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Promessa de felicidade

Promessa de felicidade

Todos os dias, uma das primeiras ações que faço é observar os dois vasos com uma flor chamada Onze Horas, que já foi tema de outras colunas. Sempre vou ao quintal para contemplar os vasos e para catar as pragas, que se misturam com a planta e proliferam, se não forem contidas.


Moro em um condomínio horizontal fronteiriço a uma mata cerrada. Algumas plantas não se adaptam ao ambiente e fenecem. No entanto, o mais doloroso é o ataque que as formigas desfecham em algumas espécies. Além disso, existem outras pragas que exigem um cuidado permanente.


É preciso saber se gostam da sombra ou do sol, se apreciam pouca ou muita água. Não é uma tarefa fácil, cultivar plantas é uma ciência complexa e caprichosa, cheia de nuances, macetes e segredos.


Mas é uma atividade muito prazerosa. Aos poucos, a gente percebe que as plantas são espécies muito sensíveis, que reagem a qualquer estímulo.


Contratamos um jardineiro para dar uma geral uma vez por mês no quintal. Havíamos comprado um vaso que estava no jardim sem função. Zé Vieira, o jardineiro, trouxe a muda da planta chamada popularmente de Onze Horas, que eu desconhecia. Adapta-se com facilidade a jardineiras, canteiros e vasos. E não exige cuidados especiais.


Em pouco tempo, os dois vasos vicejaram com uma flama extraordinária. Um tem flores da cor lilás; e outra, vermelhas, brancas e amarelas. Foi um magnífico e inesperado presente. Ela tem me proporcionado muitos momentos de êxtase em razão da peculiaridade.


Quando não está exposta à luz solar, fica com os botões fechados em uma atitude de recato feminino. Mas, no ápice do sol, os botões se abrem em flores que esplendem com todo o fulgor. A inflorescência derrama-se do vaso numa radiação de beleza. É um instante mágico. Além disso, ela atrai abelhas para a polinização.


A gente estuda que o mundo vegetal está em permanente mutação. No entanto, com a Onze Horas é possível assistir a esse paciente movimento de transformação.


É uma coisa tão linda, que pensei em transformar a visitação da planta em turismo ecológico e cobrar ingresso, depois da pandemia. Todavia, ao fazer uma pesquisa na internet, constatei que a Onze Horas é muito disseminada e comum. Várias leitoras relataram que cultivam a planta. Não importa, não altera em nada o meu encantamento.


As pétalas delicadas e a fulguração rosa com nuances de vermelho e de lilás são, para mim, uma fonte permanente de alegria. Todos os dias, quando o sol entra a pino, vou ao quintal para apreciar esse pequeno milagre da natureza. Como disse Stendhal, a beleza é uma promessa de felicidade.


Severino Francisco – Jornalista, colunista do Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog -Google


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