De todos os 872 candidatos que se inscreveram na Justiça Eleitoral para
disputar um cargo no Distrito Federal nestas eleições, 599 (69%) buscam uma das
24 vagas para deputado distrital. Conquistar uma cadeira na Câmara Legislativa
do DF (CLDF) é a tarefa mais concorrida para quem deseja ser eleito em outubro.
A escolha é tão pulverizada, que, entre os que foram eleitos para a CLDF nas
últimas eleições, a diferença do parlamentar mais votado para aquele que
recebeu menos confirmações nas urnas foi de cerca de 23 mil votos. O primeiro colocado
conquistou menos de 2% dos eleitores, pouco mais de 29,4 mil votos, enquanto o
distrital na última posição convenceu 6,5 mil brasilienses (0,44%). A
dificuldade de alcançar a CLDF também pode ser vista em outro aspecto dos
resultados de 2018, quando 37 candidatos conseguiram até 50 votos.
O Correio conversou com distritais que buscam a reeleição e com quem luta por
um cargo na câmara local pela primeira vez. As estratégias para conquistar os
eleitores são parecidas e incluem contato corpo a corpo, panfletagem nas ruas
do DF, divulgação das propostas pelos meios digitais e interação com o público
via redes sociais. No entanto, quem consegue uma vaga na CLDF nem sempre é
aquele que recebeu o apoio de mais cidadãos. Isso porque o sistema usado para
compor as casas legislativas do Brasil é proporcional, conforme explica o
cientista político Valdir Pucci. Em 2018, por exemplo, um candidato com mais de
10 mil votos não foi eleito, ao contrário do último parlamentar a integrar a
legislatura de 2019-2022 — que recebeu apoio de 6,5 mil eleitores.
“O Brasil utiliza dois sistemas eleitorais, o majoritário, para o Executivo e o
Senado Federal, e o proporcional, para o Legislativo. Uma eleição proporcional,
como o próprio nome diz, se baseia na proporcionalidade entre os votos válidos
que um partido recebe, excluídos os nulos e os brancos, e a quantidade de
cadeiras que esse partido terá direito. Por exemplo, se uma legenda recebeu 10%
dos votos, ela tem direito a 10% das cadeiras da CLDF. É claro que não dá pra
fazer essa conta como se fosse uma simples regra de três, então foram criadas
fórmulas para calcular essa proporcionalidade. Neste caso, no Brasil, há o
quociente eleitoral e o quociente partidário (veja Sistema proporcional)”,
aponta o especialista. Não há, contudo, um número exato para garantir uma vaga
na Câmara Legislativa. Segundo Valdir Pucci, a média varia a cada pleito,
porque os votos válidos mudam de uma eleição para outra, o que altera,
consequentemente, os quocientes eleitoral e partidário. “Podemos ter deputados
eleitos com 2 mil votos e outros com 40 mil”, completa o cientista político.
Importância: Apesar da discrepância, a escolha do candidato não
deve ser menosprezada. Os parlamentares da CLDF são essenciais para determinar
os rumos que o DF seguirá nos próximos quatro anos (leia Nossos parlamentares).
“O distrital leva as demandas do cidadão para o Estado, é o elo entre eleitor e
governo. São os nossos distritais que vão dizer como e onde os recursos serão
alocados, a cada ano fiscal, se na educação, na saúde ou no transporte. São eles
que aprovam a liberação de verbas para o funcionamento da cidade, como um
todo”, destaca Valdir Pucci.
Dos 599 candidatos a distrital, 20 tentam ser reeleitos. O Correio entrou em
contato com alguns desses parlamentares. Apesar dos campos políticos divergentes,
as estratégias de campanha não se diferem tanto de um político para outro. As
principais apostas concentram-se em relembrar os brasilienses das conquistas
obtidas durante o mandato em vigor. Para isso, os distritais têm usado as
plataformas digitais e o contato direito com os eleitores, nas ruas da capital
do país. Reuniões com lideranças de segmentos aliados e encontros com
categorias defendidas pelos candidatos têm sido frequentes, além da vinculação
com chapas majoritárias, tanto local quanto nacionalmente.
