Aos 38 anos, o presidente da Câmara Legislativa,
Rafael Prudente (MDB), acumula vitórias. Elegeu-se pela primeira vez
em 2014, como um dos mais jovens deputados distritais, aos 31 anos, e obteve a
reeleição como o quarto mais votado na Casa. No mandato, chegou à presidência e
obteve um feito inédito — que outros poderosos parlamentares tentaram em vão:
um segundo mandato no comando da Câmara na mesma legislatura, graças à
aprovação de emenda à Lei Orgânica que mudou as regras para a recondução da
Mesa Diretora.
Com esse olhar, ele
defende um palanque presidencial duplo no DF, com a senadora Simone Tebet
(MDB-MS), pré-candidata de seu partido, e com Jair Bolsonaro (PL), cuja base de
partidos coincide com a do governador Ibaneis Rocha. Prudente garante que o
acordo do MDB e de Ibaneis com a deputada Flávia Arruda (PL), para que ela
dispute o Senado na chapa, está sacramentado e diz que o Palácio do Planalto
terá de decidir entre as duas ex-ministras de Bolsonaro, já que a candidatura
de Damares Alves poderá dividir a base eleitoral bolsonarista e dar a vitória
para um nome da oposição.
Sobre uma eventual
candidatura do ex-governador José Roberto Arruda (PL), Rafael Prudente aposta
que ocorrerá, se houver condições jurídicas. Mas antecipa: vai rachar o grupo
político que hoje apoia a reeleição de Ibaneis
O senhor foi presidente num momento de crise mundial. Tudo fechado,
pessoas morrendo, medo e muitas dúvidas. Como foi enfrentar a pandemia? Do
lado da mesa da presidência, tenho uma Bíblia, que em todos os momentos recorro
à palavra. Mas ninguém foi eleito para passar por uma pandemia. Nós tínhamos um
planejamento, aquilo que a gente pretendia fazer nos quatro anos, mas passamos
metade do mandato cuidando de uma pandemia. E até hoje a gente não sabe se tem
outra onda vindo. Nós acertamos, nós erramos, mas nós fomos muito propositivos.
Nosso índice de aprovação de projetos no plenário aumentou muito. Mas não foi
por conta da votação virtual. Foi porque o momento nos obrigava a alterar
diversas legislações que, numa situação normal, jamais precisaríamos alterar,
como imposto para máscara, para álcool em gel. Não precisaríamos diminuir
impostos para diversas atividades para que determinados setores não morressem.
Em vez de a gente trabalhar para criar novos CNPJs e gerar novos empregos, a
gente se viu numa batalha para manter os CNPJs ativos, para manter os empregos.
Então, foi bem complicado. Mas boa parte das atitudes que tomamos aqui foram
referência para o restante do Brasil. A Câmara Legislativa foi a primeira do
país a entrar com medidas restritivas, criamos auxílios, como o Prato Cheio, o
Vale-Gás, o Cartão-Creche, ampliamos o Cartão Material Escolar. Trabalhamos
duro para manter os terceirizados do governo. As creches estavam fechadas, mas
ninguém que trabalha em creche conveniada deixou de receber o salário em dia.
As merendeiras, os vigilantes, o pessoal da limpeza da mesma forma.
E o que deixou de ser feito na Câmara nesse período de pandemia,
quando a população estava preocupada em sobreviver? O que estava no
planejamento e ruiu? Por exemplo, nos programas de qualificação
profissional e nos programas que o governo vinha desenhando de incentivo fiscal
para a gente trazer novos investimentos e novas empresas para o DF para
aumentar a geração de empregos. Isso é o principal, que ficou parado. Nós
tivemos uma desaceleração da economia no primeiro momento que ceifou milhares
de empregos no DF. Claro que teve o impacto da saúde. Infelizmente, nós
perdemos muitas vidas, mas também a tragédia econômica foi imensa. E tem muitos
casos que a gente não sabe se fez certo ou se fez errado. Por exemplo, de
fechar escolas, de fechar o comércio.
Esse tema acabou sendo muito politizado e virou um embate entre os
que defendiam o lockdown e os favoráveis à abertura… Aqui na Câmara
a gente tentou ao máximo despolitizar esse debate. Em São Paulo, foram fazer
política em cima de vacina, em cima de fecha, abre, fica em casa… Isso não deu
certo, tanto é que a aprovação de quem era pretenso candidato a presidente da
República não deu certo.
O senhor falou da exploração política de medidas e Doria não
conseguiu ser candidato à presidência. Acredita que ele não cresceu nas
pesquisas porque as pessoas não querem que a pandemia seja usada como marketing
político? Pode ser isso. Também tem o excesso de imagem, o excesso
de politização em cima de um tema que é tão complexo, como a saúde pública.
Tudo que se fazia ia para a frente de uma televisão, chamava uma coletiva de imprensa,
para falar o que pretendia fazer e criticar o que o outro estava fazendo. Nas
dificuldades, é o momento de união: unir a Câmara, unir o Poder Judiciário,
unir o Poder Executivo, para discutir as matérias.
