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Em meio a tantas notícias de
guerra, as declaradas e as inconfessáveis, tivemos, na semana passada, uma
pungente história de amor para aliviar e nos inspirar. O caso aconteceu em
Goiânia. Uma avó idosa, Líbia do Valle, resolveu fazer uma tatuagem para, mais
do que homenagear, celebrar a aprovação do neto, Pedro Henrique, de 19 anos, no
vestibular para medicina em Ribeirão Preto.
O poeta Rimbaud escreveu um poema no qual declara que “ninguém é sério aos 17 anos”. Poderia acrescentar 18, 19 ou 20. É uma idade em que, geralmente, a maioria de nós fica meio perdida entre tantas faltas, carências, desnorteamentos, desordens e desejos do corpo. Ser aprovado em determinados cursos pode significar a plataforma para uma carreira salvadora.
Escolher uma profissão para a qual a gente tenha vocação e habilidade pode ser uma tarefa titânica. Mas o desafio se torna ainda mais dramático quando você precisa conseguir a aprovação em um curso tão concorrido quanto o de medicina. A profissão é quase um destino. Líbia apelou para Nossa Senhora da Aparecida. Tinha muita fé na santa, mas o mesmo não poderia dizer em relação ao neto, principalmente depois da dispersão provocada pela pandemia.
Para acontecer o milagre, é preciso que o agraciado cumpra a sua parte. E, sobre isso, Líbia demonstrava dúvidas de que Pedro enfiasse realmente a cara nos livros e estudasse o suficiente para passar. Ante ao ceticismo da avó, Pedro lançou o repto, em tom de brincadeira e de provocação: se ele passasse, ela teria de fazer uma tatuagem.
Segundo a reportagem do Eu Estudante, fazer medicina era um sonho para Pedro, que sempre sofreu com as implicâncias da avó em relação às cinco tatuagens grandes que ostenta. Três no braço direito, uma na panturrilha e outra no pescoço. Pedro jamais imaginava que a avó fosse levar a blague a sério.
Vi a fotografia de Líbia e, a princípio, imaginei que seria uma venerável, mas vanguardista senhora. No entanto, ela era seríssima. Não parecia que estava colocando uma tatuagem; parecia que recebia uma dose de vacina contra a covid. Sempre foi devota de Nossa Senhora da Aparecida, a quem recorre nas horas de aperto material ou espiritual.
No caso, suplicava à santa que soprasse conselhos ao neto para que tivesse juízo, se emendasse e se concentrasse nos estudos. Sem suor da pesquisa, não há santa que consiga operar qualquer milagre, por mais boa vontade que tivesse. Mas, obra de paciente estudo que queimou muitos neurônios ou obra da graça, o fato é que Pedro foi aprovado.
E dona Líbia, aos 91 anos, fez a sua parte, encarou com coragem inabalável a agulha e imprimiu a imagem de Nossa Senhora no braço, em um trabalho que durou duas horas. Ela não é metaleira nem vanguardista. Só cumpriu a promessa. Essa foi a primeira e última tatuagem de Líbia. Existem infinitas maneiras de fazer uma declaração de amor.