Governadora em exercício do Distrito Federal, Celina Leão (PP) foi a
convidada do CB.Poder Especial — parceria do Correio e TV Brasília. Às
jornalistas Ana Maria Campos e Denise Rothenburg, ela avaliou que Ibaneis Rocha
(MDB), afastado do cargo de governador, “não calculou que Anderson Torres
pudesse fazer tão mal a ele”, falando sobre indicação como secretário de
Segurança Pública. “Ninguém acreditava numa sabotagem dessa. Achávamos, num
primeiro momento, um grande inconveniente político, um mal-estar ou uma
situação ruim. Mas ao ponto que chegamos, jamais”, apontou.
Faltando 11 dias para o fim da intervenção federal na Segurança Pública
do Distrito Federal, imaginamos que a senhora tenha pelo menos os nomes que
podem ir para a secretaria. A definição vai acontecer ainda nesta semana? Vamos ter
uma reunião com o ministro (da Justiça e Segurança Pública) Flávio Dino para
decidirmos. É uma escolha coletiva, de nomes que agregam tanto para o governo
federal quanto para o DF, nesse momento de compartilhamento de
responsabilidades. Isso para que o governo federal fique confortável e nós
também. Até a próxima segunda ou terça-feira, a gente deve estar chegando em um
consenso.
Quem deve ser o próximo secretário de Segurança Pública? Vai ser um
policial federal? Acho que o perfil tem que ser esse, no
momento. É uma instituição que não tem disputa, nem com a Polícia Civil, nem
com a Polícia Militar. Acredito que o perfil ideal seria de um policial
federal. Depende da decisão do próprio presidente Lula.
O novo secretário de Segurança do DF tem que ser alguém sintonizado com o governo federal? O governador Ibaneis insistiu muito em nomear o Anderson Torres e tudo que aconteceu depois mostrou que foi um erro. O Anderson (Torres) foi secretário de Estado nosso. Ele ficou dois anos no governo do Distrito Federal, depois foi alçado a ministro, ficou um ano e meio, e depois solicitou o retorno à SSP. Acho que Ibaneis não calculou que Anderson pudesse fazer tão mal a ele. Nem nós calculamos. Ninguém acreditava numa sabotagem dessa. Achávamos, num primeiro momento, um grande inconveniente político, um mal-estar ou uma situação ruim. Mas ao ponto que chegamos, jamais.
Acredita que ele (Anderson Torres) participou de uma sabotagem que
permitiu o que aconteceu naquele dia? Ele nomeia
toda uma equipe, que é responsável pelo apagão da Secretaria de Segurança.
Viaja. Não quero me antecipar aos fatos, porque tem um inquérito em curso. Mas
a Segurança Pública de 1º de janeiro, que foi elogiada durante a posse do Lula,
era comandada pelo governador Ibaneis. O que aconteceu depois? Mudanças na cúpula
da secretaria.
O governador Ibaneis volta ao cargo? E pode antecipar essa volta? Acredito
que sim, com certeza, até com essa possibilidade (de antecipação). Nós trazemos
essa tranquilidade para o governo federal, até porque somos um projeto político,
eu e o governador Ibaneis. Fomos eleitos democraticamente, a cidade sabe disso.
Acho que eu complemento muito a chapa dele. Ele também tem uma força de
trabalho, é um grande gestor. Ele não pode ficar afastado muito tempo.
Naquele domingo (da invasão aos prédios dos Três Poderes), as
informações que chegaram ao governador o convenceram de que estava tudo bem
mesmo? Houve uma falha na inteligência? Quando você
forma a equipe, tem que confiar nela. Quando pego um secretário meu, ele está
ali para colher a informação e me passar. Até as informações que passavam para
o governador, em momentos que antecederam a confusão, era de pacificação, que
estava tudo tranquilo. Se você é um governador, recebendo mensagens nesse
sentido, você acredita. O apagão da inteligência foi a coisa mais grave que
aconteceu na Secretaria de Segurança Pública. Tem um cargo que sempre foi da
Polícia Civil, dentro dessa estrutura, que é responsável por coletar as
informações, e nunca foi ocupado por um delegado federal. Foi um dos cargos que
foram retirados da Polícia Civil.
Até porque, para um cargo como o de subsecretário de Inteligência, ele
precisa conhecer muito a cidade e as instituições, porque uma função de
inteligência é justamente informação, não é? Tivemos um
apagão da Segurança Pública. Quando você não tem inteligência, como é que dois
ou três mil homens controlam um milhão de pessoas? Com inteligência. Às vezes
não tem o mesmo número de policiamento para o número de manifestantes, mas a
inteligência te ajuda muito, é primordial.
Falam que o coronel Fábio Augusto Vieira é uma pessoa muito respeitada
na corporação. Na sua opinião, a prisão dele foi correta? Naquele
momento, ninguém tinha uma análise completa. Tínhamos um secretário de
Segurança Pública viajando e o substituto falando que estava tudo bem. Quem
sobra nessa hierarquia? O coronel (Fábio Augusto). Posso dar uma opinião do que
vivi no dia. Acompanhando, ao lado das autoridades federais, vi que o
ex-comandante-geral estava lá tentando retirar os manifestantes, ouvindo as
bombas e controlando. A Polícia Militar foi fundamental. Com todo o apagão da
inteligência que aconteceu. Agora, naquele momento, decisões precisavam ser
tomadas (pelas autoridades federais). A intervenção foi muito criticada, mas o
GDF está ileso nesse processo. As autoridades estão colhendo informações dentro
da pasta que eles acham que houve a sabotagem.
