Razões
para a instalação da Comissão Parlamentar de Investigação (CPI) referente aos
acontecimentos de 8 de Janeiro, existem de sobra: “Democracia não suportará
política de apaziguamento”; “A defesa da democracia é inegociável”; “A
democracia brasileira não será abalada e, muito menos, destruída por
criminosos. A sua defesa e de suas instituições é inegociável”; “Houve
conivência e omissão criminosa de autoridades nos atos golpistas”, afirmou o
guardião da Constituição.
Por outro
lado, as autoridades jurídicas do país ainda estão boquiabertas com a prisão
dos “terroristas” sem direito a audiência de custódia, sem direito a advogados
e outros direitos básicos, de centenas de pessoas, idosos, doentes, dependentes
de medicações. Todas elas amontoadas num depósito insalubre da Polícia Federal,
como entulhos a serem descartados, repetindo cenas que não se via desde que
foram revelados os crimes nazistas depois da Segunda Grande Guerra.
Por si só
esse deveria ser o leit motif humanitário a ensejar não apenas uma CPI, mas
para que sirva de lição a todos aqueles que urdiram toda essa página vergonhosa
de nossa história recente. Em 2005, ouvia-se da fala de um torneiro mecânico: “
A desgraça da mentira é que você passa a vida inteira contando mentira para
justificar a primeira que você contou”. Esse é de fato um episódio, que, por
suas consequências desumanas e ilegais que recaíram sobre os acampados em
frente ao QG do Exército, deve ser esclarecido, ponto por ponto. O cipoal de
mentiras que se seguiram a esses fatos, precisam ser desmontados pelos
parlamentares que representam a população do país.
Também a
velocidade imposta àqueles acontecimentos, justamente de quem preza a venda nos
olhos e a balança, atropelando todo o ritual processual básico, impediram que
um mínimo de clareza e racionalidade jurídicas viesse à tona, submergindo todo
aquele episódio numa narrativa unilateral, que, por suas consequências
imediatas e até mediáticas, criaram o que se poderia definir como factóides a
favor do novo mandatário que se instalava naquele momento. Com isso, seguiu-se,
em cascata, uma série de medidas nitidamente repressivas, vindas das
autoridades para abafar quaisquer sinais e sobrevida surgidas da oposição.
Agora,
como se não bastasse, pelos vídeos espalhados pelo mar da internet com toda
aquela pantomima ardilosamente arquitetada contra os acampados, eis que se
delineia no horizonte alguma luz passível de clarear aqueles episódios. Essa
luz, obrigando a Justiça a reconhecer a arbitrariedade de centenas de prisões,
torna-se ainda mais fulgurante quando se verifica o empenho nervoso com que a
atual administração do Brasil volta-se contra a realização da CPI, numa atitude
suspeita para abortar a tão temida Comissão.
A mentira,
dessa vez, é que a CPI possa atrapalhar votações importantes para o a atual
gestão, como é o caso da revisão dos tributos, visando, como se sabe, um
arrocho maior na carga tributária. Oferecimento de cargos no segundo escalão
como o Banco do Nordeste, Codevasf e outros órgãos e mesmo a ameaça da não
liberação de emendas parlamentares estão no cestão de ofertas para enterrar a
CPI. Estranhamente tudo para impedir que a verdade se apresente como ela é,
capaz de fazer ruir os castelos de areia da mentira, acabando de vez com essa
fantasia do marketing canhoto, para quem toda luz jogada sobre o partido e os
seus, é um golpe. Um golpe dos raios de luz.
Vivendo e aprendendo: Alguns parlamentares divulgaram em suas bases que coordenariam importantes comissões. Acontece que as negociações correm depois das sugestões e até dos convites. Uma surpresa ingrata para quem inicia os passos na política.