A estátua de bronze
fundido que chegou a Brasília, em 1960, em função da inauguração da cidade, é
uma réplica da escultura em tamanho natural que se encontra no Museu
Capitolino, em Roma. Em cima de uma coluna de granito, ela adorna os jardins do
Palácio do Buriti, em frente ao Eixo Monumental.
Ainda no gramado, só
que na lateral, é possível conferir uma escultura vazada em forma de obelisco
do artista plástico Enio Iommi, um agrado do governo argentino. Do outro lado,
na Praça do Buriti, obras dos governos de Cuba e da Nicarágua estão presentes
em homenagens, respectivamente, aos líderes José Martí e Augusto César Sandino.
“É algo que a maioria da população desconhece”, observa Renata Zuquim, chefe do Escritório de Assuntos Internacionais do GDF, repartição responsável pela articulação e tratativas junto a governos de outros países. “Brasília, de fato, tem essa vocação internacional. Essa peça da Lupa Capitolina remete a uma lenda que representa a fundação da cidade de Roma, um presente dado a Brasília na época da inauguração da nossa cidade”, contextualiza. ( Vídeo ~~~~ )
“Brasília sempre
recebeu muitos presentes das personalidades e autoridades que visitavam a
cidade. Era uma capital jovem e fazia muito sentido uma lembrança para marcar
encontros especiais”, conta o publicitário João Carlos Amador, autor da série
de livros Histórias de Brasília.
“O interessante é que alguns
presentes tinham o objetivo de fazer parte da paisagem da cidade de forma
definitiva, como o monumento Solarius, vindo da França e que o autor queria que
ficasse no Plano Piloto. Por determinação de Lucio Costa, ficou bem afastado da
cidade. Outro exemplo é o relógio da Citizen, vindo do Japão, que acabou
ficando em Taguatinga e dando nome à praça local mais famosa”, elenca o jovem
entusiasta da história da capital.
Hermanos na tradição da fé católica: Uma Catedral não está completa se faltar… Os sinos! E os quatro daqui soam em espanhol. Feitas de bronze e suspensas num campanário de 20 metros de altura, as peças foram construídas em 1962 e presenteadas pelo governo da Espanha, por conta da inauguração do espaço sagrado, em 1971.
“Esses presentes representam a universalidade da igreja, demonstrando que existe uma fraternidade entre as nações” (Padre Paulo Renato Pereira da Silva, pároco da Catedral)
Em referência às caravelas de
Cristóvão Colombo, que aportaram no novo continente no século XV, as três
maiores campainhas de ferro foram nominadas Santa Maria, Pinta e Nina,
referência as embarcações que descobriram as Américas. Uma quarta, a menor, tem
o nome de Pilarica, homenagem a Nossa Senhora do Pilar, padroeira da
Hispanidade, as comunidades formadas por todos os povos e nações que
compartilha a língua e cultura espanhola.
“Esses presentes representam a
universalidade da igreja, demonstrando que existe uma fraternidade entre as
nações”, analisa o pároco da Catedral Metropolitana de Brasília, padre Paulo
Renato Pereira da Silva. “Os sinos vieram da Espanha, que também manifesta a fé
católica, que tem uma importância muito grande na América porque remete à
tradição do evangélico que chegou aqui por meio das catequeses, dos jesuítas”,
cita o religioso, lembrando as figuras de Anchieta e Dom Bosco.
Do lado de dentro do templo religioso, um dos símbolos da capital, uma réplica perfeita da Pietà, famosa escultura do artista italiano Michelangelo (1475-1565), emociona os fiéis. A obra, feita com mármore em pó e resina, data de 1499, mede 1,74 m e foi um presente do museu do Vaticano. Turistas de Pelotas (RS), o casal Guilherme e Thaís Ritter se encantou com a beleza translúcida dos vitrais e da história da Catedral de Brasília.
“É a primeira vez aqui em Brasília e tudo é novidade, desde a arquitetura a esse céu deslumbrante da cidade”, observa a advogada Thais, 35 anos. “Um dos locais que mais queríamos visitar era a Catedral, cheia de simbolismos e história, emocionante”, diz o empresário Guilherme Ritter, 42 anos, que, assim como a esposa, teve forte formação católica.
Jardins da diplomacia: Mais recentemente, em 2021, a embaixada da Índia presenteou o DF com o busto do líder religioso espiritual e ativista político, Mahatma Gandhi (1869-1948), que pode ser apreciado pelos usuários do Parque da Cidade, na altura do estacionamento 10. Já no Jardim Botânico de Brasília, conhecimento e diversidade se esparramam pela Alameda das Nações e dos Estados, numa mistura de culturas exemplificadas pela particularidade da flora local.
