São muitas as facetas que poderiam ser destacadas
da personalidade de Levino de Alcântara. Duas delas, porém, têm supremacia
sobre outras: as de visionário e empreendedor. O centenário do professor e
maestro foi celebrado, de forma meritória, no último fim de semana, por
discípulos de diferentes gerações, que tiveram o privilégio de tê-lo como
mestre na Escola de Música de Brasília (EMB) e no Madrigal de Brasília.
As duas instituições criadas por ele contribuíram,
decisivamente, para fazer da cidade um dos polos artísticos-culturais do país
ao formar instrumentistas e cantores que têm brilhado no Brasil e no exterior.
O mais notório deles é Ney Matogrosso, estrela cintilante da MPB.
Em entrevista que me concedeu, publicada no
Correio, em 6 de novembro de 2013, sobre o cinquentenário do madrigal, o cantor
recordou do período em que era um dos coralistas do grupo. Num dos trechos da
conversa, ele disse: “Vivia um momento de muitas descobertas em relação às
artes e à vida, quando, em 1963, passei a integrar o coral do Elefante Branco,
que deu origem ao Madrigal de Brasília. Foi uma experiência radical, sob a
batuta do maestro Levino Alcântara, uma pessoa afável, dedicada e com profundo
conhecimento da música renascentista”.
Ney contou que o madrigal tinha poucas vozes
femininas. “Eu, contratenor, por decisão do maestro, passei a fazer parte do
naipe de contraltos. Só que, como homem, tinha que cantar com uma oitava acima,
igual as meninas. Até 1965, enquanto morei em Brasília, fiz muitas
apresentações com o madrigal, o que foi da maior importância para minha
formação artística.”
Reza a lenda que uma outra ação de Levino Alcântara
— morto há nove anos — foi determinante para a construção da sede da Escola de
Música. Certa vez, no final dos anos 1960, passando pela L2 Sul, à altura da
Quadra 602, ele viu uma área vazia e, então, decidiu ocupá-la. Plantou vários
pés de pitanga e cercou o terreno. Como tinha bons contatos com dirigentes de
órgãos da Prefeitura do Distrito Federal, os convenceu a permití-lo instalar
naquele local o prédio onde até hoje funciona a EMB —instituição que orgulha o
brasiliense.