Seu nome foi cogitado para compor a chapa majoritária. Por que não
foi para frente? Tinha muita gente que tinha interesse de me ver
fora de disputas de diversos cargos. Falaram que eu vinha à reeleição. Outros
disseram que eu ia para o Senado ou disputar com o Ibaneis. Também que íamos
formar uma chapa puro-sangue. Nunca foi meu objetivo. Acho que, na política,
existe um rito e a gente precisa saber quais são os espaços oportunos num
determinado momento. Minha ideia não é pular uma fase. Acho que o caminho
natural, depois de assumir a Câmara Legislativa, depois de assumir a
presidência, é tentar um mandato de deputado federal para poder contribuir com
a cidade de forma diferente no Congresso. E depois lá na frente a gente discute
outro projeto. Não me passou pela cabeça nada diferente, até porque a gente tem
uma responsabilidade muito grande com a reeleição do governador Ibaneis. Uma
chapa puro-sangue pode gerar um desconforto aos demais partidos que compõem a
base e têm demonstrado interesse na vice-governadoria. Para o Senado,
atrapalharia também porque são apenas três vagas na majoritária. Seria difícil
defender duas vagas para o MDB.
Como vai ser essa negociação para vice do Ibaneis? Nos
bastidores, a conversa é grande. Agora eu vejo um carinho, um respeito muito
grande do governador com o vice-governador atual, o Paco. Vejo em ações, no dia
a dia. Há uma grande sintonia entre os dois. A escolha do vice é muito pessoal.
Aqui, por exemplo, nas minhas duas eleições, escolhi o meu vice, que é o
deputado Delmasso. Ele me ajuda muito no comando da Câmara. Não só ele como os
demais membros da Mesa Diretora. Ele vai escolher quem compõe melhor, tem um
discurso mais alinhado e que seja um vice-governador que seja parceiro.
Acredita que, se a Justiça liberar, Arruda será candidata ao
Governo? É difícil a gente trabalhar com suposição. Agora, creio
que, pelo trabalho feito por ele no passado e pelas movimentações políticas
feitas por ele agora, sem dúvida alguma — se a justiça liberar — Arruda será
candidato, na minha visão. A base do Ibaneis é muito parecida com a do Arruda.
Então, certamente, ela vai rachar, caso aconteça uma candidatura dos dois.
No DF, há uma tradição de governadores não se reelegerem. Acredita
que vai acontecer com Ibaneis? Se for para fazer uma avaliação mais
precisa, só não foram reeleitos os governos de esquerda. O Arruda certamente
seria reeleito, só que aconteceram todos aqueles problemas e o governo dele não
continuou. Mas considero que o governo Ibaneis pode quebrar esse ‘jejum’ de
reeleição no DF. Pelo menos o que as pesquisas indicam é que ele é o favorito
disparado. Inclusive, com grandes chances de vencer no primeiro turno, caso
siga com a configuração atual.
O que o senhor pretende fazer na Câmara dos Deputados? Quero
buscar mais recursos para investir no DF. Acho que ainda podemos melhorar muito
nesse quesito. Tive uma experiência muito grande aqui na Câmara Legislativa.
Fui membro da comissão de orçamento e aprendi bastante sobre o tema. Hoje,
tenho uma compreensão grande daquilo que pode ser feito. Vou poder contribuir,
no Congresso Nacional, para viabilizar boa parte dos recursos para a nossa
cidade.
A Câmara aprovou um Refis que reduziu o valor principal da dívida.
É justo com os adimplentes? Sempre defendi que o Refis deve
acontecer em momentos muito esporádicos, como acontece no Refis nacional.
Enquanto estou aqui, já foram votados seis Refis — um por ano no governo
Rollemberg. Sinceramente, não acredito nesses Refis. Porque, na verdade, isso é
um incentivo para que os empresários não paguem o imposto da forma correta e
aguardem para fazê-lo com o desconto e ainda parcelar em várias vezes. Então, é
um incentivo à sonegação. Sobre o último Refis feito, vale ressaltar que era um
período de pandemia, era outra motivação. Na época, diversas empresas estavam
fechando, endividadas por conta da crise. Talvez, sem o período de pandemia,
não teríamos feito isso. No entanto, nunca foi feito no DF, o condicionamento
para que os empresários conseguissem pagar as dívidas antigas. Isso teve um
sucesso muito grande. Tivemos a renegociação de mais de R$ 3 bilhões, além de
colocar R$ 1 bilhão no caixa do GDF, de forma imediata.
Foi correta a privatização da CEB? Foi a venda de uma
companhia que dava prejuízo e que, além de deixar de dar prejuízo, foi
negociada por R$ 2,5 bilhões. Foi um valor substancial, que será 100% investido
na cidade. Claro que toda mudança tem, de imediato, impactos negativos. Mas
tenho visto um esforço muito grande da Neoenergia, que já regularizou mais de
100 mil moradias no DF, por meio do projeto Energia Legal. Talvez, com uma
empresa pública, a gente não teria avançado tanto. Claro que alguns ajustes
precisam ser feitos, mas, de forma geral, vejo essa troca de forma positiva.