Pesquisa de opinião pública,
realizada há dois anos pelo Instituto DataSenado, mostrou que existe, hoje no
Brasil, uma forte e crescente influência das redes sociais como fonte de
informação para os eleitores. De acordo com esse levantamento, nada menos do
que 45% dos eleitores ouvidos confessaram que, cada vez mais, buscam, nas
mídias sociais, as informações que necessitam para decidir como irão orientar
seus votos. Outro dado interessante levantado pelo estudo mostra que o conteúdo
veiculado nas redes sociais possui grande influência sobre a opinião dos
indivíduos. Essa atuação é observada, sobretudo, entre os indivíduos com
escolaridade superior. Se tal fenômeno já significava, nas últimas eleições,
que metade dos brasileiros, com acesso à internet, votava sob a importância
direta do que consumiam nas mídias sociais, a possibilidade de haver mais de
50% dos cidadãos votando agora no pleito deste ano é bastante certa.
Tal realidade indica que o mundo
virtual, esse oceano infinito de informações, verídicas ou não, passou a ser
decisivo não apenas nas eleições de 22, mas também na condução de candidatos
que sabem manusear essas mídias. Obviamente que tal abrangência de influência
irá se estender ainda para dentro do Estado, interferindo no modelo de
democracia que teremos doravante, todo ele ligado e dependente dessas novas
mídias. Com isso, os debates tete a tete, o exercício mercadológico dos
marqueteiros políticos, os comícios ao vivo e outras modalidades dentro das
disputas eleitorais perdem fôlego e vão sendo deixados de lado, um a um.
Não será surpresa se o próximo
passo dado para o domínio total das mídias sociais seja a votação via internet,
por meio desses mesmos aplicativos. A obsolescência de instrumentos como a urna
física e dos locais de votação deixará de existir, sendo o destino dos cidadãos
feito diretamente de casa, via celular. Não será novidade se, lá adiante, o tal
do “sistema”, ou seja, esse sujeito indeterminado e oculto, venha a fazer parte
na gestão do Estado. Tornando assim, o dito “sistema”, o responsável pela
qualidade da democracia e pela prestação de serviços por parte do Estado.
A impessoalidade na democracia, ao
contrário do que muitos acreditam, não parece, a princípio, que irá melhorar as
relações entre o cidadão e o Estado. A suspeita é que, quando esse dia chegar,
a comunicação entre os cidadãos e o Estado será feita nos mesmos moldes com que
são feitas hoje as relações entre os consumidores e as operadoras de telefonia.
Até mesmo aspectos, que hoje são importantes, como a separação entre os fatos e
as fake news, deixará de existir, sendo todos esses “ruídos de comunicação”
atribuídos aos mecanismos do “sistema”.
Para o cidadão comum, que, afinal,
irá custear essa entrada das novas tecnologias nas relações políticas com o
Estado, restará o monólogo de alguém que escuta, do outro lado da linha, que a
falta de médicos, de remédios, de professores nas escolas, da falta de água nas
torneiras, de luz nas residências deve-se não à inoperância da política, mas ao
“sistema”, uma entidade com situação jurídica abstrata, impossível de ser
alcançada pelas leis.
Trata-se aqui de um futuro que
vamos organizando com os pés, já que a cabeça e as mãos estão absorvidas pela
Internet. O problema é que, quando levantarmos os olhos para o horizonte, o
futuro distópico já terá chegado com toda a sua crueza e indiferença.