No final da década de 1960, período difícil da nossa história, a música
era a grande expressão de resistência à opressão, ao ódio e à violência contra
a liberdade. Os festivais foram a porta para que aquela geração de artistas
ecoasse o grito abafado dos que lutavam pela liberdade e contra a opressão. Mas
não era só o que eles cantavam, era o que o público ouvia. Sim, o povo exercia
seu poder de escolha por sua livre manifestação, seja de satisfação ou não,
pelas músicas escolhidas pelo júri. O ápice dessa apoteose foi o festival
internacional da canção, em 1968, quando o paraibano Geraldo Vandré apresentou
aquele que se tornaria o hino da resistência da época: Para não dizer que não
falei de flores.
O público reagiu com revolta por não ver como vencedor o seu desabafo
contra o ódio e a opressão. Mesmo sem vencer o festival, a música caiu nas
graças do público presente e passou a ser alvo do então regime ditatorial que
comandava o País. Era por ele considerada uma apologia ao subversivo desejo de
combater os canhões com as flores. Sim, foi isso que Vandré fez o público
gritar em sua canção, "acredito nas flores vencendo o canhão". Era o
amor sendo apresentado para enfrentar o ódio que imperava no regime de exceção.
Os festivais do final da década de 1960 e início da de 1970 serviram
para mostrar que o proibido é a marca que reforça o fazer. Caetano Veloso,
nesse mesmo FIC de 1968, apresentou como música o protesto É proibido proibir,
que apesar de alinhado com o anseio da plateia, formada pela juventude de
espírito revolucionário, foi vaiado porque não traduziu o desejo dos que
gritavam. É esse o segredo do bom líder, ouvir o grito dos seus liderados,
amainar a raiva e o ódio e exaltar o amor, para que essa seja tônica da
sociedade: a flor vencendo o canhão. Medo e opressão, nunca mais!
Geraldo Vandré despertou no exército da resistência o sentimento de que
quem sabe faz a hora, não espera acontecer. Nosso futuro não pode estar nas
mãos de quem não luta por nossos sonhos, e só nós mesmos podemos traduzir em
luta a nossa esperança. O recado era claro, não podemos esperar. A estrofe de
Vandré é uma convocação para que saíssemos da subserviência e da acomodação e
passássemos a lutar pelo que acreditávamos. Se era isso que faziam na plateia,
contestando o júri dos festivais, que fizessem nas ruas contra os que queriam
calar o suspiro de resistência a opressão.
Não é na arma que está a solução. Não será no argumento bélico que
imporão os limites dos nossos sonhos. Não serão com as armas nas mãos que
militantes manipulados farão nosso sonho escurecer. O despertar da consciência
de cada brasileiro reforçará o desejo de lutar por seus sonhos, não permitindo
que se sintam perdidos de arma nas mãos, com a crença de que devem morrer pela
pátria, mas viver sem razão. É na vida que temos o desafio de transformar o
mundo.
Seguiremos caminhando e cantando a esperança, com o amor na mente e as
flores no chão. O amor neutralizará o ódio e traduzirá nas flores o verdadeiro
instrumento de transformação. Alguns querem passar para o Brasil que a
celebração do Dia da Independência pode se transformar no estopim de uma
ruptura institucional. Não acredito. A defesa da liberdade está em todos os discursos,
em todas as matizes políticas e ideológicas.
Paulo Freire disse que os divergentes devem se unir para combater os
antagonistas. Por isso, todos que lutam pela democracia devem se unir contra
aqueles que querem retirar o direito à liberdade. Essa eleição não é a disputa
entre candidatos ou partidos. Essa eleição é pela defesa da democracia. E,
nessa defesa, os democratas devem se unir, sejam de que corrente ou ideologia
forem. A escolha será entre a democracia e a autocracia. Não tenho dúvidas sobre
a minha opção. Só a democracia fará um Brasil mais justo. Sou democrata por
princípio e dele não abro mão.
No final, tudo dará certo. A convergência dos que defendem a democracia
vai ganhar, porque sabemos o custo de viver sem liberdade. Já passamos por isso
antes, em nossa história recente. Famílias tiveram seus entes retirados do
convívio sem que soubessem os motivos da violência e alguns nem mesmo o direito
a saber do seu paradeiro foi permitido. Para alguns, nem o direito a uma
despedida foi permitido. Sou otimista. Eu acredito que as flores vencerão os
canhões e que a esperança controlará o medo, deixando que o amor vença o ódio
em outubro próximo. E como fazer isso? Simples, é só não levar o ódio para a
urna no dia de votar. É só deixar que o amor controle o digitar da urna
eletrônica no próximo pleito eleitoral. Viva o Brasil, viva os brasileiros!