Enganam-se
redondamente aqueles que acreditam que as declarações, cada vez mais
destrambelhadas do atual presidente da República, ajudam politicamente as
oposições. Não ajudam, porque não criam nessas forças antagônicas o que mais
seria necessário, que é um sentido de coesão ou de um projeto unificado e
ordeiro de oposição, capaz de transformar esses grupos numa frente ampla
antenada e proativa para exercer o que se espera desses líderes.
A
verdade é que boa parte daqueles que se elegeram à sombra de Bolsonaro ainda
não demonstraram o que vieram fazer no Parlamento. São poucos os políticos e
sempre os mesmos que assumem as tribunas da Câmara e do Senado, para discursar
contra as insanidades produzidas todos os dias pelo atual governo. Há, de fato,
um marasmo geral, como se todos estivessem esperando algo extraordinário para
se posicionar. Os absurdos que acontecem diariamente, só ocorrem porque a
oposição ainda não se encontrou. Será que se unirá ainda nesta legislatura?
Enquanto
nada de significativo acontece no Congresso, o governo vai comendo pelas
beiradas, articulando ações, desmotivando, com benesses, parlamentares
suscetíveis de serem dobrados ou amolecidos, sabotando a oposição e aparelhando
o que pode, ou desarticulando os órgãos de combate a corrupção. Se não são as
oposições que ganham relevo com as insanidades do atual governo, quem seriam os
beneficiários diretos desse desgoverno?
Há
os que acreditam ser o mercado, que segue junto com o aumento de juros. Outros
acreditam ser as mídias oficiais, que estão sendo beneficiadas como nunca, para
maquiar uma situação que beira ao caos. Outros ainda acreditam que todo esse
descompasso do governo beneficia apenas especuladores e aqueles que apostam no
caos na economia. Nenhum desses angariam tantos benefícios com as ações
incautas do atual governo quanto o o próprio vice-presidente, que se mantém
afastado de polêmicas, agindo nos bastidores para dar um certo ar de seriedade
a tudo o que o titular faz e fala.
De
fato, Alckmin sabe o que está fazendo e a razão do que faz. Pode ser leal ao presidente,
mas é bem mais leal a si mesmo e tem propósitos para agir assim. Quanto mais o
atual chefe do Executivo deixa escapar suas pérolas colecionáveis, mais e mais
sobe a cotação do vice. Na realidade Alckmin não precisa fazer grande esforço
para se manter como a única ilha longe do vulcão. Segue pela lei da inércia,
empurrado para o alto pelos ventos da sandice.
Outro
comandante que, com certeza, vai se beneficiando com os tropeços verbais de
ação do atual governo, é o presidente da Câmara, que vê, a cada dia, sua
posição política reforçada pelo controle que exerce tanto entre os líderes de
bancada, quanto na pauta de votação de emendas.
Alckmin
e Lira formam hoje os nomes mais fortes da República, ao lado, é claro, de
alguns ministros do Supremo. O resto é o resto e dança conforme regem os
maestros. Essa dupla permanecerá em paz, enquanto for conveniente para ambos.
Caso o projeto do semi-presidencialismo venha a se tornar uma realidade, como
quer e sonha Lira, a situação pode mudar.
Caso prossigam os atropelos e as parlapatices do atual mandatário, revelando, como muitos falam à boca pequena, uma certa decrepitude ou senilidade, a saída poderá ser feita apenas por essas duas passagens estreitas tendo cada uma delas a figura ou de Lira, ou de Alkmin. É o que dizem: o presente rabisca o futuro, sempre traçado pelo passado.
A frase que foi pronunciada: “Privatizar o Porto de Santos é a diferença entre a política internacional e a pobreza na Baixada.” (Governador Tarcísio de Freitas)