda e denuncie, meta a colher e evite uma barbárie.