A pandemia de covid-19 impôs o
medo e a ansiedade à rotina da população mundial. Nesse cenário, a meditação
pode ser uma ferramenta poderosa para a saúde física e mental, como explica
Neiva Fernandes, psicanalista, pedagoga e instrutora de mindfulness. A profissional,
que é integrante da Sociedade Vipassana de Meditação, foi a entrevistada de
ontem do programa CB.Saúde, uma parceria do Correio com a TV Brasília. Para a
jornalista Sibele Negromonte, Neiva analisou os impactos dos dois anos de crise
sanitária no dia a dia das famílias e enfatizou a importância do autocuidado.
“As pessoas têm desenvolvido medos profundos e ansiedades na pandemia e a
meditação tem entrado de forma própria para conter isso”, relatou. Confira,
abaixo, alguns dos principais trechos da conversa.
O que é o mindfulness? Como ele ajuda em momentos de ansiedade e
estresse? É uma meditação que volta a nossa atenção para o aqui e para o
agora. É um treinamento mental para estarmos conscientes com tudo o que nos
acontece no dia a dia. Todo esse processo da pandemia, nos coloca cada vez mais
atacados pelos estressores: em fator neurológico, mental, estrutural. A
covid-19 tem afetado nosso sistema emocional, as pessoas têm desenvolvido medos
profundos e ansiedades. A meditação, de forma apropriada, ajuda a conter esses
sentimentos. A prática meditativa nada mais é do que uma ferramenta que nos
auxilia a enfrentar nossas dificuldades emocionais.
Como começar a meditação? Existe um tempo para se dedicar? Começar
é simples. Você para um pouquinho, em algum momento, foca na respiração por um
tempo, mesmo que seja um minuto, podendo estender para cinco minutos, 10
minutos, 20 minutos. A qualquer momento é possível parar durante o seu dia para
estar presente consigo próprio. Esta é a grande conquista de meditarmos:
estarmos presentes e conscientes de nós mesmo no momento de prática.
Quem pode praticar? Qualquer pessoa é apta para o
mindfulness. Hoje, temos crianças, com programas de atenção plena, inclusive
nas escolas da rede pública. Todas as faixas etárias podem praticar, em
qualquer contexto.
Com a pandemia, fala-se da questão neurológica em relação à covid.
O mindfulness ajuda nesse controle? Fatores como perda de memória
gradativa, cansaço, fadiga constante, ou mesmo pessoas com síndrome do pânico,
ansiedade generalizada são parte da condição pós-covid que presenciamos. Eu
mesma tive covid-19 há dois meses, e me senti em uma condição complicada. Para
que eu não ficasse angustiada, recorri ao respirar e em trazer a plena atenção,
em acalmar a minha mente para seguir novamente. A meditação é uma condição de
regular-se por nós mesmos. Isso serve para esse momento de pandemia, onde
pessoas têm desenvolvido verdadeiras obsessões, como limpar e lavar todos os
objetos exageradamente, por exemplo. Esses desequilíbrios desencadeiam
aflições, dificuldades e doenças emocionais, que podem ser reguladas com a
meditação.
A atenção plena pode ajudar a prevenir problemas neurológicos ou
dores físicas? Cientificamente, é comprovado como o cérebro pode
mudar, num processo que chamamos de neuroplasticidade. A prática de meditação
pode regular essa estruturação mental, então é importante trabalhar na
meditação como forma de prevenção, ajudando a tomar conta desse espaço de
cuidado. Aprende-se na meditação: a compaixão, a bondade amorosa, o
autocuidado. O que fazer diante de uma dor crônica? É um processo de acolhida,
de aceitação, tirando o foco da dor e redirecioná-lo.
Como integrar uma mente sã a um corpo são? Dando
atenção plena ao corpo, aos movimentos que ele faz. Entendemos que é preciso
focar e determinar o controle da respiração como ela acontece a cada momento. É
importante cuidar do corpo do jeito que for possível, dando plena atenção ao
que está acontecendo. Escrevi, baseado na meditação mindfulness e em demais
estudos, o livro Está tudo bem do jeito que está, e me perguntam: como está
tudo bem do jeito que está com esse caos que está acontecendo? A cada momento,
nós fazemos o que nós damos conta de fazer. Muitas vezes, enrustimo-nos de
culpa. O título diz que estamos fazendo o nosso melhor, agora.
Os adolescentes foram as maiores vítimas da pandemia? Tenho
percebido uma busca muito maior por ajuda para os adolescentes, porque eles
ficaram presos na pandemia. Todo mundo ficou preso, na verdade, mas, como eles
são cheios de vida, sofreram muito. Então, essa condição de medos trouxe uma
cobrança muito grande. Isso também aconteceu com as crianças, e esse cuidado
desde pequeno, de forma assertiva, é muito positivo.
O que é a Sociedade Vipassana? Desde 2008, trabalhamos
com meditação em Brasília. Ficamos na 909 Norte, onde temos cursos, programa de
redução de estresse. Temos tanto turmas presenciais, quanto turmas on-line.
Teremos a próxima palestra gratuita no próximo dia 8 de abril, às 19h, na sede
da sociedade. Somos uma entidade sem fins lucrativos e os eventos são
gratuitos.