Entre quem busca uma vaga na CLDF pela primeira vez, há quem acumula
experiência em gestão pública e outras campanhas eleitorais. Nesses casos, a
estratégia usada também lança mão da memória dos eleitores. É o caso de
Marivaldo (PSol), que tentou uma vaga no Senado em 2018; Raissa Rossiter (PSB),
ex-secretária adjunta de Mulheres; e Petrus Sanchez (Podemos),
ex-secretário-adjunto de Assistência à Saúde do DF. O candidato do PSol, por
exemplo, tenta reconquistar os 83 mil votos que conseguiu nas eleições
passadas. “Tenho usado muito o corpo a corpo. Eu mesmo estou panfletando o
tempo todo e usando bastante as redes sociais, para lembrar a população da
minha campanha ao Senado, que foi muito marcante”, avalia o advogado popular.
Raissa Rossiter tem focado a campanha física em 13 regiões administrativas da
capital do país. “Essas RAs representam grupos socioeconômicos variados e
faixas etárias diferentes. Tenho priorizado, principalmente, os segmentos das
minhas principais pautas, que são as mulheres e os empreendedores”, aponta a
candidata.
Ao contrário dos adversários, o obstetra Petrus Sanchez não percorre tanto as
ruas do DF. “Tenho usado contatos, reuniões de grupos e as redes sociais.
Minhas bandeiras são a saúde, a segurança pública e o combate a desvios no uso
de recursos públicos”, lista o ex-secretário.
Campanha: A insistência no contato direto com os brasilienses
é frequente entre quem nunca ocupou um cargo eletivo. Dra Sula (Agir) também
tem percorrido cidades específicas do Distrito Federal para apresentar a
candidatura aos eleitores. “(Tenho feito) corpo a corpo em Planaltina,
Planaltina (GO), Sobradinho 1 e 2, Fercal, Paranoá, Lago Norte, asas Sul e
Norte, Cruzeiro, Ceilândia, Taguatinga e Gama. Acredito no histórico da minha
vida,de acolher os mais necessitados. Acredito que, se as pessoas que
representam o povo não tomarem conta da gestão de Brasília, a Câmara
Legislativa será dominada por empresários em prol de suas próprias empresas,
sem nenhum projeto social”, pondera.
Pouca estrutura de campanha e baixos recursos financeiros são constantes entre
esses candidatos, pouco conhecidos dentro dos próprios partidos. Kalango
Corredor (PTB) , que aposta no corpo a corpo nas ruas e nas redes sociais, se
encaixa nessa situação. “Sou um candidato humilde e sem dinheiro para a minha
campanha. Quero representar os ciclistas e os corredores de rua. Minhas
principais bandeiras são o esporte, a cultura e a saúde, e pretendo ir ao meu
público, que inclui também os tatuadores e body piercings.”
Diretor do Sindicato dos Rodoviários do DF, João Dão (PT) também quer falar
diretamente com a categoria que representa. “Estou fazendo corpo a corpo e
também estou nas redes sociais. Quero defender os trabalhadores rodoviários e
buscar melhorias no transporte. A população merece qualidade. Tudo que for em
busca de melhoria para a comunidade estou apoiando”, comenta.
Para saber mais - Sistema proporcional: Primeiro, é preciso calcular o quociente eleitoral, que é o total de votos válidos, dividido pelo número de cadeiras — no caso da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), 24. Depois, com o quociente eleitoral, é necessário calcular o quociente partidário, que é o número de cadeiras que cada partido terá direito: 10%, 20% ou 30%, a depender do resultado.
E aí vem a grande questão: por que alguns deputados com mais votos não são
eleitos, enquanto outros que receberam menos votos conseguem uma vaga? Isso
depende, justamente, da filiação e da distribuição de cadeiras para aquele partido.
Suponhamos que o Partido A tenha, proporcionalmente, direito a uma única vaga.
O eleito será o mais votado do partido, que recebeu 6 mil votos, por exemplo.
Já no Partido B, que também teve direito a uma vaga, o primeiro colocado teve
50 mil votos e o segundo, 30 mil. Ora, o primeiro colocado desse partido vai
ser eleito e o segundo, não.