Ao
longo de quatro décadas o Clube do Choro de Brasília mantém-se como o mais
importante reduto da MPB — instrumental e cantada — na cidade. Inicialmente os
shows eram realizados numa pequena sala, que era depósito do Centro de
Convenções Ulysses Guimarães. Desde 2011 a programação passou a ser
desenvolvida num moderno prédio com a assinatura de Oscar Niemeyer, onde
funciona também a Escola Brasileira de Choro Raphael Rabello, no Eixo
Monumental.
Nos últimos quatro anos a instituição conviveu com dificuldades, por conta do descaso com que a cultura foi tratada pelo governo federal. Mesmo assim sobreviveu com dignidade. Em 2022, por exemplo, celebrou os 60 anos do choro de Brasília.
Sexta-feira
última, a programação foi aberta com uma concorrida apresentação de Zé Renato.
O público, que superlotou o Espaço Cultural do Choro, se entusiasmou ao
assistir à apresentação do cantor, compositor e violonista capixaba-carioca. Em
dois momentos, ele reverenciou grandes mestres da MPB.
Inicialmente
prestou tributo a gigantes do cancioneiro nacional ao interpretar Feitio de
oração (Noel Rosa), Acontece (Cartola), Samba de um grande amor (Chico
Buarque), Coisas do mundo minha nega (Paulinho da Viola) e Diz que fui por aí
(Zé Keti).
Na segunda
parte Zé Renato colocou seu canto, a serviço da obra de Milton Nascimento, com
a abordagem da Lado B Anima e dos clássicos Ponta de Areia e Travessia; e
mostrou em primeira audição Suave é a noite, versão de Nazareno de Brito para
Tender is the night (Sommy Fain e Paul Francis Webster), single de Quando a
noite vem, álbum que lançará em breve. Mas, obviamente, não esqueceu de cantar
canções marcantes do Boca Livre — grupo do qual foi um dos fundadores — como
Quem tem a viola e Toada.
Mas, o ponto alto do recital foi quando Zé Renato
recriou, com a voz de timbre bossa-novista, Beatriz, obra prima do universo da
MPB, composta por dois gênios: Chico Buarque e Edu Lobo. A ovação que ele
recebeu ao final da interpretação foi um reflexo do quanto emocionou os
espectadores.