A Universidade de Brasília (UnB)
recebe de 24 a 30 de julho a 74ª reunião anual da Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência (SBPC). É o maior e mais importante encontro da comunidade
de pesquisadores brasileiros. Nas comemorações dos 60 anos de existência da
UnB, acolher esse evento nos enche de orgulho e nos convoca, sobretudo, a
pensar a ciência no país hoje.
Os cortes que atingem diretamente
as universidades federais são dramáticos e projetam cenário desolador para
nossas instituições, que, junto com as universidades estaduais, são
responsáveis por mais de 90% da produção científica no Brasil. Vamos dizer com
todas as palavras: essas decisões governamentais sobre orçamento para educação
promovem um caos proposital, com a clara intenção de minar o ensino superior
público e gratuito.
Só que não: a sociedade brasileira
não permitirá o sucateamento proposital de um setor que promove inclusão e
excelência. Não admitiremos a propaganda enganosa da “balbúrdia” quando o que
se faz na universidade pública é tão somente o cumprimento de missão delegada
constitucionalmente por todos e para todos: desenvolver uma nação a partir do
conhecimento, em ensino, pesquisa e extensão.
Apenas da UnB foram sacados R$
18,1 milhões este ano, de um orçamento que vem sendo diminuído desde 2017. No
ano passado, não recebemos um centavo sequer do governo federal para
investimento. Sem esse dinheiro, deixamos de comprar equipamentos de
laboratório e livros, por exemplo. A verba bloqueada recentemente afeta o
pagamento de serviços básicos, como água, luz, limpeza e segurança.
Retirar dinheiro do ensino
superior é tornar ainda mais precária a vida de milhares de jovens brasileiros
que sonham com um futuro melhor para suas famílias. Essa atitude de descaso
para com a educação pública prejudica a permanência na universidade de
estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Prescindir da
ciência, da inovação e da tecnologia significa abrir mão da soberania nacional.
Lançado pelo centro de estudos Sou
Ciência, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o Painel de
Financiamento da Ciência e Tecnologia e da Educação Superior Pública analisa a
origem e o destino do dinheiro que deveria ser destinado à ciência e projeta
soluções. O exemplo mais gritante do desmonte é o bloqueio dos recursos do
Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).
As estruturas de pesquisa
brasileiras perderam quase R$ 35 bilhões (dos R$ 64 bilhões arrecadados), nos
últimos cinco anos. Os recursos, provenientes de taxas e impostos obtidos com o
fim específico de aplicação na ciência e tecnologia, foram desviados para
outros fins. A luta das entidades da comunidade científica, entre elas a
Associação Nacional dos Dirigentes da Instituições Federais de Ensino Superior
(Andifes) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), é pela
recomposição total dos orçamentos. Sem menos, com mais.
Afinal, que país é este que não
aprende suas lições? O que se viu nos dois últimos anos, infelizmente
atravessados por uma pandemia, foram respostas claras e bastante objetivas da
ciência brasileira. Ainda insuficientes, é claro, diante de um mundo em
constante ebulição e de um planeta em franca destruição pelo ser humano. Para
corresponder aos anseios de um país sedento por progresso efetivo, a pesquisa
científica precisa de financiamento permanente e sempre em ascensão.
Assim, o encontro da SBPC na
próxima semana, programado para os quatro câmpus da UnB — Darcy Ribeiro, na Asa
Norte, Ceilândia, Gama e Planaltina —, constitui oportunidade única para darmos
visibilidade e voz a professores, pesquisadores e estudantes de todo o país com
um desejo: trabalhar em paz em prol do bem comum. Queremos continuar a entrar
em salas e laboratórios tomados pela força de ensinar e aprender.
Sob o tema “Ciência, independência
e soberania nacional”, a vasta programação da reunião da SBPC, nos formatos
presencial e on-line, retrata essa grandeza. É momento de mostrar o que sabemos
e fazemos. Que esse encontro histórico marque a retomada do valor justo e real
da educação e da ciência, para que o Brasil saia da contramão e não se torne
mais vulnerável nas respostas aos desafios locais e globais.
Em parceria com várias entidades e organizações governamentais e não governamentais, às quais agradecemos, a UnB se coloca de braços abertos para receber as comunidades universitárias e a sociedade brasiliense, brasileira e estrangeira em seus espaços de afeto e saber, construídos no cotidiano da capital há seis décadas. Mais do que nunca, nos próximos dias a universidade é um lugar aberto, diverso e democrático.