Em 2004, durante um curso de verão na Escola de
Música de Brasília, vários instrumentistas brasilienses se perguntaram onde
brincariam o carnaval. A resposta à pergunta foi formarem o próprio bloquinho,
a primeira banda de pífanos de Brasília, para ocupar as ruas. E assim nasceu
Ventoinha de Canudo, que fecha quadras e arrasta multidões com a delicadeza do
sopro das flautas. O bloco está celebrando 20 anos de carnaval de rua em
Brasília.
A base do Ventoinha é formada por um grupo de
músicos profissionais: Dani Neri, Tarzan, Ivaldo Gadelha, Davi Abreu, Juliana
Sarkis, Jorge Lacerda, Fernando Rodrigues e Pedro Tupan.
“Temos uma vida cultura intensa, de militância e
resistência cultural”, ressalta Dani Néri, uma das fundadoras do Ventoinha de
Canudo. “Queremos honrar os ritmos nordestinos, o baião, o xote, os
caboclinhos, os afoxés e as marchinhas de carnaval. Bebemos na fonte dos
mestres e agregamos as nossas misturas brasilienses.”
Ventoinha de Canudo surgiu em uma época em que o
carnaval de Brasília era muito restrito a clubes ou a embalos de folia paga. A
concentração ocorre sempre na chamada Babilônia, conjunto comercial da
Entrequadra 205/206 Norte. De lá, parte o cortejo pela quadra e pela
tesourinha: “O Ventoinha é um bloco em que conseguimos reunir desde bebês de
colo até vovozinhas. Promovemos a integração e direito à cidade. Não tínhamos
nada de alvará ou de segurança a nosso favor. Quem fecha as ruas são as
crianças e as famílias. É legítimo ocupar as ruas.”
Em 20 anos de existência o grupo marcou várias
gerações. As crianças da primeira leva de brincantes são adultos e têm filhos
que participam do Ventoinha de Canudo: “Nós estamos convocando novos festeiros,
novas crianças interessadas em tocar pífanos. A resistência do carnaval em
Brasília é a resistência dos músicos. Mas precisamos ter apoio e patrocínio
para firmar essa tradição na cidade”.
Ao longo do ano, o Ventoinha de Canudo costuma ser
convidado para animar festas ou eventos. Mas não tem sede, os integrantes se
unem para fazer o carnaval nas ruas. “Fazemos o percurso da tesourinha,
ocupamos um espaço que nunca é ocupado por pessoas. Vamos a pé com as crianças
e gritamos: ‘ah uhru, a tesourinha é nossa.’ É uma ocupação graciosa e feliz.
Essa forma de ocupação e pertencimento é didática para as crianças de
Brasília”.
A participação das crianças é algo que ocorreu
naturalmente. Em primeiro lugar, Ventoinha de Canudo é um grupo acústico, não
tem trio elétrico: “É um bloco de pé no chão, toquei vários anos de barrigão de
grávida. Levei meus filhos, as crianças ficam atraídas. É um bloco para as
famílias curtirem o carnaval de maneira aconchegante, sem confusão”.
Dani integra a Agrupação Amacaca. Em 2020, Hugo
Rodas saiu com o Ventoinha de Canudo. E, neste ano, depois de duas temporadas
de isolamento imposto pela pandemia, o grupo saiu pela quadra, tocou no Setor
Carnavalesco Sul, no Espaço Cultural da 508 Sul e na Praça dos Prazeres: “Não
dependemos de nada para fazer um carnaval bonito acontecer. Mas estamos buscando
apoio para que a festa seja ainda mais bacana. É muito especial a gente fazer
parte da identidade cultural do carnaval de Brasília, que está cada vez mais
forte.”