Desde que foi alçada, por
interesses diversos e difusos, à condição de capital do país com plena
autonomia política, Ari Cunha, nesta coluna, que teve sua estreia exatamente no
mesmo dia em que Brasília foi inaugurada, em 21 de abril de 1960, passou a
acompanhar, com um misto de desconfiança e maus presságios, o que veria a ser a
tal maioridade política do Distrito Federal, tão festejada por políticos e
empresários, isso há 32 anos.
Permanecem as razões que levavam,
e ainda levam, esse espaço a acreditar que a emancipação política da capital,
feita de modo açodado e sem um debate público aprofundado, não seria um bom
negócio para seus habitantes. Primeiro, porque o próprio idealizador da
capital, o urbanista e arquiteto Lucio Costa , por diversas vezes se posicionou
contra essa possibilidade, que desvirtuava as ideias de seu projeto original;
também porque, de lá para cá, o que se viu, a cores e ao vivo, foram sucessões
de escândalos cabeludos, envolvendo políticos e empreendedores locais, com
prisões de alguns, flagrados com dinheiro de corrupção nas mãos, mas
principalmente com a tão conhecida impunidade, que, a exemplo do que sempre
aconteceu no resto do país, veio também a fazer parte do cotidiano candango.
Fossem esses os únicos problemas
que passaram a assolar a capital e seus habitantes, a solução poderia ser
resolvida com eleições. O fato, e essa coluna apontava desde o começo, é que,
como se viu, interesses econômicos, aliados a má índole política de nossos
representantes, concorreriam para desfigurar o projeto e a ideia originais
contidos na proposta vitoriosa de Lucio Costa.
Desde o primeiro dia dessa
emancipação, os jornais passaram a estampar em suas manchetes uma torrente de
denúncias, mostrando, por um lado, a transformação dos espaços públicos e das
áreas de preservação em moeda política de troca, dentro da concepção torta de
“um voto por um lote. Com isso, a capital começou a experimentar um inchaço
urbano sem igual, com áreas ocupadas da noite para o dia, invasões a terras
públicas e estabelecimento de bairros sem quaisquer projetos de impactos.
A vontade política passou a
prevalecer sobre os anseios da população de bem, o que gerou um descompasso tal
que, em pouco tempo, o que deveria ser a Casa do Povo — o Legislativo — ganhou
a alcunha, nada lisonjeira, de “Casa do Espanto”.
Problemas urbanos que, antes só
havia em outras metrópoles do país, passaram a ser presenciadas também na capital,
como engarrafamentos constantes, aumentos da violência e da mendicância,
deterioração e decadência dos espaços coletivos, com sobrecarga incontrolável
na prestação de serviços públicos de saúde, educação, transporte, segurança e
outros. O aumento estratosférico nas despesas para custear a enorme e inchada
máquina administrativa criada foi outra herança da emancipação política. Os
gastos passaram a ser cobertos pelo aumento de impostos e tributos arrancados
dos contribuintes. Houve, assim, aumento no custo de vida dos brasilienses e
piora acentuada da qualidade de vida dos habitantes.
Por conhecer a história e a índole
política dos homens públicos deste país, esta coluna viu suas piores previsões
se transformarem em realidade. Uma realidade que desagrada todos. É preciso
lembrar que, desde o início, antevíamos que a emancipação seria um excelente
negócio para alguns poucos, principalmente gente que vimos desfilando nas
páginas policiais dos nossos jornais. Quando se anuncia que, na próxima semana,
será votada a nova Lei de Uso e Ocupação do Solo (Luos) na Câmara Legislativa,
é bom que a adormecida população acorde para o que está por vir nesse pacote
que altera, mais uma vez, a ocupação e a destinação das áreas que ainda restam
dentro do polígono do Distrito Federal.
De nossa parte, vínhamos
alertando, desde os anos 1990, para os perigos de deixar em mãos dos políticos
locais as discussões e decisões sobre as terras da capital. Com a palavra dos
urbanistas e outros brasilienses atentos.
A frase que foi pronunciada: “Se
os políticos falassem apenas por suas atitudes, por certo muitos deles seriam
varridos do cenário nacional e da história do país.” (Filósofo de Mondubim)