Confesso que sou daquelas pessoas
apaixonadas pelo Natal. Gosto das cores, dos brilhos, das luzes, das árvores.
E, claro, do Papai Noel. Mas não gosto do Natal antecipado. Fico incomodada ao
encontrar panetones à venda no mês de outubro. E as lojas, então? Nem começou
novembro e já há decoração natalina na grande maioria delas. Algumas, com
enormes árvores montadas e tocando músicas desta época do ano!
Compreendo a necessidade do
comércio de estimular as vendas, de fazer renascer o espírito natalino e criar
um ambiente que mande uma mensagem ao nosso inconsciente: olha, o Natal está
aí! Tenho sempre a impressão de que a data está chegando cada vez mais cedo.
Essa sensação, ao contrário de trazer a alegria natural, me faz lembrar que
posso estar atrasada nos preparativos e já me ponho a pensar onde estarão
aquelas velhas caixas com todos os badulaques guardados ao longo dos anos.
Parafraseando um texto que todos
devem conhecer, cuja autoria é atribuída ao poeta Carlos Drummond de Andrade,
embora haja questionamentos sobre isso, quem teve a ideia de fatiar o tempo,
foi genial. Doze meses são um tempo perfeito para organizar as emoções.
A chegada do Natal sempre traz
boas lembranças. Geralmente da infância, por mais diferente que tenha sido da
época atual. Lembro que aos 10 anos de idade, quando morava numa pequena
capital nordestina, os natais eram sinônimos de brinquedos, já que nas demais
datas comemorativas (aniversários, Dia da Criança, Páscoa, etc), as
lembrancinhas eram, invariavelmente, livros. Essa cultura adotada na família
humilde contribuiu para uma boa formação e fez nascer um bom hábito. Mas, vá
explicar isso a uma criança!
Embora com poucos recursos, a
família mantinha a tradição de comemorar o Natal. Havia uma pequena árvore —
pelo menos menor do que a que tenho hoje —, instalada sobre uma prateleira no
corredor da casa, com lâmpadas pisca-pisca que refletiam as cores na parede
branca. As bolas que enfeitavam a árvore eram feitas de um vidro bem fino,
douradas ou vermelhas e tinham que ser manuseadas com extrema delicadeza.
Quando alguém se aproximava, o reflexo fazia com que a imagem ficasse
aumentada. A brincadeira era se ver com olhos grandes (risos). Hoje sei o
quanto eram simples. Mas eram lindas e me traziam a mesma emoção que sinto
hoje, com objetos e decoração bem mais sofisticados.
Voltando à atualidade, passada a
revolta inicial pela antecipação da data, sigo no mesmo processo dos anos
anteriores, de renovar a velha promessa de comprar presentinhos com
antecedência para evitar a correria da véspera, de procurar as tradicionais
receitas da ceia (escritas à mão num velho caderno com várias páginas dobradas
como marcadores) e de tentar inutilmente encontrar um local diferente para
armar a árvore. Quem não?
Recorrendo mais uma vez ao texto
Cortar o tempo, a “criação” dos meses nos permite encontrar tempo para
desacelerar, para “industrializar a esperança” e aguardar “o milagre da
renovação”. Isso depende muito de cada um de nós, do que aprendemos ao longo
dos anos e do que planejamos para o futuro, acreditando que estamos aqui nesta
vida para fazer o bem que pudermos. Para nós e para todos, em todos os meses do
ano. Portanto, não precisa se apressar. Faltam quase dois meses para o Natal.
Faça sempre, faça hoje, faça agora.