Mergulhar na vida pública é mergulhar na opinião do outro." A frase
da vice-governadora Jacqueline Moraes, na entrevista publicada neste
sábado (2/4) no Correio Braziliense, por sinal inspiradora, não fala
apenas às mulheres que optam por seguir uma carreira política. Também diz
respeito àquelas que têm por profissão ouvir os protagonistas desta vida
pública. Refiro-me às mulheres jornalistas especializadas na cobertura do poder.
Mergulhar na opinião do político para construir uma narrativa que
esclareça o público. Mergulhar nos meandros da vida pública, nos discursos, nos
bastidores, nos relatórios, para depois analisar cenários, escrever colunas e
produzir conteúdo de qualidade. O Brasil tem sorte, pois tem uma gama de
mulheres fantásticas, estudiosas, talentosas, grandes jornalistas a serviço da
cobertura política.
Hoje, gostaria de falar de duas delas, com as quais convivo há mais de
duas décadas, numa experiência de aprendizado e troca. São Ana Maria Campos e
Denise Rothenburg, minhas companheiras de redação no Correio.
Denise cobre Congresso e Planalto desde o processo de eleições diretas,
em 1989. Acompanhou a transição de Sarney para o Collor; noticiou o impeachment
do presidente eleito, os governos Itamar, FHC, Lula, Dilma, Temer e segue na
cobertura do atual. É titular da coluna Brasília-DF há mais de dez anos e está
no Correio desde 1997. Já trabalhou em outras redações, como as
de O Globo e Folha de S.Paulo.
Ana Maria Campos nasceu para ouvir, talvez, por isso, tenha construído
um banco de fontes tão importantes, que lhe rendeu tanto furos quanto prêmios.
Já assinou diversas colunas políticas e segue editando política local do
jornal. Ana Maria transita em todas as esferas dos Poderes Judiciário,
Legislativo e Executivo local e Federal em Brasília desde 1999, quando começou
a trabalhar no Correio. Ninguém conhece melhor do que ela as
administrações de Roriz, Cristovam, Arruda, Agnelo, Rosso, Rollemberg e a
atual.
Denise e Ana são apresentadoras do programa CB.Poder, uma
parceria do Correio com a TV Brasilia, têm blogs no site
do jornal (aqui o Eixo Capital e aqui o Blog da Denise) e vão
estrear, nas próximas semanas, um projeto novo, que fará a cidade parar para
acompanhar os detalhes das eleições deste ano.
Tanto Denise quanto Ana Maria transitam na cobertura política por
variados caminhos: dos partidos aos gabinetes de governadores a juízes e
ministros. Não são adeptas da escuta seletiva, que privilegia uma corrente de
pensamento e ignora outras. Fazem o jornalismo raiz e, por isso, são longevas e
respeitadas na cobertura do poder.
O que não necessariamente lhes coloca numa condição de privilégio: assim
como as mulheres políticas, também sentem na pele o imponente machismo nas
estruturas de poder, que também afeta jornalistas de diversos modos. Assim,
como disse Jacqueline Moraes, só se quebra o machismo estrutural com representatividade
e, para isso, é preciso sensibilizar mulheres a entrarem para a política.
Por enquanto, Denise e Ana Maria são mulheres que ainda escrevem sobre
homens chegando ao poder, ainda que essa realidade comece a mudar e cada vez
mais mulheres sejam eleitas. Sonhamos todas com o dia em que reportaremos um
resultado das urnas que represente o que somos na sociedade: a maioria, afinal
somos 52% da população.