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Solte o ar e a alegria

Solte o ar e a alegria

Quando a pandemia começou, não tínhamos ideia do quanto seria um processo demorado e doloroso. No último dia 11, sexta-feira, completamos dois anos de pandemia. Ainda me pego naquele início, tentando lidar com a ideia de mortes em série, com o luto de tantos, com o isolamento, com o pânico, com o desemprego, com as falências. O que mudou desde então?


Muito além das idas e vindas dos surtos, com novas variantes, apesar do aparente controle sobre o vírus, há os efeitos que não se dissipam. O mais intenso deles nesse momento é o adoecimento coletivo. O que não melhora em nada com uma guerra em curso.


Ninguém surtou sozinho. Nós surtamos. Não há zona de conforto num país adoecido, na verdade num planeta adoecido. Não sente as pessoas tristes perto de você? Percebo um estado geral melancólico.


A consequência imediata deste período tão longo e triste pode ser medida em números e histórias. A população do Brasil, segundo país mais ansioso do mundo, sofre de distúrbios mentais diversos, e isso só aumentou durante a pandemia, a níveis alarmantes. A Síndrome de Bournout, que reúne um conjunto de fatores estressantes, passou a ser considerado CID para doenças do trabalho.


A preocupação com a saúde mental aparece em todos os relatórios e também no topo do ranking dos buscadores de notícias. A palavra mindfulness aparece com destaque no relatório de tendências do Facebook para 2022, assim como várias outras estratégias para melhorar a saúde mental.


Para mim, essa palavra tem sido sinônimo de libertação. Tenho tido encontros poderosos com a meditação, guiada pela Sociedade Vipassana. Enfim, compreendo que é capaz de nos colocar de volta a um estado de equilíbrio. Não é um processo fácil, mas necessário.


A conexão com o próprio corpo leva a viver o tempo presente, permite o autoconhecimento, ensina a respirar e, assim, acalmar e afagar a mente, que frequentemente nos leva para caminhos tão tortuosos.


O que eu posso te dizer é que, apesar das portas escancaradas agora, temos um riso represado, que precisa encontrar um meio de escape. Se cada um cuidar de si, talvez consigamos cuidar do outro, contaminá-lo com um vírus que sempre foi e sempre será nossa razão de viver: a alegria. Ninguém merece viver com esta tristeza permanente.


Ana Dubeux – Foto:  Ed Alves/CB – Correio Braziliense


 

 


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