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É preciso acabar com o eufemismo nas discussões climáticas

É preciso acabar com o eufemismo nas discussões climáticas

Nos últimos 27 anos, as conferências mundiais do clima, como a COP-27, realizada recentemente no Egito, tem discutido a implementação de políticas públicas para mitigar as emissões de gases de efeito estufa. Definir as metas sempre é fácil, o problema é alcançá-las. Em regra, as discussões nestas conferências rendem poucos avanços. O resultado são jogos de palavras que distorcem a realidade e apenas disfarçam os interesses econômicos, muitas vezes maquiados em iniciativas que não traduzem a realidade e fomentam o ativismo. Tudo isso tem levado a ações e políticas públicas nefastas à sociedade.


A ONU tem advertido sobre a urgência de atingir a meta do Acordo de Paris de limitar em até 1,5 graus Celsius a elevação da temperatura no planeta. Ora, isso é um eufemismo. O desafio aumentou com a crise energética mundial, que teve como uma de suas causas a forma equivocada de acabar com os combustíveis fósseis, via estrangulamento financeiro e da indústria de seguros. Sem investimento em projetos de longa maturação, não há produção. E se a demanda está aquecida, os preços sobem. A crise de oferta e demanda foi agravada pela guerra da Ucrânia, que afetou cadeias produtivas importantes para o mundo, como a segurança alimentar.


Para complicar o cenário, com as quebras de diversas cadeias produtivas devido à covid-19, os Tesouros, via aumento de deficit, causaram maior inflação. A palavra do momento é segurança. A Europa, que importa 70% de seus fósseis e depende do fornecimento da Rússia, está em situação crítica e busca acelerar uma transição energética, incrementando fontes domésticas, como sol e vento. Ao mesmo tempo, está incentivando a produção de fósseis em outros países para se aquecer nos próximos invernos. Os países em desenvolvimento, com crescimento acelerado (China, Índia e o sudeste asiático) onde está 60 % da população mundial, demandam combustíveis fósseis e seus derivados (cimentos e aço, por exemplo) para a urbanização e redução da pobreza.


No mundo real, ainda temos 770 milhões de pessoas sem acesso à energia, um deficit que foi agravado pela atual crise econômica e pelo aumento no custo dessa matéria-prima. Hoje, nos países mais pobres, aumentou o uso de biomassas para gerar calor, cozinhar e aquecer, aumentando a poluição indoor. Ao fim e ao cabo, tudo se resume a dinheiro, que também está por trás das negociações climáticas. Os europeus, com seu discurso eurocêntrico, desejam que todos produzam a energia como eles, pois o custo da energia é um fator de competitividade. A Alemanha, devido ao seu programa Energiewende, tem um custo de energia elétrica cerca de 50 % maior que a média europeia, com subsídios, em 2022 ,de cerca de 22 milhões de euros.


A aceleração provocada pela Europa na transição energética levará ao aumento de capex para energias renováveis, com o consequente incremento do uso de materiais, como aço (carvão ferro) e os minerais críticos (cobre, lítio, níquel, terras raras, cobalto). Existem previsões que mostram que, em 2026/27, teremos falta de cobre no mercado, elemento básico para motores elétricos. O ritmo da transição energética e seu custo certamente ensejam uma preocupação, principalmente para aqueles que não têm dinheiro para pagar a energia.


No Brasil, onde temos 21 milhões de famílias que vivem graças ao auxílio financeiro do governo federal, esse custo é bancado pelo restante dos 215 milhões. Vemos o dinheiro para a transição energética aparecer nos países ricos, como nos Estados Unidos, onde a nova Lei Inflation Reduction Act (IRA), de 2021, disponibilizou US$ 75,8 bilhões para desenvolvimento tecnológico da transição energética.


Será que os países pobres receberão desconto ao comprar essas low carbon tecnologies? Essas e outras questões não foram respondidas pela COP-27. O que vimos lá foi mais um jogo econômico sob o manto climático, onde compromissos assumidos pelos países ricos no Acordo de Paris (US$100 bilhões/ano) não foram cumpridos e o dinheiro na mesa dos países pobres não apareceu.


Fernando Luiz Zancan - Presidente da Associação Brasileira do Carvão Mineral (ABCM)





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