A capital do Brasil foi transferida do Rio de
Janeiro para o Planalto Central em 21 de abril de 1960. Dois anos depois, Darcy
Ribeiro e Anísio Teixeira criavam a Universidade de Brasília (UnB) e seu campus
ocupou área na Asa Norte, próximo às quadras habitacionais 400. Em 2022,
estamos comemorando 60 anos de sua criação que, nos casamentos, são celebrados
como bodas de diamante. O diamante é o mais duro material de ocorrência natural
que se conhece. A UnB é destaque entre as universidades públicas, linda e resistente,
como a pedra preciosa.
É importante, quando celebramos os 60 anos de nossa querida universidade,
revisitar alguns percalços, como os das ocupações de militares na UnB nas
décadas de 1960/70. Em 1965, 15 professores foram demitidos, por terem se
manifestado de forma subversiva durante uma assembleia. Houve uma histórica
reação, 223 dos 305 professores demitiram-se em seguida. O professor Roberto
Salmeron registrou em seu livro A Universidade interrompida: Brasília 1964-1965
(Editora UnB), os acontecimentos tristes desse episódio. Nos anos de chumbo,
estudantes foram presos e mortos como o líder estudantil Honestino Guimarães.
Esse fato foi aqui registrado para que nunca mais um sacrossanto espaço da
ciência, cultura e tecnologia passe por situação semelhante. Pelo contrário,
nos enchemos de orgulho para lembrar que a UnB superou esse triste episódio.
Passado o período de ocupação, as atividades voltaram ao normal: salas de aula
funcionando e o trânsito no campus se dava sem nenhum percalço. Os departamentos
foram expandindo atividades: contratação de novos professores e técnicos
administrativos e ampliando as atividades no ensino, na pesquisa e na extensão.
De sua fundação até hoje, a UnB conquistou avanços em todas as áreas do
conhecimento e ampliou seus câmpus, hoje presente, no Gama, na Ceilândia e
Planaltina, ficando mais próxima dos estudantes e promovendo a ciência, as
artes e a cultura nas regiões administrativas indicadas. Pode-se, por isso,
afirmar que o saber ficou mais próximo de muitos milhões de habitantes do
Distrito Federal, um avanço significativo que preenche um louvável espaço
geográfico detentor da mais expressiva população do território, a periferia do
Plano Piloto, onde está o câmpus central Darcy Ribeiro. Essa expansão da UnB para
fora de seu centro geográfico. No futuro, dependendo de recursos, a
universidade terá instalações na periferia da Área Metropolitana de Brasília
(AMB), aproximando os estudantes locais que não necessitariam fazer longos
percursos periferia-centro para assistir às aulas ou fazer pesquisas e
pós-graduação. Assim acontecendo, a UnB será uma instituição que atende item
importante dos direitos humanos e o acesso à educação de alta qualidade.
Ao correr do tempo, outros avanços no futuro deverão acontecer. Novas
iniciativas podem ter alguma rapidez, na dependência de aportes de recursos
federais. Essas verbas não podem tardar ou, melhor, devem ser disponibilizadas
à medida da demanda da administração universitária. Igualmente, o ingresso de
maior número de estudantes com sucesso nos vestibulares da universidade.
Situada na capital federal, a UnB é obrigada a aceitar os estudantes
transferidos de outros estados, que acompanham os pais por razões
administrativas, como militares ou filhos de deputados ou senadores, que passam
a morar na capital acompanhando os familiares.
A UnB, em 1986, foi a primeira universidade brasileira a criar um Centro de
Estudos Avançado Multidisciplinares, o CEAM, estimulando a criação de centros
semelhantes em outras universidades do país. Um outro aspecto que indica um
pioneirismo da UnB é o estabelecimento de medida que favorece os direitos
humanos e o combate da discriminação racial: os comprovadamente
afrodescendentes e de povos originários podem obter o benefício de cotas e
vagas indicadas para acesso à universidade. Ao tempo em que foi estabelecido
esse acesso, foi inédito no país inteiro e colaborou na ascensão de muitos
estudantes que, de outro modo, não ingressariam em curso superior. Essa foi
mais uma inovação que ampliou os laços da UnB com a sociedade de Brasília e de
sua área de influência geográfica. Pode-se afirmar que, sempre necessária e
essencial, a universidade toma um passo importante para enfrentar o desafio que
é a redução das desigualdades econômicas e sociais, com o que se torna mais
inclusiva.
Vivas à UnB. Lembremos o pensamento do grande geógrafo Milton Santos que pode
indicar os caminhos do futuro dessa linda, necessária e sexagenária
Universidade: “A coisa mais importante para os brasileiros é inventar o Brasil que
nós queremos”.