Ainda é cedo para sabermos, ao certo, se a notícia
de que o Senado se oporá fortemente à aprovação dos jogos de azar e à volta dos
cassinos, como deseja uma ala muito suspeita dentro da Câmara dos Deputados, e,
mais do que isso, vetar, matar e enterrar, definitivamente, essa proposta que
parece feita sob medida apenas para o estabelecimento de um banco oficial para
crime organizado lavar o dinheiro proveniente de práticas ilegais.
A aprovação de uma Frente Parlamentar por um Brasil
sem Jogos de Azar, nesta semana, dentro do Senado, prometeu reunir número
suficiente para barrar a aberração. Para isso, um Projeto de Resolução do
Senado (PRS nº11/2022), de autoria do senador Eduardo Girão (Podemos/CE),
obteve, segundo seu autor, número suficiente para a instituição desse novo
colegiado e marchará unido contra a liberalização geral da jogatina, conforme
prevê o famigerado projeto da Câmara (PL 442/1991) ressuscitado, de modo
sorrateiro, pela atual presidência daquela Casa Legislativa.
A ideia, até aqui, é promover debates e outras
iniciativas dentro e fora do Senado para, por meio de propostas legislativas,
campanhas e outas medidas que desincentivem os jogos de azar. Infelizmente, a
gente não tem observado, ainda, qualquer mobilização da sociedade contra esse
tipo de proposta. Num país como o nosso, campeão mundial da violência urbana e
onde o crime organizado vai, a cada dia, se infiltrando nas instituições do
Estado, essa seria uma providência a ser adotada, com urgência, na propaganda
oficial, nas escolas, nas igrejas e em toda parte, informando o público dos
perigos que essa atividade pode acarretar para a segurança de todos e mesmo
para o futuro das novas gerações.
O crime organizado, que parece agir por trás de
propostas liberalizantes dessa natureza, controla e domina áreas inteiras das
grandes metrópoles, ascendendo em poderio nos milhares de quilômetros de
fronteiras seca do país, controlando serviços públicos, atuando em garimpos e
nos portos, corrompendo a polícia entre outras atividades criminosas . Dar
mais essa facilidade para a supremacia desses criminosos, com a liberação geral
de cassinos, quando se sabe do poder cada vez menor das polícias e mesmo diante
da leniência de nossa Justiça, incapaz de julgar poderosos, é uma imensa
irresponsabilidade, com consequências até piores do que uma guerra.
É preciso, o quanto antes, a veiculação de
campanhas contra esse verdadeiro suicídio da nossa sociedade. Uma vez
estabelecidos, os cassinos vão se proliferar como moscas, corrompendo,
lavando o dinheiro do tráfico de drogas e de armas, facilitando o intercâmbio
entre criminosos de outras partes do planeta, tornando nosso país um paraíso,
sem igual, para a bandidagem internacional e para grupos que agem desde a venda
de órgãos humanos até armas de guerra e outras modalidades de comércio
criminoso que movimenta quantias capazes de comprar países inteiros de porteira
fechada.
Não há qualquer ficção distópica nessas previsões.
São possibilidades que se abrem, ainda mais em nosso país, onde a Justiça
funciona de forma precária e seletiva. Dizer que os cassinos gerarão empregos e
impostos é uma cortina de fumaça a esconder o que está trás. Não se trata aqui
de combater uma atividade nociva apenas, como reforçam os eufemismos correntes.
Trata-se, na verdade, de uma cruzada que deve ser feita por toda nação, para
que essas autênticas portas do inferno não sejam abertas em nosso país.
Temos problemas, corruptos e leniência de sobra. O
que nos falta são escolas de qualidade, hospitais e cidades seguras, varridas
de todo o lixo humano. Dessem-se ao trabalho de investigar a fundo e de perto
todos aqueles que defendem a volta dos cassinos, por certo, encontraríamos um
bom número de parlamentares ou implicados com as leis, ou em vias de virem a
sê-los.