Jardim Botânico ganhou parques
ornamentais com espécies típicas de outros países, simbolizando a união de
culturas
Até o momento, são quatro pequenos parques ornamentais que simbolizam a flora de países como Polônia, Espanha, além de outras cinco nações da América Central. Na Praça Israel, um jardim bíblico com representações, em belíssimos trabalhos em mosaico, de sete espécimes representativas das narrativas do Velho e Novo Testamento, como uva, figo, tâmara, trigo, cevada e olivas.
“A ideia dessa Alameda faz parte
do conceito inicial do projeto do Jardim Botânico e, por ser Brasília uma
representação de vários países, a ideia é justamente captar a essência da
cultura desses países aqui numa relação que envolve a natureza”, explica o
superintendente de Conservação do Jardim Botânico de Brasília (JBB), Elton Baia
Lopes de Oliveira. “As parcerias são feitas com as embaixadas e são presentes
diplomáticos. É muito importante esse espaço porque traz referências botânicas
desses países”, afirma.
Para o embaixador da Costa Rica, Norman Lizano Ortiz, a parceria entre os cinco países representados pelo Jardim da América Central – Honduras, Nicarágua, Guatemala, El Salvador e Costa Rica – em homenagem ao bicentenário da independência dessas nações, permite que visitantes do espaço conheçam, de forma empírica, a flora e cultura de outras partes do mundo. “O Jardim Botânico é um dos espaços turísticos mais visitados de Brasília, então é uma oportunidade dos brasilienses e pessoas de outra parte do Brasil conhecer a flora do nosso país”, comenta.
Outros presentes: Solarius –
O monumento abstrato Solarius, obra do artista plástico
francês Ange Falchi, é uma homenagem do “governo e do povo da França à jovem
capital brasileira”, pela coragem e espírito de aventura na construção da nova
capital do país. A estátua de 16 metros de altura, feita de aço, ferro
galvanizado com enchimento de lã de vidro e concreto, foi inaugurada em
novembro de 1967 e fica às margens da BR-040, próximo a Santa Maria.
Praça do Relógio –
Milhares de pessoas circulam pelo local e nem desconfiam que o obelisco e o
relógio fincados na Praça Central de Taguatinga são presentes do Japão. Foi
doado à cidade pela Citizen Watch Co., em dezembro de 1970, após visita do
presidente internacional da empresa, Eiichi Yamada, à capital. O monumento tem
quatro lados de concreto sustentado por uma torre de 15 metros de altura.
Arte Muralista de Israel –
Dois trabalhos de arte realizados por artistas da cidade celebram, desde 2021,
a relação de amizade entre Brasil e Israel. Na estação de metrô Galeria, por
exemplo, no Setor Comercial Sul (SCS), o painel Fraternidade, criado
pelo grafiteiro Rodolfo Madureira, o Caabure, conta a relação afetiva entre as
duas nações a partir de figuras como a estrela de Davi e os ipês da capital. O
mesmo sentimento de união entre os dois países é expressa pela dupla Nivaldo
Nunes e Geovani Pedroso, em pintura realizada numa das paradas de ônibus da
Galeria dos Estados.
Busto das Irmãs Mirabal –
Símbolo da luta contra o feminicídio e a violência contra a mulher, o
monumento Busto das Irmãs Mirabal foi inaugurado em novembro de
2021, na área externa da Embaixada da República Dominicana. O desenho da praça
onde ficam as três peças é da arquiteta Laura Oviedo e as esculturas do artista
René Guzmán, num conceito que une as cores da resina âmbar, da pedra nacional
larimar e borboletas (La Mariposas), apelido carinhoso das Mirabal – Patrícia,
Minerva e Maria Tereza –, assassinadas pelo regime de Rafael Leónidas Trujillo.
Estátua de Marie Curie – Localizado no estacionamento 11 do Parque da Cidade, a Praça das Mulheres deve ganhar, em breve, uma estátua da cientista polonesa naturalizada francesa Madame Marie Curie, pioneira nas pesquisas sobre radioatividade. O monumento de 2 metros de altura foi uma doação para o povo de Brasília, em 2017, do ex-embaixador polonês, André Braiter. Atualmente a peça se encontra na Residência Oficial de Águas Claras (Roac). ( Galeria de Fotos .... ) ~ ( https://bit.ly/3U9t9sw )