É na religação de um emaranhado de fios
desencapados que, muitas vezes, é possível restabelecer conexões perdidas,
capazes de revelar paralelos curiosos entre falsidades e a verdade dos fatos.
Esse é o caso do site russo Telegram, fundado em 2013, e que, hoje, se
posiciona como a maior rede social daquele país, cuja sede não é em Moscou, mas
nos Emirados Árabes.
Desde que estreou no circuito das redes sociais do
Brasil, o Telegram tem chamado a atenção da população e, principalmente, das
autoridades pelos conteúdos que dissemina, sem uma checagem séria e
profissional dos fatos e pelo estranho interesse que esse canal da internet
parece demonstrar com os assuntos de Estado.
Não têm sido poucas as reclamações das autoridades
com relação ao Telegram. Recentemente, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE)
firmou acordo com as principais plataformas e redes sociais para ajudarem no
combate à disseminação de fake news durante as eleições deste ano. O Telegram
ficou de fora. Não é de hoje que as autoridades ensaiam banir o Telegram do
Brasil, que, em resposta aos inúmeros ofícios da Justiça Eleitoral, pedindo
explicações, opta pelo silêncio. Um silêncio, diga-se de passagem, bastante
comprometedor, a revelar um nítido envolvimento do aplicativo na disseminação
de teorias da conspiração, como de informações falsas, que colocam em risco a
segurança do país.
Essa terra de ninguém em que parece ter se
transformado o mundo das redes sociais é onde hackers e haters (disseminadores
de ódio) buscam abrigo para o cometimento de crimes, muitos deles financiados
por grupos de dentro e fora do país, interessados tanto na desestruturação do
Estado quanto em interferir nos resultados das eleições. A imprensa tem
divulgado informações da Polícia Federal em investigações que ligam o Telegram
a nichos como o chamado Gabinete do Ódio (de todos os lados) e outros grupos
políticos interessados em tumultuar e interferir nas próximas eleições.
O assunto é sério, embora tratado com certa
parcimônia por parte da imprensa. Há interesses de pessoas poderosas com
ligação à plataforma Telegram. Há quem fale, inclusive, em terrorismo digital.
O fenômeno não ocorre só no Brasil. Dias atrás, na Alemanha, o aplicativo
Telegram foi acusado de derrubar cerca de 60 canais naquele país, todos
acusados de propagar fake news sobre a pandemia de covid-19.
Algumas autoridades que pedem anonimato chegam a
insinuar que o governo russo estaria por trás, comandando diretamente esse
aplicativo. Na Alemanha, a ministra do Interior, que cuida desses assuntos,
Nancy Faeser, afirmou que “o Telegram não deve mais ser um acelerador para
extremistas de direita, teóricos da conspiração e outros agitadores, inclusive
com ameaças de morte, mensagens de ódio”. O ministro Edson Fachin, que assumirá
a presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), declarou que “a Justiça
Eleitoral já pode estar sob ataque hackers, vindos diretamente da Rússia”,
atribuindo essas ofensivas ao aplicativo Telegram.
Curioso é verificar que as gravações feitas por
esse mesmo aplicativo, quando da invasão e escuta nos celulares de altas
autoridades, nos episódios conhecidos como Vaza Jato, foram usadas por
ministros do próprio Supremo Tribunal Federal (STF) para transformar em pó,
todas as investigações feitas pela Operação Lava-Jato. Na ocasião, provas
ilícitas de conversas roubadas e adulteradas serviram como provas legítimas
para anular as condenações feitas pelo juiz Sergio Moro.
Tal feito, ou malfeito, devolveu às ruas e à
liberdade o maior corrupto que esse país hospedou. Os próprios controladores do
Telegram devem ficar confusos com o Brasil, um país considerado impróprio para
amadores de qualquer tipo, mesmo russos.
Na prática: Melhor mesmo seria educar os
motoqueiros no trânsito e alargar os prazos de entrega. Nosso jornal estampou,
em 2009, a seguinte manchete: “Profissionais que usam motos para fazer entregas
admitem cometer muitas infrações no trânsito”. Atualizada em 2020, a notícia
traz uma pesquisa da UnB que mostra a razão da imprudência: cumprimento de
prazos.