Depois de lutar contra um câncer e sofrer um AVC, o diretor de teatro e professor da Universidade de Brasília (UnB) Hugo Rodas morreu nesta quarta-feira (13/4). Rodas estava internado no Hospital Brasília e fazia tratamento contra um câncer há três anos, mas uma metástase dificultou a recuperação do diretor.
Uruguaio radicado no Brasil desde os anos 1970, Hugo Rodas atuou como
ator, diretor, bailarino, coreógrafo, cenógrafo, figurinista e professor de
teatro, firmando-se como um dos artistas do teatro mais importantes do seu
tempo. Estabeleceu-se na capital federal em 1975, onde participou ativamente da
cena teatral da cidade, atuação que lhe rendeu três títulos concedidos pelo
Governo do DF: Comendador e Oficial da Ordem do Mérito Cultural de Brasília em
1991 e 1992, assim como Cidadão Honorário de Brasília (2000). Também recebeu os
títulos de Notório Saber em Artes Cênicas (1998) e, mais recentemente, em 2014,
o de Professor Emérito, ambos pela Universidade de Brasília, instituição na
qual foi docente durante mais de 20 anos.
Hugo foi um dos mais conceituados diretores da sua geração, conhecido
pela irreverência, versatilidade e criatividade norteadoras da pluralidade de
linguagens que caracteriza a sua obra. Alguns dos maiores sucessos de público e
crítica da história do teatro e da dança de Brasília têm a assinatura de Rodas.
Entre eles o Senhora dos afogados (1987), A casa de
Bernarda Alba (1988/91), A menina dos olhos (1990/91), Romeu
e Julieta (1993/99), O olho da fechadura (1994/95), The
Globe Circus (1997), Shakespeare in concert (1997), Arlequim:
servidor de dois patrões (2001/02), Rosanegra – uma Saga
Sertaneja (2002/05), O rinoceronte (2005/2006) além
do memorável Adubo ou a sutil arte de escoar pelo ralo (2005-2015).
Trajetória: A jornada de Rodas no universo do teatro começa em sua
terra natal. Na Montevidéu (Uruguai) dos anos 1950, ele ingressou na
escola-teatro do Teatro Circular, referência do movimento independente
uruguaio. Em 1975, veio ao Brasil para se apresentar no Festival de Inverno de
Ouro Preto. Nessa época, o Uruguai passava por período de intensa repressão
política devido à ditadura militar que se instalou no país entre 1973 e 1985, e
a viagem a Minas Gerais mudou a vida de Rodas. Primeiro, ele se mudou para
Salvador. No mesmo ano, foi chamado para ministrar um workshop em Brasília,
onde decidiu permanecer.
No Planalto Central, Rodas fundou o Grupo Pitú (1976-1981), com o qual
apresenta vários espetáculos, entre os quais o clássico Os
Saltimbancos, contemplado com o Prêmio do Serviço Nacional do Teatro
como melhor espetáculo infantil de 1977. Um ano antes, foi diretor e coreógrafo
do primeiro musical do cantor e compositor Oswaldo Montenegro, o João
Sem Nome.
No início dos anos 1980, Rodas passou uma temporada em São Paulo,
onde trabalhou no Teatro Oficina, com o diretor José Celso Martinez Corrêa,
e no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), com o diretor Antônio Abujamra
(1932-2015), com quem fez diversas parcerias em direção teatral ao longo da
vida, entre elas Senhora Macbeth (2006), com Marília
Gabriela, Os demônios (2006), do escritor russo Fiodor
Dostoiévski, e Cantadas (2007), monólogo com a atriz Denise
Stoklos.
De volta a Brasília, o diretor foi convidado pela professora e
coreógrafa Norma Lillia para uma parceria que resulta em três espetáculos
criados e dirigidos por Rodas: A casa de Bernarda Alba (1983), A
teia (1984) e Salomé (1986), este último
protagonizado pela bailarina Ana Botafogo.
Ao lado dos diretores Adriano e Fernando Guimarães, Rodas recebeu, em
1996, o Prêmio Shell de direção pelo espetáculo Dorotéia. Foi um
dos fundadores do Teatro Universitário Candango — TUCan na Universidade de
Brasília (UnB), em 1992. Dirigiu o espetáculo Seis personagens em busca
de um autor, do escritor italiano Luigi Pirandello (1867-1936), que recebeu
seis prêmios, entre os quais melhor diretor e melhor espetáculo, no Festival
Internacional de Teatro Universitário de Blumenau, em 2004.
Em 1989, o diretor ingressou na UnB como professor visitante e, mais
tarde, tornou-se professor titular da instituição. Ele permaneceu no ambiente
universitário dedicando-se à formação, investigação e criação artística Foi na
academia que surgiu a Agrupação Teatral Amacaca (ATA). Em 1999, Rodas
também fundou a Companhia dos Sonhos, com a qual fez trabalhos como Rosanegra
— uma saga sertaneja (2002), escolhido para participar do Palco
Giratório Nacional do Serviço Social do Comércio (Sesc).
Como ator, ele voltou aos palcos para um musical autobiográfico, o
monólogo Boleros (2008). Em 2010, interpretou o monólogo 7
X Rodas, composto de sete montagens dirigidas por nove diretores e com sete
cenários distribuídos em círculo, assinados por Rodas.