O que vai ser feito daqui para frente para evitar que esse apagão se
repita? Está se falando, inclusive, em federalização da área de Segurança do
Distrito Federal. Acha que essa é a melhor forma? É natural
que alguns parlamentares proponham projetos. Mas quem precisa ser ouvido
de verdade são os parlamentares eleitos pelo Distrito Federal, que conhecem a
nossa cidade. O DF tem mais de 3 milhões de habitantes, como é que um
governador fica com a responsabilidade de comandar tudo, o ônus de ter a
responsabilidade, e ser comandado pelo governo federal? Essa discussão se
resolve com medidas simples, como um batalhão específico da guarda dos poderes
— que foi a primeira medida que tomamos — com reforço do perímetro e com uma
subsecretaria especial. São sugestões de pessoas que não conhecem a nossa
cidade. O Distrito Federal sempre foi palco de manifestações, mas nunca houve
nada igual aconteceu agora. A polícia falhou aqui alguma vez? Não. São homens e
mulheres íntegros, que fazem o seu serviço e que cumprem ordens. Agora, que
houve um apagão está muito claro.
Vai ter uma mudança, ainda que não venha uma federalização da segurança,
mas o que vai mudar agora? O primeiro gesto que fiz foi
deixar à disposição uma indicação compartilhada. Falei que vai ser um nome que
vocês (governo federal) confiem e que nós também tenhamos essa confiança.
A indicação vai ter que ser colocada no papel, para evitar que um
governador, que seja adversário político do presidente da República, acabe
nomeando alguém que possa atrapalhar? Isso pode
ser uma tragédia. Você imagina se o Bolsonaro participasse da nomeação das
forças de segurança? Quem tem que indicar o nome para a Polícia Militar do seu
estado é o governador. É uma crise, às vezes, por conta de um problema
gravíssimo que a solução não é mudar quem indica, mas ter uma polícia que
sempre cumpre o seu dever e uma segurança pública eficiente, com pessoas que
tenham capacidade para isso.
Se houver a federalização da Segurança Pública, o presidente da
República e o Congresso vão ser responsáveis pela política de segurança e pela
solução desses crimes? O problema é que as pessoas
estão tão inseguras e tão desesperadas, que começam a ter ideias mirabolantes.
É a hora do bom senso. Imagina se o Ibaneis não mandasse na polícia na gestão passada? A gente tem dois pedidos de CPI, o da Câmara Legislativa — que está mais adiantado — e vai chegar um também no Congresso Nacional. Como isso vai ser trabalhado? Câmara Federal, ela não foi instalada ainda, não se sabe nem o número de assinaturas que vão conseguir colher. É natural a questão de ter CPI. Na Câmara Distrital, já tem 24 assinaturas. Acredito que eles devem, conhecendo o perfil de todos os deputados distritais, ter por objetivo demonstrar para a população que a CLDF está agindo, está atenta aos atos que aconteceram aqui no Distrito Federal. Aqui, não vejo uma CPI política.
Caso o governador fique afastado os 90 dias, como é que vai ser a sua
atuação, assim que os trabalhos voltarem no Legislativo? Estamos
trabalhando muito, lançando o programa Governo nas Cidades, que vai estar, de
forma itinerante, nas regiões administrativas. Nós teremos também um lançamento
na parte de transporte. A gente está estudando gratuidades em algumas áreas
específicas aqui do DF. Queremos dar uma melhorada grande na saúde.
Seu envolvimento com o Bolsonaro, de alguma forma, atrapalha o diálogo
com o atual governo? Acredito que não. As pessoas
precisam respeitar a ideologia. Construí a minha relação no Congresso, como coordenadora
da feminina, dialogando com 79 mulheres. Mulheres de esquerda, de centro e de
direita. Agora, chega o momento da eleição, você tem um lado. Fiz campanha para
o Bolsonaro, viajei com a Michelle Bolsonaro e tenho muito orgulho disso. As
pessoas parecem que agora não podem assumir de que lado ficaram. Trabalhei para
o Bolsonaro, fui eleita no campo da direita e tenho orgulho disso. Agora, nunca
fui desrespeitosa, nunca destratei ninguém e nunca destratei poderes. Respondo
por mim e cada político vai responder pelos seus atos.
A senhora tem conversado com o governador Ibaneis? Não. Eu não
posso conversar com ele, até como uma precaução, por conta da decisão judicial.
Estamos cumprindo a decisão judicial na íntegra. Quando você escolhe uma vice,
você tem que confiar nela. Acho que o governador Ibaneis confia em mim 100%,
sabe da minha lealdade, da minha fidelidade e sabe que eu vou tomar as melhores
decisões para o governo do DF. Num momento como esse, vice serve para isso. Dei
todos os sinais, durante a minha caminhada com o governador Ibaneis, de
fidelidade.
Acha que esse episódio vai desestimulá-lo? O recomeço
do governador Ibaneis é uma continuidade do projeto dele, que está em curso.
Ele não vai encontrar nada parado, vai pegar tudo encaminhado: com as
determinações e com o plano de governo que foi executado por ele. Acredito que
algumas reflexões serão feitas, como a questão do Anderson (Torres), que são
necessárias para que a nossa cidade possa caminhar com mais rapidez.
A questão do Anderson Torres se complicou, em virtude do documento que foi encontrado na casa dele, durante a busca e apreensão, incitando um ato de golpe no Tribunal Superior Eleitoral. Isso complica a situação dele, a manutenção da prisão? Ele vai ter que dar conta de explicar o que era aquela minuta. Mas essa é uma decisão que fica a cargo do Judiciário. Com certeza ele vai ter a oportunidade de se defender.