Acompanho com indignação e revolta, entre outros sentimentos difíceis de
lidar, a trajetória de mulheres expropriadas do direito de ser mulher, em
qualquer lugar, espaço de tempo ou posição social. Para onde olhamos, enxergamos
a vulnerabilidade feminina. Não estamos seguras, é fato. Mas há uma direção que
atrai o meu olhar de esperança: a ciência.
Em qualquer campo científico, há mulheres com brilho no olho. Pensando,
refletindo, estudando, pesquisando, produzindo, alertando, reverberando ideias,
resistindo, existindo sobretudo — além das limitações impostas pelo patriarcado
e o machismo, muito embora não estejam a salvo deles.
Essas mulheres que praticam a ciência no dia a dia, em qualquer campo e
independentemente da área de estudo, nos conduzem a lugares diferentes e a
horizontes maiores. Elas nos levam também à reflexão sobre alta liderança.
Sobre a ocupação sólida, consistente e crescente de espaços de poder.
Conheci uma iniciativa incrível, liderada pela principal gestora do
Butantan, Cíntia Lucci. Economista com especialização em neurociência, ela e as
gestoras de diferentes áreas do Instituto deram início ao projeto "Mulheres
na Alta Gestão do Butantan", que propõe ações voltadas para aumentar a
participação feminina em cargos elevados e de liderança dentro da instituição.
Um dos objetivos do grupo é "combater os vieses cognitivos e
pensamentos adquiridos que perpetuam a ilusão de que os homens são mais capazes
que as mulheres no ambiente empresarial". Além disso, trabalhar por
equidade no Instituto, onde apenas um quarto dos gestores são mulheres.
O grupo convida mulheres de destaque de outras empresas e áreas de
atuação para ampliar as discussões e as reflexões que fazem sobre o dia a dia,
especialmente nos assuntos pautados pela diferença de gênero. O site do projeto
( https://mulheresaltagestao.butantan.gov.br/ ) é aberto, para inspirar outras empresas e
mulheres a levantarem a discussão em seus ambientes de trabalho. O projeto está
alinhado com os preceitos do Women on Board, movimento global apoiado pela ONU
Mulheres.
Cíntia e as demais gestoras do Butantan não estão sozinhas. A ciência
tem destacado incontáveis exemplos de mulheres que lutam para aumentar a
participação feminina nos espaços de poder, porque esta é uma possibilidade
real de transformação de corporações tóxicas e machistas em ambientes saudáveis
para as mulheres crescerem e se desenvolverem profissionalmente.
Queria iniciar uma nova semana, falando de um Brasil que ainda nos
orgulha — e ele é feminino. Esse Brasil revolucionário nasce com a ciência, a
educação e a luta por equidade de gêneros. Nosso potencial é grandioso e quem
está à frente, nos espaços de poder, deve olhar para as jovens e brigar ao lado
delas e por elas. Precisamos de um futuro mais promissor para as mulheres.
Mulheres Cientistas. Júlia Vasques, biomédica e pesquisadora do
Laboratório Sabin - (Foto: Sabin/Divulgação)