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Meu nome também é Gal

Meu nome também é Gal

Meu nome também é Gal, repito. Gal vem de Graça, talvez de estado de permanente graça. Agora de impermanência. Assim é a vida, afinal. Antes aqui; daqui a pouco em algum lugar, que há de ser bom, quiçá melhor. Gal não está em qualquer lugar, mas no nosso coração que ainda bate. E nem é só saudade que a gente sente. 


O que sentimos é aquela voz ainda pulsando por dentro, reverberando por fora. Tão particular, tão universal. Tão única, tão de todos. Quisera eu ter uma frase que rompesse vírgulas, pontos, como a voz dela fez e faz. Só para falar dela. Gal e seu repertório são potentes, ultrapassam, transpassam, atravessam e confortam.


Gal ainda cantará em nós e será para sempre, sempre lindo. Artista maravilhosa, de tantos ritmos, encantos e axés. Luz do sol, Gabriela, Chuva de prata, Vaca profana, Baby... Que saudade! 


Ela nos embalou, dançou com a gente, conclamou “Brasil, mostra tua cara”, moveu nossas estruturas, nossas “cadeiras”, remexeu tudo por dentro e por fora. Gal é memória e vivência. Artista, militante, amiga de Gil, Caetano, Bethânia e tantos outros. Filha da Bossa Nova, da Bahia, do Brasil. Mãe de todas as vozes, como disse Nando Reis. Mãe de Gabriel; mulher de Wilma. 


O choro dos fãs é mais um pranto para o nosso luto coletivo, que parece não acabar. A morte é o curso natural da vida, mas estamos preparados para perder tanto? Gal não precisava ter ido agora, não é? Podia ter ficado mais em nossa companhia. Podia ter alegrado mais o Brasil. Mas não há de ser nosso o direito recriminar Deus por a ter levado. Quem sabe os planos que tem pra ela ou pra nós todos? Acredito que há generosidade nas escolhas sagradas e nos mistérios. 


Todos nós de alguma forma somos Gal e sua energia limpa e grandiosa. Cada canção que ouvimos reverbera luz em seu caminho. Vamos ouvi-la para sempre porque a memória dela está preservada. Sinto assim. De verdade. E olha que presente é isso! 


Toda a sua obra está presente. Seu legado para o Brasil é perene e intenso. Gal merece todas as homenagens. É única, talento incontestável. Ícone da MPB. Do forró à cantiga de ninar, do rock às músicas de protesto. Tinha o ecletismo na veia e tudo o que cantava também encantava. Para sempre, seremos Gal. Seremos “amor da cabeça aos pés” por ela, profundamente gratos pelo que fez por nós.


Ana Dubeux – Correio Braziliense




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