Acabou uma Copa do
Mundo sem precedentes. Investimento recorde (mais de R$ 1,2 trilhão), custos
altos para os torcedores e uma logística interna facilitada são alguns dos
fatores que tornaram único o torneio sediado no Catar e faturado pela seleção
da Argentina. Entre críticas e elogios, o país-sede considera positivo o saldo
final do megaevento organizado pela Fifa. Por um lado, houve muita festa com a
quarta maior média de público da história.
Por outro,
reclamações, sobretudo pelo tratamento dado à comunidade LGBTQIAP (veja mais na
página 20), às mulheres e aos trabalhadores imigrantes. Terminada a competição,
é hora de pensar no que vai ser a próxima. Em 2026, sede tripla formada por
Canadá, México e Estados Unidos recebe uma edição distinta em relação a do
Oriente Médio. A seguir, o Correio lista cinco diferenças deste Mundial para o
que vai ocorrer daqui a três anos e meio.
No Mundial da América
do Norte, serão 48 vagas, em formato ainda não definido pela Fifa. A divisão de
vagas por confederação será a seguinte: a Ásia terá oito times e mais um na
repescagem; a África classifica nove, com outro na seletiva. A América do Sul
terá seis e mais um na repescagem, mesma quantia das Américas Central e do
Norte. A Oceania participá com uma equipe, enquanto a Europa joga com 16
seleções.
Distâncias: Outra
diferença significativa é em relação ao deslocamento interno de torcedores. No
Catar, a maior distância entre os oito estádios era de aproximadamente 68
quilômetros — percurso de carro do Al Janoub, em Al Wakrah, ao Al Bayt, no meio
do deserto de Al Khor. Foi possível fazer qualquer trajeto com transporte
público gratuito — o novíssimo metrô de Doha ou o ônibus express
disponibilizado pela organização em dias de jogos.
Em 2026, a logística —
crítica tão marcante nos Mundiais do Brasil, em 2014, e na Rússia, em 2018 —
voltará a ser uma questão. A Fifa escolheu 16 cidades-sede para a competição:
três no México, duas no Canadá e 11 nos Estados Unidos. Naturalmente, pela
distância entre os países, as viagens de avião voltarão a ser uma constante
para torcedores e jornalistas.
No Catar, repórteres
credenciados puderam acompanhar até dois jogos por dia. Ao fim da competição,
houve jornalistas que foram a mais de 30 — algo impensável em outras edições.
Entre torcedores, o influenciador brasileiro Lucas Tylty bateu o recorde
mundial de partidas em uma mesma Copa e se propôs a frequentar cada uma das 64,
da abertura à final.
Daqui a quatro anos, a
maior distância entre cidades será 70 vezes maior. Quase 5 mil quilômetros
separam Vancouver, no Canadá, e a Cidade do México. Voos diretos entre as duas
sedes demoram cerca de seis horas.
Ainda não se sabe
exatamente como a Fifa distribuirá as seleções entre as 16 cidades. A tendência
é que a entidade separe os jogos de cada grupo por região ou país, a exemplo do
que fez em 2002 no Mundial dividido entre Japão e Coreia do Sul. É possível
que, por exemplo, uma seleção jogue toda a fase inicial da Copa em uma só
região para diminuir os deslocamentos.
"Vamos tentar
organizar a Copa de um jeito que as seleções e os fãs não tenham que viajar
muito. No momento oportuno vamos decidir o local da abertura e o palco da
final", assegurou o presidente da Fifa, Gianni Infantino.
Infraestrutura: O
Catar fez a Copa do Mundo mais cara da história ao investir cerca de R$ 1,2
trilhão em obras de infraestrutura, como estádios, rodovias, metrô e até uma cidade.
Lusail, palco da final de domingo (18) entre Argentina e França, foi construída
do zero para receber dez jogos do Mundial.
Várias
arenas gigantes foram erguidas em um país sem tradição no futebol. "Quando
assistimos a jogos, costumamos assistir de casa mesmo", disse o motorista
catari Khalouf. Justamente por isso, a organização local decidiu desmantelar a
maioria dos estádios e transformá-los em outras coisas, como estabelecimentos
comerciais, mesquitas e centros médicos, por exemplo.
Para
2026, a Fifa espera que tudo seja bem diferente — tanto nos investimentos em
infraestrutura, quanto no legado deixado pela competição. Estados Unidos,
México e Canadá têm tradições bem diferentes no futebol, mas uma coisa em
comum: grandes e modernos estádios para receber a Copa. Comparado ao Catar,
quase nada precisará ser feito.
Preços: "Nós
não estamos em condições para isso", resumiu o argentino Adrian Pablo De
Reatti, que saiu de Buenos Aires para acompanhar a seleção no Oriente Médio.
Ele conta que, muitos dos 30 mil compatriotas que viajaram ao Catar tiveram que
fazer "loucuras" financeiras para conseguir assistir à campanha da
Alviceleste.
De fato, a Copa do
Catar é a mais cara da história não apenas em investimentos da organização, mas
também para os torcedores. Estima-se que era necessário pelo menos R$ 30 mil
para ficar dez dias no país, considerando passagens, hospedagem, alimentação e
ingressos.
Não que o próximo
Mundial vá ser barato para os torcedores, mas a expectativa é que haja maior
flexibilidade para que cada um adapte a viagem à própria realidade financeira.
No Catar, não havia possibilidade de se hospedar em locais de custo mais baixo,
como hostel ou AirBnB, por exemplo. As opções estavam limitadas aos
estabelecimentos oficiais da Fifa, o que tornava tudo mais caro.
Outro custo bem alto
no Catar foi a alimentação, por dois motivos especiais: por estar no meio do
deserto, o que naturalmente faz com que tenha que importar a maior parte dos
alimentos; e por ter uma renda média consideravelmente superior ao resto do planeta.
Em 2026, haverá o ponto negativo de provavelmente se gastar mais com passagens aéreas. Porém, os custos com hospedagem e alimentação certamente serão bem menores.